quinta-feira, 15 de junho de 2017

ESTREIA–Doença rara aproxima e embala romance juvenil em “Tudo e Todas as Coisas”



Cada geração tem seu “Love Story”, aquele filme de amor e lágrimas. É o caso de “Tudo e Todas as Coisas”, que já vem sintonizado com o presente, embalando um romance interracial e relações digitais, escondendo o empoeirado mote de garota que se apaixona por garoto, mas que não podem viver a relação por algum motivo – no caso, por uma condição imunológica rara e grave que a impede de sair de casa. O fato de sua mãe ser médica e rica ajuda no tratamento.

Maddy (Amandla Stenberg, de “Jogos Vorazes”) tem quase 18 anos e vive confinada em uma mansão esterilizada, onde mantém contato apenas com a mãe, Pauline (Anika Noni Rose), e a empregada/enfermeira mexicana, Carla (Ana de la Reguera), que cuida dela há tempo suficiente para se ter tornado amiga. Entre os sonhos da menina está ver o mar de perto, mas sua condição a impede. Para aplacar a solidão, ela lê muito e conversa, pela internet, com seus amigos – também portadores da doença – espalhados pelo mundo.

A chegada de Olly (Nick Robinson), que se muda para a casa ao lado, desperta emoções e sentimentos que Maddy não conhecia ou sufocava. Não custa muito, e eles se veem pela janela de seus quartos, e logo estão trocando mensagens pelo celular. Seria maçante acompanhar duas pessoas apenas digitando e lendo mensagens, mas a diretora Stella Meghie encontra uma saída criativa para isso.

Porém, ela não é capaz de escapar das armadilhas da trama, escrita por J. Mills Goodloe, a partir do romance homônimo juvenil de Nicola Yoon. A história de amor é previsível e açucarada para arrancar lágrimas de quem está descobrindo o mundo e a si mesmo.

O fato de Maddy arriscar a própria vida – ela convida Olly para dentro de sua casa, com ajuda de Carla, embora cada um fique num extremo da sala – não é inesperado, nem a reviravolta do filme digna de novela mexicana. Basta prestar atenção nos detalhes – coisa que a própria protagonista não faz – que o clímax faz até sentido.

O que não muda, porém, o fato de a resolução da trama ser ética e moralmente condenável. O filme pede simpatia por uma personagem que beira a psicopatia. Tal qual Maddy, “Tudo e Todas as Coisas” é um filme que acontece numa bolha selada sem muitos pontos de contato com a realidade. Nele, pobreza ou preconceito racial não existem. E nem seu retrato da condição da saúde da personagem é muito honesto, dando margem a uma visão equivocada da imunodeficiência e seu tratamento – tanto que a associação americana de portadores da doença lançou uma nota condenando a abordagem do filme.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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