sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Médico desviou R$ 3,4 milhões do Hospital Regional

FÁBIO ORUÊ

“A higienização é péssima”, disse uma dona de casa, de 52 anos, que preferiu não ter a identidade revelada, e estava com a neta de 2 anos desde às 8h de ontem (3) no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul Rosa Pedrossian (HR).

Por mês a unidade consome R$ 30 milhões dos cofres do Estado, mesmo assim o local apresenta pouca resolutividade para os pacientes. No inícido da tarde, por volta das 14h quando falou com a reportagem ela disse que voltaria para Três Lagoas, onde mora. “Tem um fraldário, mas a higiene é ruim. A gente já passa muito tempo aqui, deveria ser melhor cuidado”, disse ela, que estava se referindo também a demora do atendimento.

“Para que marcam uma consulta para às 8h, se o médico só vai chegar às 11h, porque foi isso que aconteceu. Eu cheguei e me falaram que a pediatria era só a tarde. Se marcam para um horário, o médico deveria estar aqui, né?”, indagou ela, que contou que durante a espera também ouviu de várias pessoas que o atendimento é ruim.

O relato da dona de casa, que acompanha a neta nas consultas com o pediatra, é o mesmo de diversos pacientes e familiares de pessoas internadas no hospital. Os problemas de estrutura, com profissionais, falta de mantimentos, equipamentos e recursos são comuns.

Em meio a todo esse “caos” que acompanha a unidade há vários anos, o Ministério Público Federal (MPF/MS), aceitou a denúncia contra o médico cardiologista Mércule Pedro Paulista, 48 anos, e mais quatro empresários pelo desvio de R$ 3,494 milhões do HR provenientes de recursos federais, com fraude em licitações e favorecimento.

Além de Mércule, os empresários Pablo Augusto de Souza e Figueiredo, 46, da Amplimed Distribuidora de Produtos Hospitalares, Klaus de Vasconcelos Rodrigues, 48, e Ramon Costa e Costa, 31 da CAT Stent Distribuidora de Produtos Hospitalares e Emerson Jansen de Vasconcelos, 47, da Vasconmed Comércio de Produtos Hospitalares, também foram denunciados.

INVESTIGAÇÃO

Em 2017, um inquérito policial foi instaurado para a apuração de possíveis crimes ocorridos no âmbito do HR e do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (Humap-UFMS), envolvendo a aquisição de produtos na área de hemodinâmica.

A investigação comprovou um esquema de contratações diretas e procedimentos licitatórios destinados à aquisição de produtos para os hospitais, em favor da Amplimed, que pertence à Pablo.

A máquina de hemodinâmica que estava no HR era da empresa Funjicon, que teve o contrato encerrado em 2013. Mas em 2016, o médico pediu a urgência na compra do equipamento, mesmo sem ter feito nada em relação ao problema nos outros anos.

Para esconder o esquema, duas empresas apresentaram propostas, a Vascomed e CAT Stent. Ambas têm ligação indireta com a Amplimed - Klaus é o contador da Amplimed e Pablo e sua esposa são sócios da CAT. Além disso, Ramon é funcionário de Klaus em seu escritório de contabilidade.

Além do equipamento, foi pedido também produtos, como cateteres, introdutores e stents, da Amplimed sem licitação e com preços acima do mercado. “Embora Mércule tenha apontado urgência apenas no tocante à substituição da máquina de hemodinâmica, o termo de referência que instruiu a solicitação de contratação emergencial, elaborado por ele e pelo servidor Rehder dos Santos Batista, indevidamente previu também a aquisição de produtos de hemodinâmica (como cateteres, introdutores e stents), o que deveria ser objeto de processo licitatório próprio”, diz o documento.

Ambos, Mércule e Pablo são amigos há quase uma década, como reconhecido por eles. Segundo a denúncia, o médico ganhou vantagens, como passagens aéreas e hospedagens, para beneficiar a empresa de Figueiredo. Mércule e sua esposa também foram fiadores de Pablo e de sua mulher na locação do imóvel comercial em que funciona a filial da referida empresa.

Os denunciados terão que indenizar o dano causado no valor de R$ 4,534 milhões, acrescido de juros e correção monetária - taxa SELIC - incidentes a partir da data do prejuízo.

CENTRO DE PROBLEMAS

Enquanto o médico, que tinha o cargo de chefe do setor de hemodinâmica do HR, desviava o dinheiro, que teria acontecido entre 2016 e 2017, pacientes esperavam na fila para realização de cirurgias, por falta de equipamentos ou materiais.

Os sucessivos problemas enfrentados pelo hospital, gerido pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) incluem falta de alimentação  para pacientes - e quando oferecida, muitas vezes ruim e de má qualidade -, também há relatos de falta de  remédios e produtos hospitalares, entre outras situações.

A atual diretoria do HR assumiu em 9 de janeiro de 2019. Em 28 de fevereiro de 2019, foi publicado decreto que institui o plano de Ação Emergencial, com objetivo de regularizar os estoques de medicamentos, de insumos e dos demais materiais necessários ao atendimento dos pacientes usuários deste hospital.

Segundo assessoria, após a publicação do plano de Ação Emergencial, a diretoria administrativa da unidade realizou levantamento averiguando as necessidades de cada setor. Com isso foi realizado diagnóstico da situação.


Reportagem publicada pelo Correio do Estado no dia 30 de agosto mostrou que relatório feito por técnicos do hospital Sírio-Libanês, de São Paulo, apontou que o HRMS tem estrutura organizacional fraca e infraestrutura deficiente.

O diretor-presidente do HR, Márcio de Souza Pereira, disse na época que há necessidade de novas parcerias e adequações em setores.
Com informação do Portal Correio do Estado

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