terça-feira, 31 de outubro de 2023

Preço ao produtor do leite registra 5ª queda mensal consecutiva

 

                                                           Divulgação

Pressão do mercado e desafios climáticos afetam a indústria leiteira no Brasil
Por:  -Aline Merladete

 O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP divulgou novos dados que revelam uma tendência preocupante na indústria leiteira brasileira. De acordo com o levantamento mais recente, o preço médio mensal do leite cru captado por laticínios registrou a quinta queda consecutiva, caindo 9,08% de agosto para setembro de 2023. Essa queda resultou em um preço médio de R$ 2,0509 por litro na "Média Brasil" líquida.



Esse movimento de queda, que teve início em maio, é atribuído a diversos fatores, incluindo o aumento da disponibilidade interna de lácteos, causado pelo crescimento na captação nacional, importações ainda elevadas e um consumo interno altamente sensível aos preços. A pressão dos canais de distribuição nas negociações com os laticínios tem mantido a tendência de queda nos preços dos produtos lácteos, o que, por sua vez, impacta os produtores.


Mesmo com uma retração de 21,8% no volume de importações de lácteos pelo Brasil em setembro, as compras externas ainda permaneceram em níveis significativos. No acumulado de janeiro a setembro de 2023, o Brasil importou 1,6 bilhão de litros em equivalente leite, um aumento de 90,4% em comparação com o mesmo período do ano anterior.


Em relação à produção nacional, o Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) do Cepea mostrou um aumento de 0,36% de agosto para setembro, embora essa variação indique uma desaceleração na captação.


Além disso, fatores como o clima adverso no Sul do país e o estreitamento da margem de lucro do pecuarista têm contribuído para o crescimento lento da produção. Uma pesquisa do Cepea revelou um aumento de 0,56% no Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira na "Média Brasil" de agosto para setembro. Essa é a segunda alta consecutiva do COE, impulsionada principalmente pela valorização dos insumos produtivos, como adubos, corretivos e diesel. Além disso, desde julho, a retração na receita do produtor (preço do leite) tem superado a desvalorização do milho, diminuindo o poder de compra do produtor em relação aos insumos. Em setembro, eram necessários 26,6 litros de leite para comprar uma saca de milho, o que representa um aumento de 12,3% em relação a agosto. Esse cenário levanta preocupações no setor, uma vez que a perda progressiva da margem do produtor pode reduzir os investimentos a curto prazo.


Com uma maior oferta de lácteos e um consumo doméstico altamente sensível aos preços, os estoques de produtos lácteos nas indústrias e canais de distribuição aumentaram em setembro. Isso resultou em quedas nos preços do leite UHT, muçarela e leite em pó fracionado, que caíram 6,3%, 2,3% e 4,2%, respectivamente, em relação a agosto, refletindo diretamente nos produtores em setembro. A expectativa do setor é que essa tendência de queda continue afetando o preço do leite cru captado em outubro, embora em menor intensidade.

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