Um estudo realizado pela Embrapa avaliou o uso de um sistema que reduz a incidência do carrapato Rhipicephalus microplus sem a aplicação de produtos químicos. Chamado de Lone Tick, o sistema atingiu 82% da redução da população de parasitas nos rebanhos.
O trabalho é realizado com bovinos da raça Senepol, no sistema de manejo rotacionado, nos biomas Cerrado e Pampa, obtendo uma média de dez carrapatos por animal, sem uso de acaricidas. “Quando há cerca de 40 carrapatos no animal, significa que teremos problemas econômicos no rebanho”, informa o pesquisador da Embrapa Gado de Corte Renato Andreotti, responsável pela atividade de controle.
Controle biológico
No sistema Lone Tick, do inglês carrapato solitário, são feitas mudanças no manejo, como a rotação de pastagens. Muda-se o boi de pasto, separando o animal do carrapato, e alternando consecutivamente o local de pastagem do rebanho. O tempo de uma rodada de quatro pastagens até o retorno à área inicial é de 112 dias. Esse manejo promove um vazio forrageiro / sanitário de 84 dias, no local da pastagem inicial, período em que as larvas do carrapato ficam solitárias e morrem por falta de animais no local para se hospedar e se alimentar.
O método reduz a necessidade de químicos que acabam promovendo seleção de parasitas resistentes a esses produtos. O manejo rotacionado dá ao gado melhor aproveitamento da área de pastejo, manutenção de nível de nutrição melhores e consequente ganho de peso.
O trabalho compreende cinco etapas: contagem de parasitas por animal, a coleta de carrapatos para verificação da resistência dos carrapatos aos acaricidas, coleta de sangue dos animais para avaliação da presença dos agentes da TPB e para avaliação do estado de saúde geral do rebanho e da pesagem dos animais. Em seguida é realizada uma rotação do lote de animais entre os piquetes de pastagens. A cada intervalo de troca de área é praticado o mesmo protocolo com os animais, repetindo as etapas.
Experimento de bons resultados
A raça Senepol é sensível ao carrapato e o projeto obtido sucesso. Um experimento foi realizado em Campo Grande (MS), durante um ano, com um grupo de 37 animais desmamados machos da raça Senepol, com infestação natural de carrapatos, foram divididos em dois grupos, de 21 e 16 animais respectivamente, sendo feita a rotação de pastagem com intervalo de 28 dias e sem a utilização de acaricidas. Uma área, de 32 hectares, foi dividida em quatro piquetes de oito hectares, com pastagem de Brachiaria brizanta, vr. Marandu.
O primeiro lote de animais foi escolhido na pastagem no início do experimento e os animais do segundo lote, após seis meses. Em cada intervalo foi contabilizada a quantidade de carrapatos nos animais. A média inicial de 26,2 carrapatos no primeiro mês caiu para 1,5 carrapato aos 56 dias. O resultado se repetiu e manteve um número baixo de carrapatos nos animais sem uso de acaricidas até o fim do experimento.
O cientista conta que a manutenção de uma baixa contagem de carrapatos nos animais é desejável para a manutenção da estabilidade enzoótica dos agentes infecciosos responsáveis pela TPB, ou seja, isto significa que os animais estão protegidos naturalmente contra a doença em função de estarem em contato permanente com baixas quantidades de carrapatos. “Com base nos resultados demonstrados, concluímos que uma rotação com 84 dias de vedação dos piquetes foi efetiva no controle do carrapato sem a utilização de carrapatos, sendo possível, nas condições do bioma Cerrado, criar raças mais produtivas e com custo menor no controle do parasita agregando valor na cadeia produtiva”, salienteou Andreotti.
Além disso, o rebanho obtém um ganho experimental de peso médio diário de 0,425 gramas durante a pesquisa. Na contagem de carrapatos, o primeiro lote de animais alcançou uma média de 6,2 carrapatos por animal e o segundo lote, 10,36 desejou, sem a utilização de acaricidas durante o experimento.
A meta agora é conseguir resultados semelhantes na raça Angus - animais produtivos e mais sensíveis ao carrapato - e presentes em diferentes regiões do país. O estudo será realizado por, pelo menos, dois anos.
Perdas pelo carrapato
Estima-se que haja perda de um grama de carne por carrapato ao longo do ano. A presença do carrapato nos animais faz com que seus agentes causem o aparecimento da doença conhecida como tristeza parasitária bovina (TPB) causada pelos agentes: Babesia bovis, Babesia bigemina e Anaplasma marginale, o que pode levar os animais à morte. Caso não seja adotado um controle pelo produtor, este sofrerá grandes prejuízos.
Um agravante do problema vem do melhoramento genético. Os produtores de gado de corte utilizam cruzamentos com raças mais produtivas para aumentar a produtividade do seu sistema por meio da precocidade, qualidade da carne, entre outros fatores, mas essas raças são mais sensíveis ao carrapato. “O rebanho acaba ficando refém das infestações por carrapatos, porque foi adicionado uma nova definição genética dessa população de bovinos cruzados em sistemas de produção. Estima-se que haja perda de um grama de carne por carrapato ao longo do ano, por isso se justifica economicamente a necessidade de controle ”, explica Andreotti.
Com o gado de leite o problema se repete. Animais mais produtivos costumam também ser mais sensíveis ao carrapato, e isso provoca uma perda anual de leite de 95 kg por animal, principalmente com raça holandesa e em sistema de produção familiar, acarretando diminuição nos lucros.
O pesquisador explica que os animais de raças europeias e seus cruzamentos são totalmente dependentes de controle do carrapato para poder expressar seu potencial produtivo genético, caso contrário, corre o risco de, além de não produzir, perder o investimento realizado no rebanho devido à mortalidade causada pela TPB.
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