Foto: Andrew Yates/EPA
O duelo que será realizado em Glasgow, definirá o adversário do País de Gales, no próximo domingo
ESTADÃO CONTEÚDO
Quando a bola rolar para Ucrânia e Escócia na semifinal da repescagem por uma vaga na Copa do Mundo do Catar, nesta quarta-feira, às 15h45, outros ucranianos, da mesma faixa etária dos jogadores, estarão em trincheiras lutando pelo seu país contra a invasão russa em ação militar iniciada em fevereiro.
Os atletas da Ucrânia têm um desafio que, possivelmente, nunca imaginaram em suas carreiras. O duelo, que será realizado em Glasgow, definirá o adversário do País de Gales, no próximo domingo, para ver quem carimba o passaporte ao Mundial deste ano Além da vaga, o orgulho ucraniano está em jogo.
"Se conseguirmos (vaga para a Copa do Mundo), eu terei vivido a minha vida por um motivo", disse o técnico Oleksandr Petrakov, cuja família está na Ucrânia, ao jornal The Guardian. "Eu tento brincar, contar aos atletas algumas histórias interessantes do futebol e da vida, para levantar o ânimo deles. É importante distraí-los dos maus pensamentos, mas, por outro lado, todos sabemos que as pessoas estão morrendo pela Ucrânia. Eles têm de mantê-los em suas mentes e corações, pois todo o país está esperando por alguma felicidade".
Cada membro da seleção ucraniana guarda na memória histórias recheadas de capítulos de tristeza, medo e preocupação para contar da guerra.
Atletas e integrantes da comissão técnica estão sempre em contato com seus amigos e familiares, já que todos ainda têm pessoas próximas no país bombardeado pelos russos a mando do presidente Vladimir Putin. Motivação para vencer o jogo e dar um pouco de felicidade ao seu povo, claro, não falta, mas o futebol fica muitas vezes em segundo plano.
O volante Taras Stepanenko, do Shakhtar Donetsk, precisou mentir para os três filhos sobre os mísseis diários, dizendo que a ofensiva militar russa era longe de onde estavam.
O meia Oleksandr Karayev sabe que seu irmão e sua cunhada, que deu à luz uma menina há pouco mais de um mês, têm acesso à água e comida, mas ele não pode enviar remédios porque ouviu rumores de que os russos confiscam medicamentos.
O goleiro Dmytro Riznyk, de 23 anos, passou os primeiros quatro dias da guerra em uma maternidade na cidade de Poltava, acompanhado da sua mulher e do filho recém-nascido. Mas no dia 30 de abril, Riznyk se juntou aos companheiros de seleção em uma viagem de ônibus de 20 horas de Kiev até a base de treinos, na Eslovênia.
Assim o time se prepara para a disputa da vaga para a Copa.
TODOS QUEREM QUE A UCRÂNIA VENÇA
"Quando você assiste (o que acontece lá), é horrível. Você não pode evitar, mas precisamos tentar separar isso. Não consigo imaginar o que eles estão passando, mas temos de estar prontos para a batalha. Como jogadores, queremos ir a uma Copa do Mundo", disse à BBC.
"Provavelmente todos no mundo querem que a Ucrânia vença. Se fosse qualquer outro país, eu provavelmente gostaria que eles vencessem, mas infelizmente eles estão jogando contra o meu país".
Aos 64 anos, o técnico Petrakov, que levou a Ucrânia a ser campeã mundial sub-20 em 2019, tentou se alistar ao exército no início da guerra, mas foi dispensado. "Seria errado eu fugir da cidade em que nasci", contou à revista Time.
"Mas eles disseram 'você é muito velho e não tem experiência militar. No entanto, é melhor você nos trazer a vaga para a Copa do Mundo'". O treinador quer uma punição esportiva mais pesada aos russos. "Não há raiva, apenas ódio".
Nenhum comentário:
Postar um comentário