sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Filme : Frozen 2

Cine Web

Será que a dupla de diretores Jennifer Lee e Chris Buck tinha em mente o que estavam fazendo no nem tão longínquo 2013 com o primeiro Frozen? Imaginavam que seria uma das maiores bilheterias de uma animação da história do cinema? Ou que, por causa disso, teriam de fazer uma sequência? A resposta verdadeira, possivelmente, nunca saberemos, mas a dupla teve de enfrentar esse desafio: um segundo filme à altura do primeiro, principalmente pelo que este representou para o público, especialmente as meninas. Certamente o visual teve um papel importante, assim como as músicas, mas é na figura de Elsa e sua irmã, Anna, que o longa encontra sua força – duas garotas independentes que estão no mesmo patamar que qualquer personagem masculino.

Empoderamento talvez não esteja no léxico infantil ainda, mas é isso o que o filme mostra. Talvez seja exagero dizer que Frozen e Frozen 2 estejam criando uma nova geração de meninas, mas também é certo que os filmes têm seu papel na consolidação de um novo tipo de consciência para elas. É um alívio ver personagens femininas cujo objetivo não é apenas casar no final – pode até ser, ninguém precisa abrir mão disso, mas não deve ser vista como a única coisa que traz felicidade.

Partindo de uma adaptação bem vaga de A Rainha da Neve, de Hans Christian Andersen, Lee, autora dos dois roteiros, não está interessada num revisionismo forçado que se encaixe na demanda mercadológica de personagens femininas fortes – ainda que essa seja uma peça dentro da equação aqui –, mas em busca de algo mais progressista, em sintonia com a visão de mundo dos milenials. E em Frozen 2, a consciência de gênero de Elsa e Anna é levada a outro lugar, especialmente quando descobrem que o avô era uma espécie de colonizador e manipulador, e que todos os males que a família das garotas enfrentou estão diretamente ligados a essa herança.

Frozen 2 assume um tom de aventura banhada numa luz pálida do gelo, que emoldura a narrativa de autodescoberta de Elsa, cuja nobreza de espírito e caráter confere-lhe mais peso e autenticidade do que apenas do título de nobre. O filme também assume uma certa seriedade que pesaria sobre ele não fosse o grande alívio cômico do boneco de neve Olaf. As músicas, por sua vez, nunca atingem o mesmo patamar de “Let it go”, do original, mas dificilmente aquela mágica conseguiria mesmo se repetir.

O longa é, acima de tudo, um filme em congruência com o seu tempo. O discurso narrativo não foge, por exemplo, do da ativista sueca Greta Thunberg, e não é apenas na questão ambiental. Tal qual a garota, Elsa está lidando com os erros das gerações anteriores e tentando fazer um mundo melhor.
Alysson Oliveira

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