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sábado, 23 de fevereiro de 2019
Jovens se qualificam para atuar em novos ramos da agropecuária
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Um novo movimento é percebido no mercado de agronegócio e tem atenuado o desafio de manter o jovem na área rural em determinadas regiões do país. Da cidade para o campo, eles buscam oportunidades com a introdução das novas tecnologias no processo de produção agropecuária.
Seja nas fazendas ou nos escritórios da cidade, os jovens têm marcado presença em startups ou empresas que fazem o controle informatizado da qualidade de pasto, do solo, da alimentação dos animais, da aplicação de herbicidas na lavoura, entre outras atividades da produção agrícola e pecuária.
“Está havendo um movimento um pouco inverso e não necessariamente de jovens que têm parentesco com produtor. São criados na cidade com vontade de ajudar o setor. E, muitas vezes, eles nem vão para o campo, mas ajudam empresas de software da cidade para ajudar a gestão”, explica Rafael Gratão, pecuarista de 35 anos.
Segundo Rafael, que preside o Movimento Nacional dos Produtores (MNP) no Mato Grosso do Sul, o campo tem oferecido novas oportunidades de formação e trabalho para a nova geração de profissionais, fator que tem contribuído para atrair o jovem seja no campo ou em atividades relacionadas ao agronegócio a partir das cidades.
“A principal oportunidade é a tecnologia que está sendo introduzida. E o jovem, que mexe desde novo com smartphone, computador, jogos, tem mais facilidade. Ele só precisa se alinhar com a experiência do trabalhador rural”, comenta Rafael.
Essa modernização dos processos produtivos pode estar favorecendo a atração de pessoas mais jovens pela atividade agroepcuária. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o percentual de jovens que vivem no campo se manteve relativamente estável de 2001 a 2015.
Segundo o Instituto, o meio rural tinha em 2015 cerca de 7,1 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos, o que correspondia a 14,7% da população total de jovens do país. Nas cidades, os jovens de 15 a 29 anos somaram cerca de 41,2 milhões, em 2015.
Em 2001, o percentual de jovens domiciliados no campo era pouco mais de 15%. Em 2005, a taxa subiu para quase 17%. Nos anos seguintes, o percentual oscilou entre 16% a pouco menos de 15%.
Outro levantamento do IBGE constata que a maior parte dos residentes e trabalhadores do campo ainda são pessoas com mais idade. O censo agropecuário de 2017 revela que entre os mais de 15 milhões de produtores ocupados, apenas 5% têm menos de 30 anos. O levantamento também aponta que 73% do pessoal ocupado no campo tem relação de parentesco com o produtor.
Mas, a percepção é que a maior permanência dos jovens na área rural pode ser explicada pelo aumento da conectividade da internet e o desenvolvimento da chamada agricultura de precisão, que vem sendo implementada nas propriedades rurais do país a partir do uso de novas tecnologias, com a finalidade de aumentar a produtividade, reduzir os custos e tornar os processos mais sustentáveis.
“Está havendo uma mudança muito grande e os produtores que não estão enxergando isso vão sair do mercado. Hoje, a gente consegue medir tudo na fazenda a partir de um escritório. Com a internet, via satélite, a gente consegue comunicar 24 horas com o funcionário na propriedade. Coletando informações, processando com software e tendo resultado, você consegue parar aquela ação que não está tendo resposta e começar uma nova”, explica Rafael.
Mobilização jovem
Integrante da quarta geração de uma família de pecuaristas, Rafael se dedica desde os 20 anos, quando ainda cursava a faculdade de Administração, à análise dos rendimentos da fazenda para encontrar uma forma de aumentar o valor investido em tecnologia e garantir maior produção. Foi nessa época que Rafael começou a formar um movimento de jovens. Atualmente, participa da promoção de encontros da juventude da agropecuária de Mato Grosso do Sul.
Só no ano passado, o movimento conseguiu mobilizar cerca de 2 mil participantes em todo o estado. E muitas lideranças da juventude têm ganhado espaço em entidades do setor, além de aumentarem sua participação nas decisões das propriedades rurais.
“Existem jovens que saíram desse movimento nosso e hoje estão na diretoria de sindicatos. A gente tem conseguido também melhorar a gestão nas fazendas. Os jovens vêm, interagem com a gente e levam a experiência para a família, melhorando o resultado das suas atividades”, relata Rafael.
