segunda-feira, 18 de abril de 2022

Chefe de Cartório do Fórum ajudava célula jurídica do PCC

 


Dos 29 denunciados pelo Gaeco, 11 eram advogados que seriam cúmplices da organização criminosa

CELSO BEJARANO


Um servidor do Fórum de Campo Grande está entre os investigados da Operação Courrier (correio, em inglês), deflagrada há duas semanas pelo Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), braço do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS). 


Segundo a investigação, o chefe de Cartório de uma das sessões judiciais do Fórum contribuía com advogados envolvidos com o Primeiro Comando da Capital (PCC), fornecendo-lhes senhas de sistemas de segurança pública.


A ação denunciou ao todo 29 pessoas, entre as quais 11 advogados que seriam cúmplices da maior facção criminosa do Brasil, o PCC.  


De acordo com o Ministério Público, era de um dos advogados o dever de esquadrinhar os processos contra os eventuais parceiros do PCC, para isso, ele tinha a ajuda do funcionário do Fórum.


Na denúncia do Gaeco, de 763 páginas, às quais o Correio do Estado teve acesso, aparecem diálogos traiçoeiros envolvendo o servidor da Justiça.  


Em um trecho da denúncia, os investigadores do Gaeco citam a ligação do advogado Bruno Ghizzi (um dos advogados suspeitos de envolvimento com o PCC) com Rodrigo Pereira da Silva Corrêa, então chefe de Cartório da 1ª Vara de Execuções Penais de Campo Grande.


Na peça investigatória é dito que o chefe do Cartório proporcionou a “Bruno Ghizzi acesso à plataforma Sigo e a documentos sigilosos relacionados ao PCC, estes últimos também identificados pela criação de uma pasta, no próprio sistema do Poder Judiciário, com documentos sigilosos referentes a presos que tiveram sua inclusão nos documentos sigilosos relacionados ao PCC, estes últimos também identificados no Sistema Penitenciários Federal”.


No decorrer do documento, Rodrigo Pereira, então servidor do judiciário, “expõe haver concedido a Bruno Ghizzi não só suas credenciais de acesso ao Sistema Integrado de Gestão Operacional (Sigo), como também ao Sistema Integrado de Administração do Sistema Penitenciário (Siapen), pelo menos desde o ano de 2020”. 


Além da senha entregue, Rodrigo conversava com advogados do PCC via WhatsApp.


Em outro ponto, os investigadores mostram que Ghizzi “agia no sentido de levar recados de seus clientes custodiados para fora da unidade prisional, comprovando uma das formas de lideranças de organizações criminosas se comunicarem com outros faccionados, bem como enviar ordens ou negociar produtos de crime, mormente quando estão em presídios que não possuem acesso a aparelhos celulares, como na unidade prisional da Gameleira fechado e presídio federal”.


Gameleira é um presídio inaugurado em agosto de 2021, em Campo Grande, que consumiu perto de R$ 20 milhões para comportar 600 internos e, em razão do rigor com a segurança, já surgiu com apelidos de desanimar os encarcerados: “supermáxima”.  


PLATAFORMAS

O Sigo é uma ferramenta que permite a informação integrada e em tempo real entre as polícias Civil, Militar, Corpo de Bombeiros, os sistemas socioeducativo e prisional, etc., compilando dados extremamente sensíveis e de destinação exclusiva à segurança pública, mantendo convênio igualmente com o Ministério Público e o Poder Judiciário estadual.


Já o Siapen, cuja senha o servidor do Judiciário também entregou ao advogado, possibilita controlar e inserir o registro das atividades realizadas com o interno dentro e fora da unidade carcerária, permitindo também a interação dos diversos setores da unidade; faz o controle de entrada e saída de visitantes; de atendimentos oferecidos aos detentos; possui módulos específicos para o gerenciamento de patrimônio, armamento e setor de inteligência; além de disponibilizar a visualização de diversos tipos de relatórios, fornecendo informações para análise e tomadas de decisão.


Ou seja, o advogado do PCC, segundo investigadores do Gaeco, repassava as importantes informações a pessoas ligadas ao bando, graças à cooperação de Corrêa, que trabalhava no Fórum há 15 anos e tinha um salário de pouco mais de R$ 10 mil. 


O servidor foi preso e afastado do cargo. Há processos pedindo a exoneração dele.


Depois desse trecho, os investigadores especificam que “fica claro que os denunciados Rodrigo Pereira da Silva Corrêa e Bruno Ghizzi montaram uma parceria, em prol da facção criminosa de que fazem parte”.


O Gaeco também menciona outras questões causadas pelas entregas das senhas ao advogado, como informações acerca da transferência de lideranças do PCC para o Sistema Penitenciário Federal.


 

Sintonia dos Gravatas

O advogado Bruno Ghizzi e uma colega de profissão também citada como beneficiada pelas senhas do servidor do Fórum foram presos no dia da deflagração da operação, em 25 de março, e até este fim de semana seguiam detidos.


Com informação do Portal Correio do Estado

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