domingo, 1 de novembro de 2020

Materiais faltam, preços sobem e entidade da construção civil faz um alerta

 

                                           Valdenir Rezende / Correio do Estado

Ricardo Campos Jr

Os preços dos materiais de construção subiram vertiginosamente e acendeu o alerta de cobranças abusivas por parte da indústria. Em documento encaminhado ao Ministério da Economia, a Câmara Brasileira de Construção (CBIC) apresentou os resultados de um levantamento que revela alta de 3,80% somente entre junho e agosto.


“Um cimento que eu pagava em torno de R$ 18 em janeiro, hoje estou encontrando por R$ 26. Nós fizemos essa pesquisa em 23 dos 27 estados, incluindo Mato Grosso do Sul. Fizemos isso para mostrar que não há justificativa plausível para se aumentar da forma como está acontecendo. Classificamos isso como oportunismo”, disse ao Correio do Estado Amarildo Miranda Melo, presidente do Sindicato Intermunicipal da Indústria da Construção (Sinduscon-MS).


De acordo com o relatório entregue ao Governo Federal, o incremento expressivo representa um movimento completamente alheio à realidade inflacionária nacional. Cimento, cabos elétricos, aço e concreto, por exemplo, chegaram a ter variações maiores que 10% em alguns estados. 


Conforme a CBIC, deu-se início a uma busca pelas causas do problema diante das evidências apresentadas.


A entidade reconhece que a indústria da construção civil passa por um desabastecimento generalizado. No começo da pandemia da Covid-19, as indústrias tiveram medo das consequências da doença e fecharam unidades, demitiram funcionários e reduziram a oferta de produtos.


Entre março e abril, dados divulgados pela imprensa nacional apontavam que 13 dos 32 altos fornos das siderúrgicas brasileiras haviam sido desligados.


Contudo, conforme os governantes foram liberando a retomada das obras com as devidas cautelas, o mercado voltou a se aquecer, mas ao que tudo indica, conforme a CBIC, a indústria não acompanhou esse movimento piorando o desabastecimento e causando o que a entidade classifica como elevação artificial. 



“Nossa preocupação consiste no aproveitamento, por parte dos fornecedores, da situação de desabastecimento para recuperar preços. Isso sem que haja empenho para aumentar a produção”, diz o documento da Câmara.


Para a CBIC, as próprias indústrias reforçam que estão com capacidade ociosa, no entanto, faltam materiais, há atraso nas entregas e os preços sobem. “Isso tudo de forma artificial, devido à falta de uso da capacidade produtiva”.


Amarildo, presidente do sindicato sul-mato-grossense afirma que o setor sofre com a formação de duopólios em grande parte dos insumos que precisa. São fábricas instaladas em pontos opostos do país que têm cobrado praticamente a mesma coisa pelos seus produtos. 


“O Governo Federal está analisando o documento e a equipe da CBIC sentou com o ministro Paulo Guedes. Estão trabalhando fortemente no Congresso para tentar resolver o problema, seja com a abertura do mercado para importação, reajuste de preços ou até mesmo acionar o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) para apurar a situação”.


Espera-se, porém, que a situação seja resolvida o quanto antes. Entre as consequências do problema listadas pela entidade está o atraso na entrega das obras em andamento em razão do desabastecimento.


“Os prazos de entrega não serão cumpridos, o que já está caracterizado. Por mais que as construtoras busquem, não conseguirão cumprir seus contratos, o que pode ocasionar a volta de distratos e multas contratuais”, completa.

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