sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Rock in Rio 2019: Red Hot Chili Peppers prova que relações grudentas podem funcionar

Pedro Antunes                          Foto: Tine/ I Hate Flash)
Rolling Stone        


O começo é o mesmo. Uma baguncinha boa com baixo, guitarra e bateria entrelaçados, seguido de um clímax logo de cara, com “Can’t Stop”, clássica do disco By The Way, de 2002. Depois, uma novidade ou outra, até mais um momento de apoteose. Não é inédito, mas, mesmo assim, é bom.

O Red Hot Chili Peppers voltou ao Rock in Rio de forma consecutiva, em 2017 e 2019. Nesse intervalo, ainda veio a São Paulo para o Lollapalooza 2018.


Tal qual aquele amor grudento, que ocorre quando as partes não se afastam, Red Hot Chili Peppers e Brasil provam que foram feitos um para o outro. E que, pelo visto, ainda não enjoaram.

Banda responsável por encerrar o Palco Mundo do Rock in Rio 2019 na noite de quinta-feira, 3, no retorno das atividades do festival depois de três dias de folga, Red Hot (para os mais novos) ou Chili Peppers (para quem é das antigas) é capaz de entregar uma performance pulsante, mesmo que não seja inteiramente nova.


Isso sé deve a dois fatores: 1) a excelência dos músicos como solistas, protagonistas nos seus próprios instrumentos; 2) e um repertório que, mesmo quando antigo, segura um público massivo como esse do Rock in Rio. O público de um festival como esse, aliás, é bastante receptivo à canções antigas com rotação constante nas rádios.

São alguns momentos inéditos, como o fato da banda estrear a execução da música “Sikamikanico” ao vivo, ou o fato de que a noite do show também marcava o aniversário do guitarrista Josh Klinghoffer, mas nada que sairia muito do roteiro que era esperado.


Já a barulhenta música “The Power of Equality”, do disco Blood Sugar Sex Magic (1991), foi dedicada à Amazônia.

No limite do aceitável do virtuosismo em um palco gigante, o Red Hot Chili Peppers explorou também as possibilidades dos instrumentos de cada um dos integrantes, durante as músicas ou nos intervalos entre elas.

Flea, aliás, é um fenômeno de palco, assim como em estúdio. Faz o baixo pulsar no peito, ora grooveando, ora melódico. Só não se faz entender quando fala ao microfone, mas, em dado momento, isso deixa de incomodar.

Os climaxes, sem dúvida, estão em músicas como “Californication”, “By The Way” e “Give It Away”. Haverá quem reclame da ausência de outros hits conhecidos - “Otherside” entre eles -, mas em certo momento da vida é preciso aceitar que sua banda favorita talvez não aguente mais tocar as mesmas músicas todas as noites depois de décadas de estrada.

Elogiável, aliás, é a capacidade do Red Hot Chili Peppers evitar alguns caminhos musicais mais fáceis. Nem mesmo os hits se mantêm iguais às versões originais. Há um quê de novidade até neles.

Por isso, sem se transformar demais, e mantendo a presença constante em terras brasileiras, o Red Hot Chili Peppers prova que ser grudento não é necessariamente ruim - desde que com moderação.

Repertório do show do Red Hot Chili Peppers no Rock in Rio 2019:

“Can’t Stop”
“The Zephyr Song”
“Dark Necessities”
“Dani California”
“Hey”
“Right on Time”
“The Adventures of Rain Dance of Maggie”
“Sikamikanico”
“Go Robot”
“Californication”
“Just What I Needed”
“Aeroplane”
“The Power of Equality”
“Soul to Squeeze”
“By the Way”
“Goodbye Angels”
“Give it Away”

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