quarta-feira, 20 de abril de 2022

Facção mandava matar e roubar

 

Segundo o Ministério Público de Mato Grosso do Sul, os advogados aliados ao Primeiro Comando da Capital repassavam as ordens da organização criminosa

CELSO BEJARANO



A facção Primeiro Comando da Capital (PCC) gravita com mais força na criminalidade em Mato Grosso do Sul desde 2016. 


Favorecida, segundo investigação do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), por ao menos 11 advogados, todos denunciados à Justiça, os integrantes da organização criminosa mandavam, de dentro das penitenciárias, matar, roubar e punir os desafetos.  


Os advogados foram denunciados no âmbito da Courrier, operação do Gaeco que pôs fim a um esquema conduzido pelos defensores contratados pela facção para agirem como se fossem parte do crime organizado. Os advogados, diz o Gaeco, agiam como uma espécie de pombos-correio dos criminosos encarcerados.


Foi o PCC, segundo apurações da polícia paraguaia, que matou fuzilado o então narcotraficante Jorge Rafaat em uma das ruas de Pedro Juan Caballero, a quadras da sul-mato-grossense Ponta Porã, em junho de 2006. 


Tido como o “rei do tráfico” de armas e drogas, o alvo da facção morreu cercado por seguranças, a bordo de um veículo “superprotegido” à prova de balas.  


Ocorre que o armamento que os supostos integrantes da organização criminosa tinham nas mãos era um arsenal capaz de derrubar um avião. Meses depois do brutal episódio, um líder do PCC em MS, para impor “força”, mandou auxiliares seus arrancarem o corpo de Rafaat do túmulo e por fogo.


FUGA DO REI

Após a morte de Rafaat, cresceram em MS, principalmente na região de fronteira com o Paraguai, as execuções por meio do chamado “tribunal do crime”.


De dentro das prisões, membros do PCC determinavam, feito um julgamento, quem deveria morrer. 


Ano passado, até o mês de outubro, ao menos 180 pessoas foram assassinadas na região de fronteira – 74 morreram em solo brasileiro. Como explicação, a polícia justifica os crimes em decorrência da disputa por rotas de tráfico de drogas.  


Algumas vítimas foram mortas dentro de sacos plásticos, degoladas, fuziladas ou torturadas. Ano passado, em abril, o PCC demonstrou ser mais forte do que qualquer outra facção em MS.  


Supostamente por medo das ameaças do PCC, Fahd Jamil Georges, de 80 anos, tido como o Rei da Fronteira por cinco décadas – a maior parte de sua vida morou em Ponta Porã – e que vivia foragido há um ano, bateu à porta de uma delegacia para se entregar.


Fahd, que ficou rico contrabandeando café entre 1970 e 1980, segundo a polícia, também imperava no tráfico de armas na fronteira. 


Ele vivia foragido por ter sido denunciado à Justiça por corrupção, homicídio, organização criminosa, tráfico de arma e obstrução de Justiça. Hoje, Fahd vive em prisão domiciliar, em Campo Grande, a 300 km da região que dominava.


Há casos, também, em que o PCC manda matar por discórdias corriqueiras. Três anos atrás, Vagner Hack, então com 27 anos de idade, foi achado morto, em Dourados, com as mãos e os pés atados. A vítima não teria pagado dinheiro que havia emprestado de um integrante do PCC.  


SINTONIA DOS GRAVATAS

De acordo com a denúncia preparada no âmbito da Courrier (correspondência, em francês), também conhecida como Sintonia dos Gravatas, os advogados conversavam com integrantes do PCC, presos ou soltos, por telefone, WhatsApp ou pessoalmente.


Alguns dos denunciados, segundo o Gaeco, até mexiam com dinheiro a mando da facção, que seria a dona do recurso. E era deles também a missão de mandar recados de um “faccionado para outro”.  


Por essas razões, o Gaeco denunciou os advogados pelos crimes de organização criminosa e impedir ou embaraçar a investigação de infrações penais que envolvam organização criminosa, inclusive por plano de atentado contra membro do Ministério Público, bem como de outros do mesmo gênero eventualmente cometidos e cujas práticas sejam reveladas no curso da investigação.


INVESTIGAÇÃO

Conforme denúncia do Gaeco, as ordens para matar desafetos do PCC foram estendidas a promotores, delegados e juízes que atuam nas investigações com foco nos integrantes da organização criminosa, com ampla atuação na fronteira de Mato Grosso do Sul. 


Com informação do Portal correio do Estado

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