segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Mudança de cenário tira carne do marasmo

                                                         Foto; Divulgação
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O mercado do boi está em ebulição. As cotações têm apresentado sucessivas altas nos mercados físico e futuro, de maneira generalizada em todo o Brasil. Iniciando o ano cotada a R$ 149, a arroba atingiu o patamar de R$ 231 no final de novembro, em São Paulo, conforme dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP.


As cotações atravessaram a maior parte de 2019 “andando de lado”, ou seja, sem grandes variações, oscilando entre R$ 150 e 160. Contudo, na segunda quinzena de outubro rompeu esse patamar e, desde então, vêm subindo a níveis expressivos. Somente em novembro, a valorização foi de 36,24%, partindo de R$ 169,55 no dia primeiro e alcançando R$ 231 no dia 27, recorde real da cotação.

Diversos fatores contribuem para explicar esse cenário de alta, entre eles a exportação. De janeiro a outubro, o Brasil enviou 1,46 milhão de toneladas de carne bovina ao mercado externo, conforme a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). O montante representa aumento de cerca de 10% frente ao mesmo período do ano passado (1,3 milhão de t), consolidando 2019 como ano de exportações recordes para o país e injetando 5,7 bilhões de dólares na economia nacional.

O Brasil aumentou as exportações para 100 países, de um total de 174 com os quais negocia sua carne bovina. A China ainda figura como o principal destino (318 mil toneladas), seguida por Hong Kong (284 mil t) e Egito (151 mil t).

A China tem elevado as compras do Brasil, não apenas de carne bovina, mas de frango e suínos, reflexo da peste suína africana que vêm assolando rebanhos da Ásia e parte da Europa. Em 2019 houve acréscimo de 23% no volume e 7,5% em receita da carne bovina embarcado para os chineses, que respondem por 21% do total exportado pelo Brasil.

Para os Emirados Árabes, o incremento foi de 175%. Merece destaque também o mercado russo, que saltou da 37ª posição em 2018 para a 6ª nesse ano, elevando suas compras em impressionantes 1.695%. Durante todos os meses de 2019 foram embarcados volumes superiores à média mensal dos últimos cinco anos. Neste cenário total, a diferença do resultado das exportações de 2018 e 2019 representa 132 mil toneladas, que, com o peso médio de carcaças de 247,5 quilos por cabeça neste ano, segundo o IBGE, representa um volume correspondente a 500 mil animais.

Mercado Interno

No contexto do mercado interno, em novembro ocorreu o pagamento da primeira parcela do décimo terceiro salário para os trabalhadores brasileiros, melhorando o poder de compra da população. Soma-se a isso a melhoria da economia brasileira, ainda que tímida, com redução na taxa de desemprego e até mesmo a recém-instituída política de saque de parte dos recursos do FGTS, aquecendo o comércio e, consequentemente, a demanda interna, que geralmente absorve 80% a produção nacional.

As festividades de fim de ano também têm a sua influência sobre o mercado da carne bovina. Tradicionalmente, a série histórica do IBGE aponta que o último trimestre do ano concentra a maior parte dos abates anuais no Brasil, 25,37%, com destaque para dezembro, que concentra 8,6% do volume total. As vendas de carne bovina nesse período do ano aquecem o mercado e proporcionam valorizações, pela lei da oferta e demanda.

Contudo, o bom desempenho das exportações tem aumentado a demanda em uma velocidade superior à oferta de boiadas, que somada à expressiva demanda interna, culmina nos atuais valores da arroba.

As indústrias têm tido dificuldade para encontrar animais terminados, resultando em uma competição acirrada. Por conta disso, há relatos de negócios fechados a R$ 240 a arroba, em São Paulo, principal praça do país.

Considerando apenas os abates com Serviço de Inspeção Federal (SIF), dados do Ministério da Agricultura apontam para uma redução de 4,5% no número de animais abatidos em 2019 frente a 2018. De janeiro a novembro de 2019 foram abatidos 21,5 milhões de cabeças nessas indústrias ao passo que em igual período de 2018, foram 22,5 milhões.

A demora na chegada das chuvas em todo o Brasil, especialmente na região Centro-oeste, deve atrasar a oferta de animais terminados a pasto no início do ano. As cotações aquecidas do dólar, por sua vez, favorecem ainda mais as exportações, mantendo, portanto, a demanda externa aquecida. Dessa forma, o mercado deve se manter firme para o pecuarista terminador pelos próximos meses.

Reposicionamento do mercado

Ainda assim, é importante lembrar que apesar do bom momento para os pecuaristas, esse cenário não se trata de um “boom” de preços. Recordes nominais e reais foram batidos. Contudo, em termos reais, apesar do novo recorde, o que tem ocorrido é um reposicionamento da arroba no mercado.

Nos últimos quatro anos, os pecuaristas têm enxergado certo marasmo no mercado do boi gordo. As grandes oscilações registradas desde então foram negativas, reflexos das operações Carne Fraca e Bully, que derrubaram as cotações da arroba. Contudo, ao deflacionarmos os valores desde janeiro de 2015, o que tem havido é uma correção nas cotações.

Após quatro anos de mercado apático, o final de 2019 representa um bom momento pelos pecuaristas, que, até então, registravam redução das margens. Em janeiro de 2015, com o valor de uma arroba era possível adquirir 6,9 sacas de milho e 54,7 litros de óleo diesel. Já em janeiro de 2019, as cotações da arroba permitiam ao pecuarista adquirir o equivalente a 5,2 sacas de milho e 44,29 litros de diesel, redução de 24,6 e 19,1%, respectivamente.

Para o bezerro, a relação de troca do pecuarista se manteve estável nesse período. Considerando um boi gordo de 16,5 arrobas, a venda de um animal permitia a aquisição de 1,9 bezerro em janeiro de 2015. No mesmo mês de 2019, essa relação alcançou 2,02. Porém, no final deste ano, a forte elevação das cotações permitiu alcançar um fator de conversão de 2,22 bezerros/boi gordo.

Desta forma, a análise do comportamento do mercado permite apontar que o atual momento é apenas uma correção abrupta após quatro anos de cotações “mornas” em termos nominais. Num primeiro momento, o pecuarista deve comemorar. Mas, sem esquecer que é o momento de otimizar na gestão e se capitalizar para investir na atividade, especialmente no bem mais precioso das propriedades pecuárias: as pastagens.

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