segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Campo Grande caminha para ter a chamada imunidade de rebanho da Covid-19

Especialistas dizem que para chegar a esse ponto é necessário que 20% da população tenha anticorpos para o novo coronavírus

Daiany Albuquerque


Campo Grande pode estar caminhando para uma imunidade de rebanho da Covid-19, isso porque, segundo pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), a estimativa é de que 18% da população tenha contraído o novo coronavírus e especialistas dizem que para que uma população possa sentir os efeitos dessa imunidade é necessário que 20% da população tenha anticorpos para a doença.

A chamada imunidade de rebanho se refere a proteção que uma pessoa tem em relação a uma doença, mesmo não se vacinando contra ou tendo contraído ela. Isso acontece apenas pelo fato de a maioria à sua volta já ter anticorpos contra essa enfermidade. 

Atualmente, Campo Grande tem 18.379 casos confirmados e 288 mortes pela doença. É o epicentro da pandemia em Mato Grosso do Sul, com o maior número de internados pelo novo coronavírus.

Até a tarde de ontem, a taxa de ocupação de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) global, que levam em consideração leitos públicos e privados de todas as enfermidades, girava em torno de 80%.

Para o médico infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Julio Croda, esse número ainda não chegou a 10%. Segundo o especialista, em pesquisa feita por ele na semana passada com amostras de sangues coletados neste mês no Centro de Hematologia e Hemoterapia de Mato Grosso do Sul (Hemosul), 7% dos doadores do local já tinham anticorpos para a doença.

“Acredito que este seja o porcentual de positividade da cidade, então, não podemos dizer que atingimos o porcentual necessário para chegar ao patamar de imunidade de rebanho. Portanto, o vírus ainda vai circular muito aqui”, avalia Croda.

Levantamento

Enquanto não chega a este ponto, porém, o infectologista vê que o número de infectados e de pacientes internados só aumentará e apenas quando a cidade conseguir atingir esse status poderá haver um arrefecimento da Covid-19 na Capital.

“Dados do Brasil mostram que o norte já atingiu os 20% e já chegou nessa imunidade de rebanho. A taxa de contágio no Brasil está abaixo de um e o único fenômeno que pode explicar isso não é somente as medidas de prevenção, mas sim o efeito da imunidade de rebanho que a gente já está sentindo. Alguns locais já estão chegando a esse patamar, principalmente onde morreu muita gente, mas aqui não teve isso”, declarou o pesquisador.

Levantamento desta semana da Sesau, indica que a taxa de positividade dos exames feitos no município chega a mais de 20%, o que poderia indicar que esse seria o porcentual de toda a cidade. 

Conforme dados da pasta, dos 77.477 exames realizados na Capital até o domingo, 18.379 deram positivo, o que representa a taxa de 23%.

Entretanto, para o infectologista, esse recorte é muito específico, já que a maioria dos exames são feitos em pessoas que apresentaram algum sintoma da doença ou que tiveram contato com casos confirmados.

“Aqui é difícil afirmar, estamos em uma tendência de queda, com a estabilização no momento, mas que ainda não pode aumentar. Como essas são amostra de pessoas que tiveram sintomas, não uma pesquisa randômica, como foi feito no Hemosul, esses dados ficam prejudicados”, alegou.
OMS 

Na semana passada a Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmou que o mundo está longo de atingir a imunidade de rebanho, porque a estimativa é de que menos de 10% da população global tenha contraído a Covid-19.

“Como população global, não estamos em absoluto perto dos níveis de imunidade requeridos para deter a transmissão dessa doença. Essa não é uma solução e nem é uma que deveríamos buscar”, afirmou o diretor do Programa de Emergências da OMS, Mike Ryan, em entrevista coletiva na semana passada.

Para Croda, considerando a Europa e a Ásia, a afirmação é correta, entretanto, o contexto das Américas, na opinião dele, é diferente. 

“A Europa tem um número maior de pessoas que ainda podem pegar a Covid-19, porque lá foi feito o distanciamento social, mas as Américas não”, disse o médico.

Com informação do Portal Correio do Estado

Nenhum comentário: