domingo, 7 de dezembro de 2025

Inglaterra pede que população pare de procurar pronto-socorro por unha encravada e soluços

 

                                              Painel em Londres mostra trabalhadores do Serviço Nacional de Saúde da Inglaterra (NHS) - Justin Tallis -5.jan.2022/AFP

  • Saúde teme que serviço fique sobrecarregado pela temporada de gripe junto a greves trabalhistas

  • Prontos-socorros já registraram 37 mil visitas a mais em outubro do que no mesmo mês do ano passado



Povo da Inglaterra: por favor, tratem suas unhas encravadas e soluços em casa. Não incomodem os serviços de emergência com isso.


Essa foi a mensagem desta quinta-feira (4) do Serviço Nacional de Saúde da Inglaterra (NHS), alertando que os prontos-socorros têm ficado "sob cerco" por uma enxurrada de problemas menores em invernos anteriores.


O serviço tenta promover alternativas às emergências —como farmacêuticos, centros de atendimento urgente e sistemas online— como primeiro ponto de contato, em meio ao temor de que trabalhadores hospitalares possam ficar sobrecarregados pela combinação de temporada de gripe e greves trabalhistas neste inverno.


A iniciativa inclui um vídeo, "24 hours NOT in A&E" (24 horas NÃO no Pronto-Socorro) —uma referência ao nome de um reality show sobre unidades de Acidentes & Emergências, como os prontos-socorros são chamados no país. O vídeo do governo mostra pessoas buscando tratamento para questões médicas menores em uma farmácia ou pedindo uma receita repetida online, para demonstrar como acessar atendimento sem lotar os serviços de emergência.


Segundo o NHS England, gestor do sistema público de saúde no país, no último inverno, entre 1º de novembro e 28 de fevereiro, pessoas em todo o país foram ao pronto-socorro mais de 200 mil vezes por problemas como dor de garganta (96.998 visitas), dor de ouvido (83.705), coceira na pele (8.669), congestão nasal (6.382), unhas encravadas (3.890) e soluços (384).


Os dados se referem apenas a hospitais na Inglaterra, já que a política do NHS é administrada separadamente na Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte.


O NHS britânico, fundado em 1948, oferece atendimento gratuito para pessoas que são "residentes habituais". Há anos está sob pressão por causa de longos tempos de espera e problemas de financiamento, com muitos funcionários enfrentando exaustão e burnout. Ainda assim, é amado e motivo de orgulho entre os britânicos, muitos dos quais se chocam com o custo da saúde nos Estados Unidos e temem a possibilidade de privatização que um acordo de livre-comércio entre os dois países poderia trazer.


Neste ano, médicos residentes na Inglaterra planejam fazer greve de 17 a 22 de dezembro por causa de uma disputa salarial, aumentando o temor durante a tradicional alta de doenças de inverno, que começou mais cedo que o habitual.


O NHS England afirmou esperar enfrentar uma temporada de gripe sem precedentes este ano, com "nenhum pico à vista". Os prontos-socorros já registraram 37 mil visitas a mais em outubro do que no mesmo mês do ano passado, disse a agência.


Julian Redhead, diretor nacional de atendimento urgente e emergencial do NHS England, em comunicado separado nesta quinta-feira, pediu que aqueles preocupados com sua saúde procurem atendimento, mas afirmou que "o aumento explosivo de casos de gripe coincidindo com greves pode levar nossa equipe ao limite nas próximas semanas".


O alerta veio um dia depois de o Royal College of Nursing, que representa mais de meio milhão de profissionais de enfermagem no Reino Unido e internacionalmente, dizer que dados do NHS England mostraram um "aumento impressionante" no número de pessoas esperando mais de 12 horas no pronto-socorro para serem internadas.


"Todos os dias, milhares de pessoas em todo o país são obrigadas a receber tratamento à vista de outros pacientes, em locais inadequados como corredores, cafés e até banheiros, onde a equipe de enfermagem não consegue acessar facilmente equipamentos potencialmente salva-vidas", disse Nicola Ranger, secretária-geral e diretora-executiva do RCN, em comunicado nesta quinta-feira. "É indigno e inseguro."


Ela acrescentou: "Com urgência, o governo precisa melhorar os níveis de pessoal e a capacidade dos departamentos de emergência, além de investir em serviços comunitários que permitam manter as pessoas saudáveis em casa e fora do hospital."


Wes Streeting, secretário de Estado para Saúde e Assistência Social do governo britânico, disse que o governo está trabalhando para garantir que os pacientes sejam atendidos "neste período de intensa pressão".


"Todos podemos fazer nossa parte neste inverno garantindo que só usemos o A&E… para acidentes e emergências reais", afirmou em comunicado nesta quinta-feira.


Victoria Craw

The Washington Post

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