Foi assim que aconteceu com Roberta Maia, de 26 anos. Filha e neta de pecuaristas, a jovem fez graduação e mestrado em administração de empresas e, desde o período de estudos, se envolveu com o movimento jovem pela dinamização do setor.
“Eu não tinha interesse em atuar nos negócios da família, o agronegócio em si eu não queria. Mas, durante a faculdade eu fiz a disciplina “gestão de sistemas agroindustriais”, que me abriu a mente para o agronegócio. Até então eu entendia que para atuar no setor eu teria que ser veterinária, zootecnista, agrônoma”, conta.
No mestrado, Roberta se aproximou da Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul (Famasul), para desenvolver um trabalho de empreendedorismo. Depois de algumas atividades, a então estudante foi convidada a criar um grupo de jovens dentro da federação.
Hoje, ela preside o grupo como voluntária e trabalha na empresa da família, uma indústria que produz alimentos para animais de grande porte. A sucessão do negócio agrário já não é mais um peso ou uma obrigação.
Roberta lembra que, no início, percebeu um certo “conflito de gerações”. Mas, aos poucos, o pai, veterinário, com mais de 40 anos no mercado, foi se adaptando às novas sugestões. “É importante ter a presença do pai na família. Quem estava lá, há 30 anos fazendo negócio, era ele. Eu tenho que estudar o máximo, a experiência ele tem”.
Hoje, a indústria tem software de gestão, marca registrada e departamento de marketing mais desenvolvidos. “Os clientes começaram a dar retorno positivo sobre as mudanças na forma de gestão e nos processos externos, além do relacionamento com eles”, comemora Roberta.
Desafios
Segundo o IBGE, entre os jovens presentes no campo em 2015, 96% eram alfabetizados e cerca de 54% ocupados. Mas, apenas 4% têm mais de 11 anos de estudo. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), de 2015.
Este cenário do campo ainda muito preso a áreas técnicas e a laços familiares dificulta a qualificação do setor. Além de conciliar as tendências com a cultura tradicional ainda vigente no campo, os jovens relatam que o maior desafio é encontrar mão de obra qualificada para atender de forma ainda mais direcionada às novas necessidades do agronegócio em diferentes áreas de gestão.
Roberta acrescenta que o agronegócio precisa de profissionais de todos os setores, como advocacia, administração, publicidade, jornalismo e, não somente, agrônomos e médicos veterinários.
“O agronegócio precisa de profissionais da área das agrárias, mas outras também, só que muitos ainda não enxergam isso. Eu acredito que essa multidisciplinaridade seria propícia para o setor evoluir”, avalia Roberta.
“É preciso maior evolução no processo de ensino. Há uma grande distância entre o que é passado na faculdade e a necessidade no campo. A gente precisa aprimorar melhor essa ligação”, sugere Rafael.
Uma das principais estratégias do movimento da juventude agropecuário é mobilizar jovens de várias regiões do estado para trocar experiências e encontrar soluções para problemas do campo.
“O mais importante é que os jovens têm habilidade e facilidade com as novas tecnologias, que o campo necessita urgentemente para aumentar a eficiência. É a coleta de dados que gera informações e faz com que o produtor mude seu processo de produção. Então, o jovem precisa do serviço e o campo precisa da mão de obra. E a gente fazer esse meio de caminho para que as duas partes conversem e o agronegócio continue evoluindo”.
Encontro
Temas como essa profissionalização estão sendo debatidos no 15º Encontro de Jovens da Agropecuária, promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil - CNA Jovem, durante a feira tecnológica Dinâmica Agropecuária - Soluções para o agro sustentável (Dinapec). O debate acontece nesta sexta-feira (22) com participação da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina.
No encontro são discutidos planejamento da carreira profissional, ferramentas de comunicação profissional e os desafios no contexto de transformação e revolução digital.
A Dinapec, organizada pela Embrapa Gado de Corte e o Sistema Famasul, é realizada anualmente em Campo Grande e recebe centenas de produtores, técnicos, pesquisadores e estudantes que participam de roteiros, oficinas tecnológicas e painéis de debates.
De acordo com informações da Embrapa Gado de Corte, o objetivo é compartilhar conhecimento sobre soluções tecnológicas sustentáveis e boas práticas agropecuárias, além de tratar temas como nutrição, genética, sanidade e manejo de forma integrada às estratégias de redução das emissões de dióxido de carbono e outros gases do efeito estufa.
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