sábado, 2 de fevereiro de 2019

Estreia: Estação do diabo

Cine web

Ficha técnica
Nome: Estação do diabo
Nome Original: Ang panahon ng halimaw
Cor filmagem: Preto e Branco
Origem: Filipinas
Ano de produção: 2018
Gênero: Drama, Musical
Duração: 234 min
Classificação: 12 anos
Direção: Lav Diaz
Elenco: Piolo Pascual, Pinky Amador, Shaina Magdayao

Estação do diabo é um musical do filipino Lav Diaz – uma informação que, como se sabe, quer dizer filme longo, e, no caso, 3 horas e 54 minutos, o que é pouco comparado com Do que vem antes (5 horas 38 minutos) ou, então, Evolução de uma família filipina (9 horas). Por isso, é curioso ver como o cinema de longa duração do cineasta se insere num gênero com regras tão definidas como o musical. O resultado é, ao mesmo tempo, tipicamente Diaz, mas também diferente – o que pode desagradar parte da fanbase.

Como é constante em sua filmografia, aqui a força motriz é a história de seu pais e suas contradições – um relato de exploração e pobreza, em meio a turbulência política e social. O filme é classificado pelo cineasta como uma opera rock – embora os termos “opera” e “rock”, no seu dicionário, tenham definições bem peculiares. A narrativa é simples e direta – as terríveis consequências na vida de civis da ditadura de Ferdinand Marcos, no final dos anos de 1970 -, e tudo isso musicado, na maior parte do tempo,  sob o ponto de vista de um poeta, Hugo Haniway (Piolo Pascual), que sai em busca de sua mulher desaparecida, a médica Lorena (Shaina Magdayao), que montou uma clínica para ajudar pessoas pobres num vilarejo, Ginto.

O local é dominado por um líder, Narciso (Noel Santo Domingo), um sujeito com, literalmente, duas caras, que usa a pele do rosto de outro homem na parte de trás de sua cabeça. Uma figura grotesca, mas nunca caricata, que encerra em si simbolicamente o passado e o presente das Filipinas. Ele comanda um grupo paramilitar que aterroriza a aldeia. A gangue sádica é comandada por uma soldado (Hazel Orencio) que não tem piedade de ninguém.

As mais de 30 músicas da trilha – o filme todo é cantado – são de autoria do diretor, e algumas funcionam melhor do que as outras. Os atores – excetuando Bituin Escalante, uma diva pop local, e dona de uma bela voz que funciona como um coro grego de uma mulher só ao longo do filme – não são cantores, e, é claro, o estranhamento deste detalhe é proposital. A fotografia – assinada por Larry Manda – trabalha o chiaroscuro, e o enquadramento também no sentido de causar um efeito estranho no público. Dadas a narrativa e a situação histórica que o filme trabalha, obviamente, não poderia mesmo ser confortável de se ver. Mas é de se pensar se um outro montador – no caso, o próprio Diaz editou seu filme – não seria capaz de dar mais potência ao resultado final sem sucumbir tanto ao fetiche da longa duração, algo que, em outras obras do cineasta, funciona melhor.
Alysson Oliveira

Nenhum comentário: