quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Novo presidente da Caixa quer abrir agências e descarta corte acentuado nas taxas de juros do banco

 

                                            Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo


O governo passou o comando da Caixa Econômica Federal aos partidos do Centrão em troca de apoio no Congresso, demitindo uma mulher na presidência do banco, Rita Serrano. Para a vaga foi nomeado Carlos Antônio Vieira Fernandes. Graduado em Estudos Sociais pela Universidade Federal da Paraíba, Vieira é funcionário aposentado do banco, por onde passou por vários postos. Ele é uma indicação do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).


Em entrevista ao GLOBO, a primeira desde que foi anunciado, Carlos Vieira minimiza o loteamento político da Caixa, alegando que vai priorizar a competência na composição da sua equipe. Diz que é uma dinâmica natural entregar cargos para o Centrão, e afirma que não se pode julgar executivo “porque é ligado a A, B ou C, mas se ele é competente”.


Ele afirmou ainda que deve abrir novas agências, caminho diferente do que vem sendo adotado especialmente por bancos privados. Diz também não ser necessário fazer cortes muito acentuados nos juros do banco porque não é a taxa que traz o cliente para a instituição. Mas diz que Lula pediu para a Caixa ser indutora de crescimento.


O governo decidiu entregar a Caixa ao Centrão para ampliar a base de apoio no Congresso?


Essa é uma dinâmica natural. Houve um dimensionamento muito grande em relação a um processo que sempre existiu, de se contemplar dentro da base do governo aqueles partidos que são fiéis.


O senhor vai atender os partidos na formação da sua equipe?


O aspecto que nós vamos privilegiar na composição da equipe é a competência. Não podemos julgar qualquer executivo porque é ligado a A, B ou C, mas se ele é competente. Ele tem que demonstrar respeito à governança da organização, cumprir as diretrizes determinadas, o orçamento. Todas as decisões da Caixa são colegiadas.


Como fazer indicações políticas e ao mesmo tempo indicar pessoas com perfil técnico?


Não são as relações que invalidam o perfil de quem vai entrar nas organizações, é o comportamento delas. Não é o processo de escolha que invalida a conduta de um profissional. Além disso, todos os vice-presidentes da Caixa passam por um comitê de elegibilidade.


Como blindar a Caixa de escândalos ocorridos no passado, de corrupção e acusações de assédio sexual e moral?


O meu processo de gestão passa por três fatores que são: ter resultado, satisfação do cliente e dos colaboradores. Sou um servidor público, estou aqui a serviço do governo, da sociedade. Não pretendo a essa altura do campeonato macular a história que construí por onde passei.


Reforma tributária: E eu com isso? Preços vão cair? O que é imposto em cascata?

Fui secretário-executivo de ministérios por cinco anos e presidente do terceiro maior fundo de pensão do país, a Funcef, e nenhuma das questões colocadas fizeram parte da minha vida.


Está preparado para lidar com as pressões de políticos na Caixa?


A pressão política por onde passei nos ministérios é muito maior do que aqui. Fui gestor num ministério (das Cidades) que tinha 70% do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), as emendas vinham de lá. A Caixa é apenas a executora da política pública. Ela é contratada pelo governo. Sobre isso, eu me sinto muito confortável.



Vai receber parlamentares na Caixa?


Receberei parlamentares, representantes de movimentos sociais, empresários da construção civil e clientes da Caixa. O parlamentar vem aqui não só buscar a sua emenda, mas para tratar de recursos para os municípios onde ele tem atuação.


Quero fazer uma interação de negócios, se liberar recursos para os municípios quero que a folha de pagamento venha para a Caixa. Quero dar consignado para o servidor municipal



O que Lula pediu?


Ele entende que a Caixa é um banco social, ele quer que a gente gere a governança devida, gere resultados como um banco social e que procuremos ser indutor de crescimento. A Caixa por ser um banco oficial precisa dar crédito, como fez em 2008, na crise financeira internacional, em uma ação anticíclica adotada pelos bancos públicos com êxito no segundo governo Lula.


A Caixa vai ressuscitar essa política?


Vivemos um momento diferente de 2008, temos uma economia tradicional e uma nova economia impulsionada pelo movimento digital. Temos 150 milhões de pessoas que têm relações com a Caixa, mas precisamos potencializar essa base, fazer o mesmo que as instituições financeiras entrantes estão fazendo.


Com a trajetória de queda na Selic, a Caixa fará cortes mais acentuados nas taxas de juros?


Temos que competir com outros bancos em relação aos produtos de mercado e, por sermos um banco social, ter uma relação diferente como o acionista em relação aos outros, podemos oferecer taxas mais competitivas. Mas não precisamos fazer cortes muito acentuados porque não é a taxa que vai fazer com que o cliente venha para nós, é um conjunto, preço, praça, propaganda, ponto de venda e promoção.


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A Caixa também precisa trabalhar o marketing de relacionamento para que as pessoas se sintam estimuladas a consumir nossos produtos.


Como vai endereçar o processo que está parado na Caixa sobre a construção do novo estádio do Flamengo?


Se for rentável para a Caixa, vamos fazer. O Flamengo é um expoente do esporte brasileiro. Podemos fazer uma PPP, por exemplo, mas preciso entender melhor o projeto. Um negócio privado é sempre bem-vindo se for bom para a Caixa.


Vai abrir novas agências e realizar concursos?


Devemos abrir, mas mais do que isto é descobrir a vocação das agências. Não posso forçar uma agência, localizada em um lugar não propício à venda de cartão e sim fazer programas sociais, ter alta rentabilidade. Vamos mudar o modelo de avaliação das agências. Não vejo problema em abrir agências e fazer concurso público.


Temos de ter consciência sobre fazer o papel social e ao mesmo tempo, ter um resultado que justifique toda ação de um banco.




Por 

— Brasília- O Globo

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