domingo, 29 de março de 2020

Coronavírus terá mais efeitos perversos no Brasil que no resto do mundo, opina economista


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Por:  -Aline Merladete

A professora de Economia da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) Nadja Heiderich, aponta medidas que o governo deveria tomar para reduzir os reflexos no País e faz uma análise dos efeitos que a pandemia pode causar no Brasil.

É preocupação de patrões e empregados e pauta da imprensa e de conversas do WhatsApp (e com certeza também seria motivo de discussão em mesas de bares, se eles estivessem abertos): a pandemia de coronavírus que assola vários países do mundo terá, inevitavelmente, impactos na economia global. No Brasil, esses efeitos devem ser ainda mais graves. É o que aponta a professora de Economia da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) Nadja Heiderich.

Para a especialista, o Brasil é um caso especial: nossa economia ainda não se recuperou da grande crise de 2015. "Os efeitos ainda estavam presentes, com o governo quebrado, tentando ajustar as contas; e empresas e famílias endividadas, apenas trabalhando, em sua maioria, para pagar as contas e esperar pela retomada da atividade econômica. Havia ainda uma parcela muito grande de desempregados e pessoas trabalhando na informalidade", explica.

Na opinião dela, o cenário de fragilidade econômica faz com que a pandemia possa causar efeitos mais perversos sobre os brasileiros. São poucos os agentes econômicos que possuem reservas para esperar o período mais grave da pandemia passar. Assim, o fôlego das empresas e pessoas será pequeno e o governo brasileiro deve ter cautela com os impactos econômicos que a pandemia poderá causar. "Ainda que tímidas, o governo tem adotado medidas para elevar a oferta de crédito, por meio do BNDES e dos bancos públicos, com linhas de crédito mais baratas, com carência para o início do pagamento. Tudo isso, para oferecer capital de giro para as empresas".

Além de postergar o pagamento de dívidas com a União e com o Simples Nacional, Nadja acredita que o governo deve também disponibilizar recursos via FGTS e reduzir a Taxa Selic, para que o acesso ao crédito, de modo geral, seja facilitado. "A injeção de recursos na economia deveria ser maior, mas existe o problema fiscal que paira sobre o governo", lamenta.

Ainda segundo a professora, provavelmente teremos um quadro de recessão global, uma vez que todos os agentes econômicos (governos, empresas e sociedade civil) estão com os olhos voltados a encontrar soluções para conter o avanço da doença. "Como a quarentena faz os mais diversos mercados pararem, tanto do lado da produção como do lado da demanda, os governos devem adotar medidas para amenizar os efeitos adversos sobre a renda das pessoas e empresas, como a injeção de recursos via vouchers e postergação de obrigações tributárias; e facilidade de acesso a crédito, criando políticas fiscais e monetárias expansionistas", diz.

No campo econômico, passada essa crise causada pela pandemia, qual lição vai ficar para o mundo? "As relações entre os países são cada vez maiores e mais complexas, aumentando a vulnerabilidade mundial em caso de distúrbios sistêmicos. Fica clara a importância da transparência por todos os países, para que as crises possam ser solucionadas de maneira mais rápida e com menos estragos; além do equilíbrio fiscal dos governos, que precisam dispor de recursos, da noite para o dia, em casos de situações como esta", finaliza.

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