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A busca por canetas emagrecedoras com efeitos mais rápidos ou custo mais baixo fez disparar no Brasil o contrabando desses medicamentos. Somente nos quatro primeiros meses do ano, a Polícia Federal apreendeu 1.095 unidades desses remédios: um aumento de 755% nas apreensões se comparado ao ano passado.
Oito em cada 10 apreensões em 2025 foram do medicamento Mounjaro, que promete emagrecimento ainda maior, mas a custos mais altos.
A venda oficial do produto no Brasil começou este mês, a preços que variam de R$ 1,4 mil a R$ 1,7 mil.
A endocrinologista Tarissa Petry, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, faz um alerta para os riscos de se utilizar o medicamento sem procedência.
"A gente vê essas, as pessoas oferecendo medicamentos na rede social, o que é um perigo e principalmente a gente não sabe o que tem nessas medicações, então há o risco de ter uma mistura de medicamentos, muitas vezes uma mistura que pode causar risco, grave a saúde, são medicações que não têm nenhuma fiscalização".
O Mounjaro é feito com um princípio ativo diferente de concorrentes como Ozempic e Wegovy: a tirzepatida. Na última semana, pesquisadores dos Estados Unidos revelaram que a nova caneta proporcionou redução média de 20% no peso dos pacientes, contra quase 14% em quem foi medicado com semaglutida, do Ozempic e Wegovy, ao final de 72 semanas.
Dados como esse despertaram o interesse de pessoas como a Fernanda, que aplica o Ozempic há cerca de dois anos e meio. Ela conseguiu perder 40 quilos no período e evitar fazer uma cirurgia bariátrica, que era recomendada pelos médicos antes do remédio. Ela vê na nova medicação a possibilidade de atingir a meta que falta.
"Desde que o Mounjaro apareceu, eu converso com o meu endócrino sobre a possibilidade de usá-lo para conseguir perder esses quilos que faltam. Mas eu vou fazer essa transição quando o meu endócrino me der ok, me prescrever. Então quando eu passar em consulta".
O médico e comentarista da CBN doutor Luis Fernando Correia destaca que, a princípio, o novo medicamento foi aprovado no Brasil para tratamento de diabetes. Portanto, o uso para obesidade e perda de peso é considerado uma prática que não está prevista na bula, o chamado off label.
"Porque você não tem aprovação pela Anvisa, então você não pode usar a tirzepatida que já tá no mercado como Mounjaro para redução de peso. A não ser que seja a aplicação off label, porque ele foi aprovado pela Anvisa para diabetes".
O especialista também ressalta que os estudos mostrando que os pacientes do novo medicamento tiveram uma redução mais significativa de peso consideraram uma dose do remédio maior do que os 2,5 miligramas ou 5miligramas que estão disponíveis no Brasil. Portanto, na prática, os resultados podem ser diferentes.
"Esse melhor resultado foi com a de 15 miligramas. Então, o paciente brasileiro tá usando o Wegovy com a dose plena, que é 2,4 miligramas, por exemplo. No estudo, ele foi comparado com 15 miligramas de tirzepatida, mas a gente não tem esses 15 miligramas por aqui. Até para o próprio médico poder tomar essa decisão".
A corrida pelo emagrecedor também virou arma de golpistas. A Anvisa emitiu um comunicado depois que anúncios falsos davam a entender que alguns sites vendiam o remédio com aval da agência nacional de vigilância sanitária. Mas isso é falso. A Anvisa informou que não comercializa ou atua como intermediário para a venda de qualquer medicamento.
As canetas emagrecedoras são consideradas uma revolução no controle do diabetes e da obesidade, mas os especialistas ouvidos pela CBN reforçam que elas precisam ter como aliada uma mudança no estilo de vida dos pacientes. Assim como fez a Fernanda.
"Esse tipo de tratamento é muito eficaz, mas que ele sozinho não faz nada. Precisa de uma mudança de estilo de vida. A gente precisa mudar a alimentação, fazer atividade física. Porque senão, quando a gente para, o corpo volta a funcionar como ele funcionava anteriormente. Eu faço acompanhamento nutricional. Antes eu era totalmente sedentária, hoje eu faço atividade física cinco vezes por semana. Então, meu estilo de vida mudou bastante. Acho que, que é por aí. O caminho tem que ser o da mudança de estilo de vida".
A Anvisa determinou que as canetas de controle da diabetes e obesidade só sejam vendidas mediante retenção da receita médica a partir do mês que vem.
CBN

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