quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Brasileiro dirige Anthony Hopkins em “Presságios de um Crime”


Estreante em longas com “2 Coelhos” (2012), o jovem diretor brasileiro Afonso Poyart chega a Hollywood já em seu segundo longa, “Presságios de um Crime”, investindo na estrutura de um longa policial com toque sobrenatural, estrelado por Anthony Hopkins.

Para desvendar um difícil caso de assassinatos em série, o agente do FBI Joe Merriweather (Jeffrey Dean Morgan) recorre ao Dr. John Clancy (Hopkins), seu amigo recluso após a morte da filha e que antes o ajudava como médico e médium. Apesar da descrença inicial de sua parceira, a psiquiatra Katherine Cowles (Abbie Cornish), ele convence seu antigo colega a participar da investigação, até o vidente perceber que o assassino em questão guarda muitas semelhanças consigo mesmo.

O roteiro de Ted Griffin (“Onze Homens e um Segredo”) e Sean Bailey, atual chefe de produção da Disney, circulou por muito tempo em Hollywood. Inicialmente visto por produtores como uma possível continuação de “Seven: Os Sete Crimes Capitais” (1995), a ser chamada de “Ei8ht”, o projeto mediúnico foi rejeitado por David Fincher.

Tempos depois, o texto recebeu um tratamento de Peter Morgan (“A Rainha”), e se transformou na atual trama, filmada em 2013. Problemas de distribuição levaram o longa a ser lançado na Europa só dois anos depois e apenas agora no Brasil – sendo que ainda nem estreou nos EUA.

O resultado da longa gestação da produção não se reflete tanto no script, como era de se esperar. A narrativa é que parece estar aquém de suas possibilidades, atingindo seu potencial somente no terceiro ato, com a entrada do personagem de Colin Farrell, que injeta novo fôlego. É este bom elenco que Afonso tem em mãos, já em sua primeira experiência internacional, que confere empatia aos personagens e credibilidade à história.

O que “Presságios...” tenta imprimir como marca própria é seu visual, como não poderia deixar de ser em um trabalho de Poyart, além de seu dilema moral. A influência já declarada de Christopher Nolan é aparente e bem utilizada nas cenas em que as variáveis de tempo são traduzidas visualmente. O diretor está mais contido e evita os elementos de videogame e o abuso dos flares – reflexos da luz na lente da câmera – vistos em “2 Coelhos”, mas mantém a estética de videoclipe, em flashes de imagens na edição rápida ou em slow motion.

Contudo, o virtuosismo imagético se sobrepõe, em alguns instantes, à narrativa que tem o seu pano de fundo na discussão sobre a eutanásia. Ainda assim, além da questão da culpa e da justiça, o filme consegue levantar o questionamento da validade de “brincar de ser Deus” para aplacar a dor alheia e ser o consolo e alívio que o título original, “Solace”, prenuncia.

(Por Nayara Reynaud, do Cineweb)

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