Jornal do Brasil
A internet, com serviços como Netflix, e a TV a cabo são alternativas para a difusão do cinema nacional, principalmente o independente. Esses canais, no entanto, ainda são pouco explorados pelos cineastas. A questão fez parte das discussões de nesta quinta-feira (23)do Festival Latinidades, em Brasília. Sob o tema do festival, Cinema Negro, cineastas e pesquisadores debateram a representação de mulheres negras no cinema e a difusão do cinema negro e africano.
"Muitos cineastas, principalmente os independentes, ficam preocupados com a difusão dos filmes nos festivais e com uma distribuição nas salas de cinema, que é cada vez mais difícil. Mas existe um outro mercado", diz a diretora, roteirista, produtora e artista visual Sabrina Fidalgo. Segundo ela, é importante que os cineastas busquem informações de como fazer esses contratos, de modo a ter retorno financeiro e o filme ser amplamente difundido.
"Os blockbusters [campeões de bilheteria] fazem isso automaticamente. Os diretores autorais, independente de serem do cinema negro ou não, estão fazendo também. Mas isso tem que ser mais divulgado. Acho que eles têm de se sentir mais confiantes de liberar as obras para o licenciamento de plataformas online", diz. Sabrina trabalhou em produções na Alemanha, França, Brasil e Marrocos, e apresenta o programa de web TV Super Bapho.
Como um dos canais na web, ela cita o Netflix – plataforma que, mediante uma mensalidade, oferece vasta programação aos usuários, que podem escolher quando e qual conteúdo querem assistir. De acordo com dados da empresa, mais de 50 milhões de pessoas usam o serviço em diversas partes do mundo.
Sabrina não descarta, no entanto, a importância dos festivais nacionais e internacionais, que conferem visibilidade às produções. Segundo ela, mesmo que o filme não seja selecionado, é importante a participação do cineasta para ampliar a rede de contatos.
A cineasta Pascale Obolo, que nasceu em Camarões e vive na França, defende a internet como um meio não apenas de difusão da produção, mas de informações. Segundo ela, "as barreiras, que são muitas vezes impostas, podem ser transpostas pelas novas tecnologias. Podemos circular e transmitir informações".
Cinema Negro
Para a cineasta Juliana Vicente, fundadora do Preta Portê Filmes, que produziu obras premiadas no Brasil e exterior, o maior desafio de abordar questões raciais no cinema é "levar esse assunto onde as pessoas não querem ouvi-lo".
Ela é diretora do curta-metragem Cores e Botas, que conta a história de uma menina negra com um sonho muito comum a muitas dos anos 1980: ser paquita no programa da Xuxa. Porém, nunca se viu uma paquita negra.
"Queria um filme que entrasse fácil na casa de qualquer um, branco ou preto, para que as pessoas se identificassem, assistissem até o final e, no final, dar o recado dele", disse Juliana, e acrescentou que "esse é o desafio: levar, fazer com que as pessoas se permitam ver e se identificar".
O Festival Latinidades, criado em 2008 para comemorar o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, é o maior festival de mulheres negras da América Latina. O evento começou ontem (22), em Brasília, e vai até domingo (26). A programação, que inclui palestras, exibições de filmes e shows, está disponível no site www.afrolatinas.com.br.
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