quinta-feira, 16 de junho de 2022

Taxa de juros do Banco Central sobe a 13,25% e triplica em um ano

 

Copom aumentou a Selic em 0,50 ponto porcentual, a 13,25%, maior patamar desde novembro de 2016

RODRIGO ALMEIDA, SÚZAN BENITES


A taxa básica de juros, a Selic, foi elevada pela 11ª vez consecutiva, desde março de 2021, pelo Comitê Nacional de Política Monetária (Copom). 


Com aumento de 0,50 ponto porcentual, o juro básico foi a 13,25% ao ano.  


No comparativo interanual, a taxa mais do que triplicou entre junho de 2021 e o mês vigente. Naquele mês, a taxa era precificada em 4,25%, diferença de 9 pontos porcentuais com o novo aumento. 


Na prática, a intenção do Banco Central é deixar o crédito mais caro ao consumidor, para reduzir o consumo e frear a escalada da inflação.


O ciclo é o mais longo da história, o último mês de estabilidade foi janeiro de 2021, na ocasião o Copom manteve a taxa em 2%. 


Em março daquele ano, a taxa saltou para 2,75% e não parou mais o movimento de alta. No período, a Selic já subiu 11,25 pontos porcentuais, o maior choque de juros desde 1999.


De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial, ficou em 0,47% em maio, ante 1,06% em abril. No acumulado de 12 meses, o índice vai a 11,73%.


Em Campo Grande, o movimento de retração foi menor, caindo de 1,21% para 0,94% em maio e acumulado de 12,07% em 12 meses.


O professor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e doutor em Economia Mateus Abrita aponta que os efeitos para frear a inflação demorarão um pouco mais para serem sentidos.


“Geralmente, a política monetária demora algo em torno de seis meses para afetar a economia real”. Segundo ele, esse arrefecimento é um alívio dos choques inflacionários, uma retração comum do mercado.  


“O problema é que nossa inflação está mais ligada aos custos, e não à inflação de demanda, então essas altas de juros possuem pouca eficácia para combater a inflação”, analisa.  


O mestre em Economia Eugênio Pavão ressalta que a alta de juros é praticamente a única saída para tentar conter a inflação atual.  


“Diversos países no mundo estão utilizando a política monetária para equilibrar a economia. No último mês, a inflação apresentou queda em relação ao mês anterior, mostrando que as taxas de juros começam a conter a inflação, mas às custas da redução do crescimento econômico”.


Já o doutor em Economia Michel Constantino acredita que as recentes altas da taxa Selic são o fator determinante para melhores resultados no IPCA.  


“A diminuição da inflação atual tem efeito da taxa de juros e o que chamamos de ancoragem dos preços, as pessoas se adaptam aos preços e organizam seus orçamentos para reduzir custos. Por outro lado, temos a redução da energia [bandeira de escassez hídrica]”, analisa.  


Conforme reunião anterior, este seria o último aumento antes do período eleitoral. 


No entanto, no comunicado, o colegiado afirmou que deve subir novamente a Selic na próxima reunião, no início de agosto, entre 0,25 e 0,50 ponto porcentual.


“O Copom considera que, diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista”.  


“O Comitê enfatiza que perseverará em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, diz o texto.


Panorama

A decisão brasileira foi tomada horas após o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, também com o intuito de reduzir a pressão sobre os preços, elevar a taxa básica de juros para o intervalo entre 1,5% e 1,75% ao ano, a mais elevada desde março de 2020, no início da pandemia, quando estava entre 1% e 1,25%.


Para o assessor de Investimento da Safra Invest, Eliseu Nantes, o panorama é um respingo ainda das políticas econômicas e reflexo que a pandemia deixou nas finanças dos países.  


“Houve uma demanda reprimida, durante dois anos de pandemia. Muitas pessoas seguraram recursos e a viabilidade de alguns projetos, como reformas, compra de imóveis, expansão de empresas, consumo de produtos e compra de carros. Com a saída gradativa dessa situação, essa demanda reprimida começou a ser recolocada”, diz.  


Outro fator que também contribuiu para a alta da inflação, segundo o assessor, foram os pagamentos do auxílio emergencial, medida adotada pelo governo federal e também pelos Estados Unidos.  


O assessor ainda afirma que as estratégias adotadas pelo Copom são as melhores alternativas macroeconômicas para o curto prazo.  


“É um remédio amargo? É! Mas é preciso aumentar juros para segurar a inflação. Entre juros altos e inflação alta, a segunda é muito pior para a economia, porque corrói o poder de compra do trabalhador”. 


 

Investimentos

Muitos economistas apontam que esta é a hora de ser mais conservador em relação aos investimentos. 


Investindo em ativos pós-fixados, que acompanhem a Selic ou a taxa do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), que agora fica em torno de 13,15% ao ano.


Conforme publicado na edição do Correio do Estado de 13 de junho, a renda fixa é o investimento favorito de 36,5% dos moradores de MS, segundo levantamento do Santander Brasil.  


Além do CDI, os investimentos em Certificados de Depósitos Bancários (CDB), Letras de Crédito Imobiliário (LCI) Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e títulos públicos do Tesouro Direto também estão em ascensão.  


Nantes afirma que é preciso fazer as contas para não deixar dinheiro na mesa.  


“É um momento legal para ativos de renda fixa atrelados à inflação e prefixados. Temos CDBs de 14% ao ano”, diz o assessor de investimentos.  


Com as quedas das bolsas por conta da inflação alta, o rendimento da renda variável pode ser negativo no caso de muitos que começaram recentemente.  


“Suponhamos que em um ano você perdeu 20% e decide trocar pela renda fixa porque os ganhos estão muito bons, é preciso lembrar que é necessário um ano e meio para o investidor recuperar esse prejuízo. Então, eu pensaria bastante antes de realocar o patrimônio dessa forma. Para dinheiro novo, a renda fixa continua sendo a opção mais interessante no momento”.


O economista Eugênio Pavão ainda alerta aos investidores que o ano continuará complexo para a economia.  


“A instabilidade nas eleições tende a provocar mais desequilíbrio econômico, com a redução do investimento, em razão do aumento do custo do dinheiro. A tendência é o controle da inflação no médio prazo, mas colada às variações das taxas de juros internacionais”, finaliza.

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