Seis anos após dar ponto de partida em anos dourados, rubro-negro volta a se consagrar em Lima e se vinga do alviverde pelo vice em 2021; Danilo subiu mais alto que a defesa e definiu a final continental em um lance que o coloca na História de vez
Ninguém morre devendo ao Flamengo. O lema da torcida não se mostrou indiferente com o Palmeiras. O rubro-negro é o primeiro clube brasileiro tetracampeão da história da Copa Libertadores da América, e conseguiu isso ao derrotar o alviverde, o grande adversário nacional dos últimos anos e que o havia vencido na edição de 2021. No mesmo Estádio Monumental de Lima que, em 2019, deu o ponto de partida em uma geração que já se candidata a ser a mais bem-sucedida do clube, Danilo fez o gol de uma vitória por 1 a 0 que entra automaticamente na História.
Talvez a grande surpresa da escalação de Filipe Luís ontem, já que a indicação era a de que Léo Ortiz estava pronto para voltar de lesão, o camisa 13 cravou um lugar muito especial no Olimpo rubro-negro e do futebol. Tudo em um lance na marca dos 21 do segundo tempo: em escanteio cobrado por Arrascaeta, desvencilhou-se de Bruno Fuchs e Gustavo Gómez, que se confundiram na marcação por um segundo, o suficiente para subir alto e fuzilar o gol de Carlos Miguel.
Apenas Zico e Gabigol haviam marcado pelo Flamengo em finais de Libertadores. O eterno camisa 10 o fez em 1981, na primeira conquista. O outro definiu as edições de 2019 e 2022. Danilo não entrou apenas para este clube seleto, mas para um exclusivo: o primeiro bicampeão do torneio sul-americano e da Liga dos Campeões da Europa. Ele havia conquistado a América pelo Santos, em 2011, e duas vezes a Europa pelo Real Madrid, nas temporadas 2015/16 e 2016/17.
O título rubro-negro tem uma simbologia especial não apenas pelo ineditismo do tetracampeonato no país, mas pela campanha de superação que desaguou no confronto contra o alviverde. Muitos dos torcedores que invadiram Lima nos últimos dias e foram maioria no estádio tinham engasgados o vice de 2021, quando Andreas Pereira, agora adversário, cometeu uma falha capital. A vitória deixa o Flamengo com nove dedos na dobradinha, já que pode ser campeão brasileiro na próxima quarta-feira e fazer o rival sair de mãos vazias.
Treinador profissional há pouco mais de um ano, Filipe Luís segue fazendo história com seu quarto troféu no posto. O ex-lateral-esquerdo foi campeão em campo nos últimos dois títulos e agora entrou para o hall de nomes que venceram a Libertadores como jogador e comandante.
A campanha teve seus percalços, e a classificação na fase de grupos veio em segundo lugar, mas a equipe cresceu a cada fase e mostrou resiliência digna de campeão. Internacional, Estudiantes e Racing foram as vítimas antes do Palmeiras. Em cada confronto destes, os detalhes foram o diferencial, e o Flamengo se mostrou um time apto a eles: fosse o gol de Bruno Henrique contra o colorado, o de Carrascal contra o Racing, ou as atuações de Rossi contra os compatriotas.
Defesa sólida no fim
Como toda final, o início do jogo de ontem mostrou times mais preocupados em se estudar e preservar fisicamente do que propor uma dinâmica de jogo. Mas foi o Flamengo que se interessou mais. Com Carrascal e Varela sendo dois dos melhores em campo, Arrascaeta, Bruno Henrique e o próprio colombiano tiveram chances para abrir o placar.
A estabilidade na retaguarda vinha sendo a marca do Palmeiras, que praticamente não dava brechas. Com o desfalque de Pedro, teve mais facilidade e nivelou o enfrentamento na marca dos 30 minutos. Neste momento, cresceu e também viu o Flamengo ficar mais nervoso, com os três jogadores do meio campo — Arrascaeta, Pulgar e Jorginho — levando cartões amarelos.
Com o jogo parado, um pontapé imprudente de Pulgar em Bruno Fuchs levou jogadores do alviverde e o treinador Abel Ferreira a pedirem cartão vermelho, mas o juiz argentino Darío Herrera sequer foi chamado pelo árbitro de vídeo. Um risco desnecessário que ficou barato.
A etapa complementar não mudou muito a configuração do jogo, mas seguiu mostrando um Flamengo mais interessado, contra um Palmeiras que realmente não deixou clara a sua proposta. E quem procura acha. Qualquer detalhe faz diferença nos 90 minutos, e o Danilo foi o nome.
A partir do gol, o Palmeiras passou a sufocar para tentar o empate, mas foi a vez de aparecer uma defesa sólida do lado rubro-negro, que cedeu poucas chances. Exceção foi um chute perto da pequena área de Vitor Roque, mas Danilo, de novo, desviou. Um dos grandes nomes da campanha, o goleiro Rossi foi impecável.
Arrascaeta e Bruno Henrique foram substituídos e ovacionados, ampliando a marca de maiores vencedores da história do Flamengo, agora com 16 títulos. Cinco minutos de acréscimo passaram rápido. Nada mais foi capaz de impedir a Glória Eterna.
Por
Davi Ferreira— Rio de Janeiro
O Globo

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