segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

“Voto sem CEP”

 

                                           Divulgação



As vésperas de mais um ciclo eleitoral, é indispensável que o eleitor faça uma reflexão mais madura e responsável sobre o significado do voto. A escolha de deputados estaduais, deputados federais, senadores e do governador não pode continuar refém de slogans fáceis, apelos emocionais ou discursos que apelam apenas para a origem geográfica do candidato. O conhecido “sou daqui, sou dessa cidade” pode até criar identificação, mas é insuficiente — e, muitas vezes, enganoso.


Parlamentares não são eleitos para representar um bairro ou um município específico. Eles legislam para todo o Estado ou para todo o país. Se a lógica fosse puramente territorial, Mato Grosso do Sul teria de eleger 79 deputados, um para cada cidade. 


Não é assim que o sistema funciona, nem é assim que os resultados aparecem. Representatividade, na política, não se mede por endereço, mas por capacidade de atuação.


O uso recorrente do discurso bairrista revela, em muitos casos, a ausência de conteúdo, de projetos e de histórico concreto. Trata-se de uma estratégia antiga, eficiente do ponto de vista eleitoral, mas pobre do ponto de vista institucional. Serve, não raramente, para manter mandatos como carreira permanente, sem a devida cobrança por entregas reais à sociedade.


A situação vivida por Aquidauana, marcada por crises como apagões e enchentes, expõe com clareza essa distorção. O clamor por “representatividade” é legítimo, mas precisa ser corretamente interpretado. O que falta não é alguém que apenas tenha nascido na cidade, e sim quem tenha portas abertas, trânsito político e capacidade de articulação nos centros de decisão. Sem isso, a representação se limita ao discurso.


Nesse contexto, o exemplo de Marco Aurélio Santullo é emblemático. 


Mesmo sem mandato eletivo, atuou como assessor direto da senadora Tereza Cristina (PP), uma das lideranças mais influentes do Congresso Nacional. Essa posição lhe conferiu acesso, articulação política e capacidade de diálogo tanto no âmbito federal quanto estadual. É esse tipo de capital político que viabiliza projetos estruturantes, como sistemas de drenagem compatíveis com as características do Pantanal e o fortalecimento da rede energética de municípios historicamente afetados por falhas no fornecimento.


Nem sempre os resultados mais concretos surgem sob os holofotes. 


Muitas vezes, eles são construídos longe do palco eleitoral, por pessoas que atuam com conhecimento técnico, disposição e boa vontade. Há quem, mesmo no anonimato e sem mandato, consiga entregar mais do que muitos que ocupam cargos eletivos há anos. Essa eficiência silenciosa raramente entra no debate eleitoral, mas deveria.


Outro ponto que exige atenção do eleitor é o uso oportunista de temas complexos, como a rota bioceânica. Transformada em palavra de ordem nas campanhas, a proposta é frequentemente citada por candidatos que demonstram pouco ou nenhum entendimento sobre sua dimensão logística, econômica, ambiental e diplomática. Falar do projeto não basta. É preciso preparo, articulação e presença efetiva para garantir que seus benefícios se concretizem para o Estado.


No fim, os avanços de Mato Grosso do Sul dependem diretamente da qualidade das escolhas feitas nas urnas. Mandato não se exerce apenas com a vitória eleitoral. Ele se constrói com equipe qualificada, apoio político, articulação institucional e trabalho contínuo. Cabe ao eleitor ir além do discurso fácil, pesar prós e contras e compreender que política séria não se faz com CEP no título de eleitor, mas com compromisso, preparo e resultados.


Por Alcina Reis

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