quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Cauby Peixoto, a estrela que jamais se apagará

 


'Onde quer que esteja, por decerto haverá alguém a pesquisar sobre ele, posto que os elementos que o compõem fazem dele um cantor singular'

Por EDNARDO BENEVIDES

Jornal do Brasil


Na data de hoje, 10 de fevereiro de 2021, o cantor Cauby Peixoto estaria completando 90 anos. O seu falecimento, ocorrido em maio de 2016, não teve o condão de fazer o carinho dos fãs diminuir ou esfarelar-se. Muito pelo contrário, pois o que se atesta é um carinho especial para garantir que o seu legado não seja esquecido. Sob o comando de Lucas Antônio, de 18 anos, presidente do fã clube do cantor, a memória de Cauby Peixoto tem encontrado meios para ver-se preservada.


A preservação cultural no Brasil é um assunto delicado, infelizmente. Mas isso não faz com que o jovem devotado sinta-se desestimulado. Tamanho o acervo construído em mais de 6 décadas de estrelato, há muito para contar a história daquele chamado, com muito merecimento, de “professor”. Os ensinamentos de como tratar o devoto público, a disciplina com a voz, o rigor para comparecer no palco e dar o seu melhor, sem dúvidas, influenciaram cantores que viam nele um exemplo a ser seguido.



Na linha de exemplos a dar, um destaque deve ser dado à versatilidade de estilos musicais que gravou e interpretou. Poucos cantores oriundos da Era do Rádio no Brasil tiveram a capacidade de se adequar aos novos tempos – principalmente às profundas mudanças trazidas pela Bossa Nova. Cauby não era um cantor “quadrado”, como dizia ao se referir àqueles que não inovam, que são a mesma coisa sempre.


Pois Cauby fez do tempo um fiel amigo, compreendendo que as modas vão e vêm, e é preciso receber as dificuldades como desafios. Desafios a serem vencidos. Ao depararmo-nos com a quantidade e variações de estilos, podemos constatar que o seu talento fez-se presente, para o deleite dos fãs e admiradores.


A carreira foi impulsionada por uma família verdadeiramente musical (sobrinho do famoso pianista Nonô; primo de Ciro Monteiro; irmão de Moacyr Peixoto, pianista; Araken Peixoto, trompetista; Andyara Peixoto, cantora internacional em cassinos). É considerado o primeiro produto “marketing” musical brasileiro: “Quando Cauby canta, as meninas desmaim”, uma das manchetes que dão uma dimensão do estrelato do cantor.


A gravação em 1957 de “Rock’n’roll em Copacabana” – o primeiro do ritmo com letra genuinamente brasileira – fez surgir a comparação com Elvis Presley, pelas revistas “Time” e “Life”. Ele aproveitou, e nos Estados Unidos também fez carreira, gravando “I go”, uma versão em inglês da música “Maracangalha”, composta pelo Dorival Caymmi. Curiosamente, um dos primeiros sucessos de Cauby veio também dos Estados Unidos. Ele gravara uma versão para a música “Blue Gardenia”, sucesso na voz de Nat King Cole.


Outra fase que merece destaque é a gravação do LP “Cauby! Cauby!”, para marcar os 25 anos de carreira do cantor naquele ano de 1980. O título é uma das faixas constantes, feita por Caetano Veloso exclusivamente para Cauby Peixoto. Outra faixa que merece destaque é a música “Bastidores”, feita por Chico Buarque. Essas mencionadas músicas, assim como o mencionado LP foram sem dúvidas responsáveis por revitalizar e de certa forma comungar gerações de fãs.


Curiosamente, é como se em um Cauby, estivessem vários Caubys, várias personalidades, um complexo conjunto de prismas, todos expostos sempre com ênfase, fosse com um figurino “à la Liberace” ou com a sobriedade de Sinatra. A sua voz, sempre bem colocada, fazia verdadeiros malabarismos, fosse com “El Toreador”, ou com músicas românticas, para serem cantadas ao pé do ouvido, como com os duetos com a outra singular cantora, Ângela Maria.


Onde quer que esteja, por decerto haverá alguém a pesquisar sobre ele, posto que os elementos que o compõem fazem dele um cantor singular.

Fica aqui registrada a homenagem a Cauby Peixoto.

(Ednardo Benevides, advogado, pesquisador cultural e entusiasta da história da MPB)

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