terça-feira, 14 de junho de 2022

Temporada de exposições do Museu de Arte Contemporânea começa nesta quarta

 

Desiquilíbrio ambiental e subjetividade estão entre os temas de exposições

MARCOS PIERRY


A segunda temporada de exposições do Museu de Arte Contemporânea (Marco) para 2022, que será aberta nesta quarta-feira, às 19h, com entrada franca, põe foco em temas como o desequilíbrio ambiental, a subjetividade da urbe abandonada e do isolamento em zonas rurais, a devastação do agronegócio e a relação homem-tecnologia.


Nomes que se dedicam a diferentes suportes e linguagens, selecionados por meio de edital público, assinam os trabalhos que compõem as quatro novas exposições: Felipe Siqueira, com “Desvios Portáteis”; Finok, com “Liberdade Assistida”; o Coletivo Dodo, com “Ocupa Dodo”; e Jó Aquino, com “A Tua Cultura É o Meu Patrimônio”.


desvios

Em “Desvios Portáteis”, Felipe Siqueira apresenta uma série de colagens digitais produzidas com smartphone a partir da reciclagem criativa do lixo midiático gerado por segmentos como a publicidade, a moda, o design e a própria arte – se é que ainda é possível tal distinção.


“Gosto muito da expressão surrealista, e dentro da colagem ela se faz muito presente e forte no meu trabalho, essa reinterpretação dos signos, dos símbolos. Também abordo uma temática onírica, sensualidade, caos urbano, cidade, solidão”, divaga Siqueira, que trabalha com colagens desde 2015.


Arquiteto e urbanista de formação, pela UCDB, em 2018, o artista diz que, com a sua mostra, pretende fazer uma provocação sobre “nossa relação com a tecnologia” e como isso afeta a percepção do que é real ou imaginário. “Eu vou até o surreal para falar de coisas que vivemos na vida prática, no cotidiano”, afirma.


“O que os visitantes podem experienciar é uma mistura sinestésica, repleta de imagens que buscam essas situações e de personagens oníricos, mixando sons e sensações desse submundo digital em que mergulhamos todos os dias”, anuncia Felipe Siqueira.


liberdade

Pinturas, desenhos e uma escultura integram a mostra “Liberdade Assistida”, de Finok, nome artístico de Raphael Sagarra. O artista parte de um contato mais íntimo com moradores e pessoas que se encontram, de modo aleatório, em ambientes relacionados com a ideia de abandono. Finok utiliza fotografias, desenhos, bate-papos e suas lembranças pessoais para reinventar “narrativas de felicidade, tristeza e saudade” dos personagens.


“Os indivíduos que enfrentam múltiplas adversidades nesses ambientes problemáticos, como pobreza excessiva, ausência de atenção do Estado ou falta de água por conta do clima extremamente seco, se tornam o corpo das obras que buscam a valorização daquilo que está permanentemente em declínio, observando com beleza e visando maior atenção a essas vidas e a esses territórios, tensionando a discussão sobre o direito à igualdade dentro da nossa sociedade”, explica.


A liberdade assistida é uma das medidas socioeducativas previstas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente para jovens infratores. Além de restringir parte dos direitos legais, a medida garante ao menor acompanhamento sistemático de um assistente social e não lhe priva de liberdade, inclusive do convívio social – família, escola e comunidade.




Carol Carvalho, Gabriel Brito, Gabriel Martins, Marina Cozta, Patricia Osses, Victor Macaulin e Xulia são os sete artistas do Coletivo Dodo, que assina a “Ocupa Dodo”, mais uma mostra da nova temporada do Marco. A exposição envolve trabalhos em fotografia, fotografia de instalação, desenho, lambe e fotografia sobre tecido.


Criado com a proposta de habitar e “(re)existir em espaços urbanos inacabados, abandonados e esquecidos”, o coletivo prospecta nos locais o que entende como potencialidades, “ressignificando-os e transformando-os em espaços ativos, que abriguem acontecimentos e que gerem uma sensação de pertencimento”. Em suas ocupações, o Dodo também lança mão de videoinstalações, performances, pinturas e outros procedimentos.  


O Dodo, por meio de um mapeamento permanente do espaço urbano em Campo Grande, traça uma cartografia de “lugares possíveis”, reivindicando, então, o uso de espaços públicos com ações práticas de transformação ancoradas no binômio arte-vida.


Para a ocupação temporária da grande sala do Marco, o mesmo espaço em que até 5 de junho estavam expostas as xilogravuras de Arlete Santarosa, o coletivo destaca uma ideia particular de múltiplo deslocamento, “do marginal ao institucional, perpassando pela margem até o centro, retornando do centro para a margem, traçando suas próprias linhas e instituindo sua cartografia das transitoriedades”.


agrovilão

Em “A Tua Cultura É o Meu Patrimônio”, Jó Aquino apresenta a sua pintura, que mistura pigmentação natural de terra, tinta acrílica e óleo sobre tela para tematizar a destruição do meio ambiente. “São paisagens que fazem o espectador pensar sobre a degradação da natureza”, diz Aquino.


“A mostra faz uma reflexão do homem como autor dessa degradação por meio das queimadas, a agropecuária e a agricultura de monocultura como possíveis causadoras dos desastres ambientais, transformando as paisagens naturais em outras paisagens danificadas por essa agressão humana, uma cultura de ganância e capitalista”, denuncia o artista, que está em atividade desde 1995. Esta é a primeira vez que Jó Aquino, normalmente voltado para “o psicológico e o trauma humano”, trabalha com a questão ambiental.


“Por ter nascido no campo e ter convivido com a natureza, gosto da natureza selvagem e dos biomas, tive sempre no fundo uma preocupação ambientalista. Está na hora mais que urgente de pensar na conservação da natureza e ajudá-la a se recuperar das feridas causadas pelo homem moderno. Que no futuro próximo o homem possa ser consciente de que ele é somente um elemento da natureza e não pode ser o vilão desse desequilíbrio natural”, conclui o artista.


Serviço: Marco – Museu de Arte Contemporânea 2ª Temporada de Exposições 2022 | “Desvios Portáteis” – Felipe Siqueira/ “Liberdade Assistida” – Finok/ “Ocupa Dodo” – Coletivo Dodo/ “A Tua Cultura É o Meu Patrimônio” – Jó Aquino - de 15/06 a 28/08, de terça a sexta-feira, das 7h30min às 17h30min. Sábados e domingos das 14h às 18h. Entrada franca. Endereço: Rua Antônio Maria Coelho, nº 6.000, dentro do Parque das Nações Indígenas. Mais informações e agendamento para visitas mediadas: (67) 3326-7449.


Com informação do Portal Correio do Estado

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