domingo, 17 de janeiro de 2021

Oportunidade na lata: vinhos enlatados ganham mercado

 

                                                         Divulgação

Por:  -Eliza Maliszewski

Você já ouviu falar em vinho em lata? Cabernet, Merlot, Chardonnay, tudo em latinhas? O assunto parece novidade mas não é tão recente. As primeiras bebidas enlatadas surgiram nos Estados Unidos por volta do ano de 1935. Na época, a Lei da Proibição das Bebidas Alcoólicas havia sido revogada após mais de uma década, e as indústrias buscavam criar novas formas de envasamento que favorecessem o consumo rápido e, consequentemente, movimentassem o mercado.


No Brasil já há algumas empresas e vinícolas tradicionais que usam as latas para envasar a bebida. O vinho em lata ganha popularidade pela sua facilidade de consumo em qualquer lugar, com facilidade de transporte, na abertura, para consumo de forma individual e pode repercutir no produtor que, com o crescimento, pode ter maior demanda de uvas.


Depois de marcas estrangeiras apresentarem a novidade no Brasil, as marcas daqui resolveram seguir o caminho. São pelo menos quatro marcas nacionais e uma estrangeira produzindo a bebida enlatada, e ainda uma vinícola portuguesa que começou a trazer ao Brasil um vinho em garrafa long neck com abridor embutido.


A pioneira foi a Vivant Wines. Em 2019 surgiram as primeiras latas em três versões de branco (chardonnay), tinto (cabernet com merlot) e rosé (syrah com pinot noir). Foram mais de 150 mil latas vendidas, com mais de R$ 1 milhão de faturamento em menos de um ano de operação. Os vinhos enlatados da marca são produzidos na vinícola gaúcha Quinta Don Bonifácio, em Caxias do Sul.


Também há vinícolas tradicionais que gostaram da ideia. O exemplo vem da Vinícola Góes, fundada em 1938, em São Roque, tradicional região do vinho no interior paulista e uma das primeiras do país. Desde 2005 produz e comercializa o chamado Grape Cool (cooler de vinho), em algumas embalagens entre elas a lata. Até o ano passado usava prestadores de serviços para o envase terceirizado das latas mas com o surgimento da tendência de consumo do vinho em lata, decidiu investir numa linha própria de envase de latas, com equipamentos modernos, totalmente adequados para o atual perfil de demanda. Foram investidos cerca de R$ 3 milhões.


O Portal Agrolink conversou com Alex Homburger, um dos fundadores da Vivant Wines e com o Diretor Comercial da Vinícola Góes, Luciano Lopreto. Confira:


“A produção dos vinhos que são enlatados em nada difere do vinho tradicional. O que difere são as latas, que possuem uma tecnologia específica para preservar as propriedades do vinho da mesma forma que a garrafa. O vinho que vai para a lata é o mesmo que vai para a garrafa”.


Portal Agrolink: como começou a produção de vinhos em lata e como funciona?

Alex Homburger: fomos pioneiros no Brasil na produção de vinhos finos e secos enlatados. A produção começou após os três fundadores da empresa perceberem uma tendência de grande aumento no consumo de vinhos por um público mais jovem. Esse público ainda não tinha uma marca para chamar de "sua", já que o mundo do vinho, cheio de tradicionalismos, misticismos e jargões, não conseguia se comunicar diretamente com ele de forma eficiente. Além disso, a garrafa limitava diversas ocasiões de consumo do vinho, já que além do peso do vidro, ainda demanda muitas vezes taças e saca rolhas. Isso fazia com que, em locais como praias, piscinas, festas, parques, baladas, etc. as pessoas tivessem que optar por outras bebidas mais práticas, como por exemplo a cerveja. Após essas observações, os fundadores da empresa pesquisaram e encontraram um forte crescimento do mercado de vinhos enlatados em países como EUA, Reino Unido e Austrália, e entenderam que esse produto era a cara do Brasil, do nosso clima tropical, do nosso carnaval e outras festividades. 


Portal Agrolink: como observam esse mercado e a aceitação do brasileiro?

Alex Homburger: o mercado tem demonstrado um crescimento muito promissor, não só no Brasil, mas como em diversos países ao redor do mundo. Iniciamos no mercado em 2019, e em 2020, já quintuplicou seu faturamento com as latinhas.  A aceitação do brasileiro tem sido acima do esperado. A maioria dos consumidores tem se mostrado disposta a conhecer o produto, e na maior parte dos casos, gostam e introduzem o vinho em lata no seu dia a dia. Uma das grandes provas da aceitação desse produto é o fato de que hoje as nossas latinhas já são vendidas em 24 estados brasileiros. 


