quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Terceira Guerra Mundial está sendo 'travada aos poucos', diz papa em sua 1ª viagem internacional

 

                                           Yara Nardi/Reuters


  • Leão 14 se reúne com líder da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que elogia 'postura astuta' do pontífice sobre Palestina

  • Líder católico faz apelo por paz em discurso em Ancara, para onde viajou nesta quinta; depois, vai ao Líbano



Na primeira viagem internacional de seu pontificado, Leão 14, eleito papa em maio, desembarcou nesta quinta-feira (27) na Turquia, onde fez um apelo à paz e citou seu antecessor, Francisco, ao dizer que dinâmicas destrutivas de poder econômico e militar estão permitindo uma "Terceira Guerra Mundial travada aos poucos".


Em encontro com o líder turco, Recep Tayyip Erdogan, e outras autoridades, o pontífice americano-peruano disse ainda que o mundo estava sendo desestabilizado por "ambições e escolhas que atropelam a justiça e a paz". "Nós não podemos ceder de forma alguma. O futuro da humanidade está em jogo", disse ele.


Erdogan, crítico ferrenho de Israel e considerado por Tel Aviv um líder próximo do grupo terrorista Hamas, elogiou a "postura astuta" de Leão 14 sobre a questão palestina. Em setembro, o papa se encontrou com o presidente israelense, Isaac Herzog, e falou sobre a "situação trágica" da Faixa de Gaza.


Leão 14 agradeceu as boas-vindas de Erdogan e afirmou que a Turquia é uma terra "inseparavelmente ligada às origens do cristianismo" e, ao mesmo tempo, lugar em que se encontram três grandes religiões abraâmicas: o islã, o cristianismo e o judaísmo.


O pontífice também recorreu à metáfora histórica da Turquia como ponte entre mundos para criticar a polarização e as posições extremistas em um cenário global com "risco de fragmentação".


O papa fica até domingo (30) na Turquia e depois vai ao Líbano. Na primeira etapa da viagem, um dos momentos mais importantes deverá ser sua visita à cidade onde aconteceu, há 1.700 anos, o primeiro concílio ecumênico cristão.


A viagem para a celebração do Concílio de Niceia é uma continuidade com o programa do papa Francisco, que tinha falado publicamente sobre a vontade de ir à Turquia neste ano. O pontífice argentino morreu em abril.


Ocorrido na cidade que hoje se chama Iznik, a cerca de 140 km de Istambul, o concílio ocorrido no ano 325 reuniu cerca de 300 bispos e foi convocado pelo imperador Constantino, de Roma, 12 anos após ele ter liberado a fé religiosa, o que desautorizou a perseguição aos cristãos.


A tarefa principal era encontrar fórmulas dogmáticas que resolvessem divergências entre religiosos que tinham vindo à tona após a liberdade de culto e o maior confronto entre os grupos. O temor de Constantino era que as fraturas entre os cristãos pudessem ameaçar a união do império.


O tema mais polêmico era ligado à identidade de Jesus e sua ligação com Deus. Em Alexandria, no Egito, o presbítero Ário dizia que o filho era subordinado ao pai, dando a entender aos fiéis que Jesus era um Deus inferior.


"Que significa filho de Deus? O Concílio de Niceia responde que ele é da mesma substância do Pai, gerado e não criado. Que o filho é Deus de Deus, luz da luz", diz Ilaria Vigorelli, professora de teologia dogmática da Pontifícia Universidade da Santa Cruz, em Roma. "A coisa mais importante foi a confirmação, do ponto de vista teológico, da fé trinitária da Igreja, o fato de que ela celebrasse o batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo."


A programação de Leão 14 na Turquia prevê uma oração ecumênica em Iznik, perto dos restos arqueológicos de uma basílica construída no século 4, após o primeiro concílio, e ao menos dois encontros com o patriarca Bartolomeu, representante da Igreja Ortodoxa.


Se a ida à Turquia é um legado do antecessor, a escolha do Líbano tem sido entendida como parte dos esforços do americano Robert Prevost pela paz no Oriente Médio. As menções aos conflitos na região são frequentes e, logo no início da sua primeira fala como papa, ele fez apelos por uma "paz desarmada e desarmante".


Além de autoridades, está na agenda um encontro ecumênico e interreligioso na praça dos Mártires, em Beirute. No país existem 18 comunidades religiosas ativas, uma referência de convivência plural na região. A visita ocorre após ataques de Israel contra um campo de refugiados palestinos no sul do país.


Viagem do papa Leão 14 à Turquia e ao Líbano

Quinta-feira (27/11)


Partida de Roma para Ancara, com chegada prevista às 12h30 locais (6h30 de Brasília)


Visita ao mausoléu de Ataturk, fundador da República da Turquia


Visita ao presidente Recep Tayyip Erdogan


Encontro com autoridades e corpo diplomático


Sexta-feira (28/11)


Em Istambul, oração com religiosos católicos na catedral do Espírito Santo


Em Iznik, antiga Niceia, oração ecumênica perto das ruínas da antiga basílica de São Neófito


Sábado (29/11)


Em Istambul, visita à mesquita Sultan Ahmet


Encontro com líderes cristãos na igreja ortodoxa siríaca de Mor Ephrem


Oração na igreja patriarcal de São Jorge


Encontro com o patriarca Bartolomeu


Missa na Volkswagen Arena


Domingo (30/11)


Em Istambul, visita à catedral Armênia Apostólica


Discurso na igreja patriarcal de São Jorge


Almoço com o patriarca Bartolomeu


Em Beirute, visita ao presidente Joseph Aoun


Encontro com outras autoridades do Líbano


Segunda-feira (1º/12)


Em Annaya, visita ao monastério de São Maroun


Em Harissa, encontro com religiosos católicos


Em Beirute, encontro ecumêmico e interreligioso


Em Bkerké, encontro com jovens em frente ao Patriarcado Maronita de Antioquia


Terça (2/12)


Em Jal ed Dib, visita ao hospital De la Croix


Em Beirute, oração no lugar da megaexplosão ocorrida em 2020 na região portuária


Missa no Beirut Waterfront

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