FOLHAPRESS
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a atual fragilidade fiscal não vem apenas de ruídos em relação ao possível desajuste das contas públicas, mas também do questionamento do mercado sobre a capacidade de crescimento estrutural do Brasil.
"A grande fragilidade fiscal do momento não está ligada aos movimentos de curto prazo de melhora [das contas públicas], mas a qual é a capacidade que o país tem de crescer", disse em evento organizado pelo TCU (Tribunal de Contas da União) nesta terça-feira (14).
Ele ressaltou que o crescimento estrutural do Brasil está abaixo de outros países emergentes.
"Por que nas simulações de curva, quando coloco crescimento mais baixo e taxa de juros mais alta, a trajetória da dívida explode", afirmou.
"Esse prêmio [de risco] fiscal não está 100% associado aos ruídos de curto prazo, que se criou um gasto permanente e tem que identificar a fonte, parte sim, mas a questão qual é a capacidade que o país tem de crescer. Se o país não crescer, não vou conseguir atingir a sustentabilidade fiscal", reiterou o presidente do BC.
Ele se referia ao novo programa social do governo, o Auxílio Brasil, que substitui o Bolsa Família. O mercado recebeu mal a manobra do governo para ampliar gastos para financiar o benefício e driblar o teto de gastos.
Campos Neto voltou a falar que o país pagou um preço alto por um desvio fiscal que foi baixo. "Isso veio da percepção de que algo estrutural estava acontecendo", concluiu.
"Claramente houve a percepção de que medidas estruturantes importantes para o brasil, como o tema dos precatórios e da reforma tributária estavam ligados ao programa de extensão do enfrentamento à pandemia", avaliou.
"A forma como foi feita [a PEC dos precatórios] de mudar o indexador [de correção] gerou algum questionamento se é violação do arcabouço ou não, não cabe ao BC dizer [...] É importante que o governo sinalize qual é tipo de arcabouço fiscal que será utilizado em médio e longo prazos", destacou.
Segundo ele, os agentes econômicos estão prevendo crescimento mais baixo para os próximos anos. "Em relação ao nível do PIB [Produto Interno Bruto], voltamos para 2014", destacou.
Na apresentação, Campos Neto mostrou que há movimento de alta de juros em todo o mundo. "Esse aperto monetário global tem uma implicação para o mundo emergente que é secar a liquidez ainda mais. Lembrando que o Brasil precisa desse investimento externo para gerar crescimento uma vez que a parte fiscal basicamente está exaurida", ponderou.
Para o titular do BC, os bancos centrais tiveram dificuldade na leitura da conjuntura e por isso não conseguiram prever a alta disseminada da inflação global e esperavam que fosse temporária.
Campos Neto ressaltou que o Brasil está em destaque em relação à alta dos preços, mas que os núcleos (sem os choques de alimentos, energia e combustíveis) estão dentro da média dos países emergentes.
"O imposto mais maligno é a inflação, é muito importante agir de forma rápida para abortar o processo de desancoragem [das expectativas]", pontuou.
Sobre câmbio, o presidente do BC reforçou que o regime é flutuante e que a autoridade monetária só vai intervir quando houver demanda no mercado por liquidez, em momentos de muita volatilidade.
Ele alertou para o risco de que uma intervenção maior que a necessária leve à migração de investidores que querem se proteger para outros instrumentos, como juros longos, o que geraria distorções no mercado de câmbio.
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