Portal Agrolink: para o produtor de uva pode ser mais uma oportunidade? 

Alex Homburger: para o produtor e para o mercado é uma grande oportunidade. A lata não é um competidor direto da garrafa, não veio para tirar o mercado da garrafa. São produtos complementares, o objetivo com a lata é inserir o vinho em situações onde a garrafa não se encaixa muito bem, como as ocasiões já citadas que demandam maior praticidade e conveniência. Portanto, o que observamos é que os vinhos em lata apresentam potencial para aumentar a categoria e consumo de vinhos como um todo. 


Portal Agrolink: como deve evoluir o mercado neste ano?

Alex Homburger: somente em 2020, produzimos cerca de um milhão de latas, e em 2021, espera pelo menos triplicar essa produção. Grande parte das latas são para o mercado interno, mas a empresa já iniciou suas primeiras operações de exportação para alguns vizinhos das Américas. Hoje produzimos cinco tipos de vinhos, temos uma linha com três vinhos finos e secos: tinto (cabernet sauvignon/merlot), branco (chardonnay) e rosé (syrah/pinot noir); e uma linha com dois vinhos frisantes: frisante branco (moscato) e frisante rosé (chardonnay/pinot). 


“O vinho na lata não tem nenhuma alteração de conservação e atributos da bebida em relação a garrafa. O perfil e a ocasião de consumo da categoria vinho em lata é mais voltado para vinhos mais leves e jovens, como os brancos, rosés e espumantes. Os produtos são idênticos aos envasados em garrafas”.


Portal Agrolink: Como funciona? Tem diferenças do processo das bebidas em garrafas ou somente o envasamento?

Luciano Lopreto: quanto ao processo, é bastante parecido com o envase em garrafas, os produtos são os mesmos, apenas alguns detalhes são diferentes e necessários, como por exemplo uma proteção em resina no interior da lata de alumínio para garantir a adequada interação entre o vinho e a lata. Outra diferença é que, por se tratar de um produto sem gás (diferente de uma cerveja por exemplo), no envase de vinho em lata é necessário agregar um gás inerte (o nitrogênio) para garantir que a lata fique sob pressão, o que garante sua adequada resistência mecânica e durabilidade. Essa adição de nitrogênio já ocorre no envase de sucos e chás, por exemplo.

 

Portal Agrolink:  porque uma vinícola tradicional resolveu apostar nessa tendência e como observam esse mercado?

Luciano Lopreto: estamos na fase inicial de introdução, que aos poucos vai chegando ao varejo e ao consumidor. As pesquisas apontam o consumidor disposto a provar. Apontam também que ele gosta da conveniência que essa embalagem proporciona (fácil abertura, porções individuais, não quebrável, entre outras). Além disso, lá fora, nos EUA e Europa a tendência se consolidou, então estamos confiantes no sucesso dessa embalagem.


Portal Agrolink: para o produtor de uva pode ser mais uma oportunidade?

Luciano Lopreto: sem dúvida, afinal imaginamos atingir consumidores novos (que não consomem vinho ainda) e também aumentar o consumo dos atuais. Maior consumo de vinhos significa boas oportunidades para todos os envolvidos na cadeia produtiva da bebida.

 

Portal Agrolink: Como é a produção, que tipos de uvas levam e que tipos de bebida em lata vocês produzem?

Luciano Lopreto: a Vinícola Góes produz e vende aproximadamente 7 milhões de garrafa por ano. Nossa nova linha de latas tem capacidade para produzir 5 mil latas por hora. Produziremos marcas próprias e também latas de alguns parceiros estratégicos que também apostam neste segmento, inclusive com produtos exclusivos deles. Por ser novidade esta demanda em latas ainda é incerta. Foco inicial no mercado interno, mas também estamos de olho no mercado internacional.


Qualquer vinho pode ser envasado em lata, mas a tendência aponta para vinhos mais jovens e frescos, como brancos, rosés e espumantes, com destaque por exemplo para a variedade de uva branca BRS Lorena, uva híbrida desenvolvida pela Embrapa que apresenta características excepcionais para esse perfil de consumo. Mas também teremos vinhos tintos como Cabernet Sauvignon, que é um grande sucesso de vendas, no Brasil e no mundo.


Quanto aos tipos de bebidas, nossa linha de latas tem equipamentos que permitem que ela produza uma grande variedade de produtos, não só vinhos. Cervejas especiais, gin tônica, chás, receitas exclusivas, estamos prontos para atender demandas de produtos consagrados e também de inovações.

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