quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Com a decisão de encerrar a produção de automóveis no Brasil, para a Ford importar é o que importa

 



Daniel Dias/AutoMotrix

A Ford Motor Company anunciou nesta segunda-feira, dia 11 de janeiro, que a Ford Brasil encerrará as operações de manufatura no país. Ao mesmo tempo, a gigante com sede em Detroit, no Estado norte-americano de Michigan, promete que continuará atendendo aos consumidores na América do Sul com um portfólio de veículos conectados e eletrificados, incluindo utilitários, picapes e comerciais, vindos da Argentina, do Uruguai, do México, dos Estados Unidos e da Europa. 


A Ford pretende atender à região com sua gama global de produtos, como a picape Ranger produzida na Argentina, a nova Transit que virá do Uruguai e o Bronco importado do México. A montadora fundada por Henry Ford em 1903 assegura que manterá o Centro de Desenvolvimento de Produtos em Camaçari (BA), o Campo de Provas, em Tatuí (SP), e sua sede administrativa sul-americana na capital paulista. A empresa também afirma que serão mantidos a assistência ao consumidor com operações de vendas, serviços, peças de reposição e garantia.


“A Ford está presente há mais de um século na América do Sul e no Brasil e sabemos que essas são ações muito difíceis, mas necessárias, para a criação de um negócio saudável e sustentável. Estamos mudando para um modelo de negócios ágil e enxuto ao encerrar a produção no Brasil, atendendo aos nossos consumidores com alguns dos produtos mais empolgantes do nosso portfólio global. Aceleraremos também a disponibilidade dos benefícios trazidos pela conectividade, eletrificação e tecnologias autônomas suprindo a necessidade de veículos ambientalmente mais eficientes e seguros no futuro”, comunicou oficialmente Jim Farley, presidente e CEO da Ford. Lyle Watters, presidente da Ford na América do Sul, afirmou em dezembro do ano passado que pretende vender no Brasil o primeiro SUV 100% da marca, o Mach-E. Como ele é feito no México, a logística e os custos são simples porque o Brasil tem um acordo comercial com o país da América do Norte.


A produção de automóveis já foi encerrada em Camaçari e Taubaté, mantendo apenas a fabricação de peças por alguns meses para garantir disponibilidade dos estoques de pós-venda. Já a fábrica da Troller em Horizonte (CE) continuará operando até o último trimestre deste ano. Como resultado, a Ford encerrará as vendas do EcoSport, do Ka e do T4 assim que terminarem os estoques. As operações de manufatura na Argentina e no Uruguai e as organizações de vendas em outros mercados da América do Sul, conforme a Ford, não serão impactadas. 


O Ministério da Economia, por meio de nota, lamentou a decisão da Ford. De acordo com a pasta, o anúncio da montadora reforça a necessidade de uma rápida implementação de medidas para melhorar o ambiente de negócios e de avançar nas reformas estruturais. Para o ministro Paulo Guedes, a medida da Ford destoa de uma “forte recuperação” no setor industrial brasileiro. “O ministério trabalha intensamente na redução do Custo Brasil com iniciativas que já promoveram avanços importantes. Isso reforça a necessidade de rápida implementação das medidas de melhoria do ambiente de negócios e o avanço nas reformas estruturais”, seguiu o comunicado do Ministério.


 A Anfavea, entidade que representa as montadoras instaladas no Brasil, atribuiu a ausência de medidas capazes de aliviar o custo de produção no país para justificar o anúncio da Ford. Já a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) cobrou a necessidade de redução do chamado Custo Brasil. “Precisamos urgentemente fazer as reformas estruturais, baixar impostos e melhorar a competitividade da nossa economia para atrair investimentos e gerar os empregos de que o Brasil tanto precisa”, destacou a entidade, que prevê a saída de outras montadoras do mercado brasileiro.


A decisão da Ford dá um ponto final a mais de cem anos de investimentos no Brasil. A primeira fábrica de automóveis do país foi da marca norte-americana, em 1919, com a empresa abrindo no centro de São Paulo, produzindo o Modelo T, popularmente conhecido como Ford Bigode. As peças eram importadas, com a montagem finalizada na capital paulista. Mas desde 1904, carros da marca já desembarcavam no Brasil, via Estados Unidos. 


Em 1953, foi aberta a fábrica do Ipiranga. Em 2001, no último grande investimento industrial da marca no país, foram abertas as portas de Camaçari, com a produção do Ka, do novo Fiesta e do EcoSport. A decisão da Ford de fechar as fábricas em Taubaté, em Camaçari e em Horizonte eliminará 5 mil empregos no Brasil e na Argentina. Em 2020, a Ford foi a quinta marca em vendas no Brasil, com 119.454 automóveis emplacados e 19.804 comerciais leves. 


Pelo comunicado da Ford, a proposta é abastecer a rede de concessionárias brasileiras apenas com veículos importados, como fazem marcas como a sul-coreana Kia e a sueca Volvo, que não produzem automóveis no Brasil. 


No mês passado, a Mercedes-Benz anunciou que encerrará a montagem de automóveis no país, onde fabricava o sedã Classe C e o utilitário esportivo GLA na cidade paulista de Iracemápolis, concentrando suas atividades industriais na produção de caminhões, furgões e chassis de ônibus em sua unidade industrial em São Bernardo do Campo. A linha de automóveis comercializada pela Mercedes-Benz no Brasil não terá alteração, porém, todos serão importados.

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