sexta-feira, 12 de abril de 2019

Expogrande perde vocação rural e vira feira de shows



Aline Oliveira

A edição da 81ª Expogrande, realizada entre os dias 4 e 14 de abril é cenário de desolação para empresários e produtores rurais que sempre prestigiaram o evento, um dos mais tradicionais do Estado e localizado em Campo Grande, em região privilegiada. Embora a organização seja comandada pela Associação de Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), os shows realizados no evento foram terceirizados e literalmente “apagaram” o objetivo da feira que é realizar exposição de empresas que atuam no fornecimento de insumos e equipamentos da cadeia agropecuária do Estado.

O presidente da Acrissul, Jonatan Barbosa, divulgou em maio do ano passado, durante programa de televisão institucional (TV Acrissul) que na oportunidade, foram realizados 18 leilões (bovinos e equinos), comercializados 3.400 animais que resultaram na receita de R$ 9.600 milhões. Em todos dias de evento visitaram a exposição, 700 mil pessoas, além de grupos com visitas guiadas, de estudantes da rede pública de ensino.

No entanto, a edição de 2019 terá apenas oito leilões, o que representa uma queda de mais de 50% em relação ao ano anterior.

Desânimo

A equipe do jornal Correio do Estado conversou com alguns expositores que demonstraram decepção em relação ao valor cobrado pela participação (espaços / estandes).

Um dos expositores é gerente de marketing de uma empresa que atua no setor pecuário e pediu para não ser identificado. Ele destaca que a mudança aconteceu gradualmente e se intensificou nos últimos cinco anos. “Sempre prestigiamos a Expogrande por considerá-la um espaço importante para prospecção de clientes. Nós montamos uma equipe especialmente para atender os produtores rurais e o que temos testemunhado nas três últimas edições é um cenário de esvaziamento do público-alvo e a vinda de pessoas somente para assistir os shows”, relata.

No entendimento do gerente, os shows são importantes, assim como diversões infantis e praça de alimentação, mas, não podem ofuscar que o evento é na verdade uma reunião para negócios rurais, a exemplo do que acontece em outras cidades de Mato Grosso do Sul. “Montamos uma estrutura confortável e que atenda bem nossos clientes e só não tivemos prejuízo porque eles vem até a exposição. O cenário é esse que você está vendo, um deserto durante a semana e no período do diurno. Somente no fim de semana e na parte da noite o fluxo melhora com o público que vem assistir os shows”, argumenta.

Outro empresário do ramo de equipamentos pecuários também demonstrou desagrado em relação ao valor pago pelo estande. Ele conta que expõe há pelo menos uma década na feira, mas, o valor cobrado (em média R$ 9 mil reais) durante os 10 dias de evento é muito alto.


“Trazemos uma estrutura de estande que custa pelo menos R$ 20 mil reais, temos que comprar bebidas que servimos no estande da Expogrande com valores abusivos. Colocamos uma equipe para atender durante todo o dia e o que menos encontramos aqui são produtores rurais. Ficamos desapontados com o desrespeito com os empresários, expositores  e produtores rurais”, desabafa Jorge Veras.

Os dois entrevistados informaram que farão um levantamento dos custos para manter os estandes no evento e estão dispostos a não participar da Expogrande no próximo ano.

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