quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Presença das doulas durante os nascimentos auxilia na tranquilidade das mães


NAIANE MESQUITA


Quando Danielle descobriu a gravidez, a surpresa foi inevitável. Após anos de uma união estável sem filhos, ela precisou passar pelo momento da separação e do recomeço para, só então, viver a maternidade. “Eu não esperava ficar grávida. Foi uma surpresa, uma coisa que me pegou bem despreparada. Fiquei casada durante anos, mas separei. Em um novo relacionamento, descobri que estava grávida”, relembra.

Morando no Acre na época, ela estava de mudança pronta para Campo Grande, onde vive a família. “Mantive a mudança e vim para cá bem no início da gravidez. Na época, eu não sabia nada sobre parto e não ficava tão preocupada com isso. Mas, quando chegou depois do sexto, sétimo mês, eu comecei a pensar sobre o assunto. Sempre tive vontade de ter parto normal, mas na minha família, a tradição sempre foi cesariana. Minha irmã, minha tia, minha mãe, todas tiveram cesarianas”, explica Danielle.

Sem muitas informações sobre o assunto, Danielle decidiu conversar com a família e acabou com mais medos do que certezas. “Nesse momento, eu senti que precisava de uma ajuda externa. Apesar de minha mãe ter três filhos, nenhum era de parto normal. Como eu estava há pouco tempo na cidade não conhecia muita gente. Comecei a pesquisar na internet e perguntei para amigas e foi quando pensei em ter uma doula”, ressalta.

Danielle diz que o apoio da doula foi essencial para manter a calma durante o trabalho de parto, que, assim como o seu sonho, aconteceu de forma natural. “Ela me ajudou na preparação e foi abrindo a minha mente e tirando todas as dúvidas que eu tinha. Fez eu escrever meu plano de parto e me preparar mesmo para aquele momento. Visitamos o Hospital Universitário antes e vimos o que era preciso para o dia; então, quando eu cheguei ao local, já estava familiarizada, conhecia os procedimentos”, explica.

Quando João Miguel decidiu que iria nascer, no dia 15 de março de 2019, Danielle estava tranquila. “Eu comecei a sentir e esperei até as 6h até acionar a minha doula. Avisei que saiu um sangue, estava sentindo uma dorzinha e ela já me disse: ‘Se prepara que é hoje’. Ela veio para casa, ficamos juntas, ela fez massagem em mim e então as contrações começaram a ficar mais rápidas, de cinco em cinco minutos”, relembra.

João só nasceu às 18h, com 3,850 kg e 51 cm, depois de um grito bem forte de Danielle. “Eu fiquei me segurando durante todo o parto para não gritar, não queria fazer escândalo, mas quando eu senti que ele iria sair, que precisaria fazer a força necessária, eu não sei nem da onde saiu o grito, mas saiu – e forte. Foi quando ele nasceu”, conta Danielle, que, ao relembrar, não segura as lágrimas. “No dia eu nem chorei; fiquei com tanta adrenalina. Mas agora, relembrando, eu fico emocionada”, diz.

Doulas

Apesar da presença das doulas ter se popularizado nos últimos anos em Campo Grande, o acesso das profissionais nesse momento especial da vida das gestantes ainda era incerto. De acordo com a doula Laís Camargo, ainda no ano passado foi barrada algumas vezes nos hospitais da cidade. “Na prática quem manda é o médico do plantão ou a enfermeira chefe. Já aconteceu de eu chegar no hospital e a enfermeira chefe me dizer ‘você não vai querer arranjar problema pra sua amiga que está parindo né?’”, relembra.

Na teoria, a partir do mês passado uma lei estadual específica permite que as doulas acompanhem as mães em maternidades, casas de parto e hospitais públicos. A lei de autoria do deputado José Carlos Barbosa (DEM) foi aprovada na Assembleia Legislativa, sancionada pelo governador do Estado, Reinaldo Azambuja, e publicada na edição de 19 de novembro do Diário Oficial do Estado (DOE).

Com a lei, a doula pode acompanhar a mãe e sua presença não se confunde com a presença do acompanhante instituído pela Lei Federal nº 11.108, de 7 de abril de 2005. A doulagem e suas atividades auxiliares somente podem ser exercidas por pessoas legalmente certificadas e/ou inscritas nas instituições de classe oficializadas, como associações, cooperativas e sindicatos com jurisdição na área onde ocorra o exercício do mister.


Doula há quatro anos, Laís realizou diversos cursos para poder exercer o acompanhamento de grávidas e diz que um dos pontos essenciais da profissão é respeitar a hierarquia que existe nas casas de saúde. “A maioria dos médicos já entende que tudo é com boa intenção, que a presença da doula facilita o trabalho deles, na verdade. Um exemplo é que a gente consegue ficar um bom tempo com a mulher antes de ela ir para o hospital. Até alguns etados estudam colocar doulas no Sistema Único de Saúde. Apenas alguns médicos que ainda são resistentes”, explica.

Integrante do movimento Doulas na Tradição, Laís explica que toda terça-feira, às 19h, acontece uma roda para casais grávidos, para sanar dúvidas de futuros pais que desejam o acompanhamento de uma doula. A taxa de participação é de R$ 20,00 individual e R$ 30,00 para casais. Informações pelo telefone (67) 99967-8276.
Com informação do Portal Correio do Estado

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