Foto:Àlvaro Rezende-Correio do Estado
A retirada de uma árvore de grande porte da Praça do Rádio Clube, iniciada na semana passada pelas equipes da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano (Semadur), tem causado um misto de tristeza e indignação. Quem passa nas margens da Avenida Afonso Pena rapidamente percebe o impacto visual da poda, ainda em andamento, de um exemplar outrora frondoso da Falsa-Seringueira (Ficus elastica), plantada no local, próximo a um ponto de ônibus, há mais de 50 anos.
A árvore tinha aproximadamente 25 metros de altura, o que equivale a um prédio de oito andares, e vinha sendo monitorada pela Semadur há alguns anos. Na vistoria preventiva do mês de julho, informa a Semadur em nota, o parecer técnico constatou “péssimo estado fitossanitário, ausência de vitalidade, risco de queda de parte(s) dela, diversos pontos de necrose no fuste e nos ramos, além de apresentar infestação de cupim e fungos (contaminação sistêmica) que estão atacando principalmente os ramos mais altos e mais espessos da árvore”, recomendando, assim, a remoção completa.
O documento não informa a idade, o peso e o diâmetro da árvore. O corte da Falsa-Seringueira, conhecida por muitos como Figueira, está amparado no Artigo 22 da Lei Complementar Municipal de N.º 184, que dispõe sobre o Plano Diretor de Arborização Urbana de Campo Grande e prevê os casos de “supressão” de espécies vegetais. Risco de queda - total ou parcial - com danos possíveis às pessoas que circulam ou à rede elétrica deixaram a árvore, já fragilizada, mais vulnerável à poda.
“Todo ser vivo chega a uma hora de declínio”, afirma o secretário Luís Eduardo Costa (Semadur). “Essa espécie é exótica, não pertence ao nosso bioma de cerrado, e essa árvore vem apresentando degradação desde 2017, estava com a copa toda prejudicada e já teve ocorrências de partes que caíram com pessoas passando bem ao lado.”
À medida em que a poda avança, aumentam as queixas da população. “Muito triste isso, a população não tem nenhum mecanismo de controle ou consulta sobre o paisagismo urbano e as alegações para a destruição do patrimônio ambiental, público, são sempre as mesmas desculpas esfarrapadas. Dá mais lucro cortar do que cuidar, manter, preservar”, desabafa Carlos Augusto Sá, 58 anos, gestor de políticas públicas.
“Em mais de uma ocasião, a secretaria removeu árvores cuja remoção não era nem a única nem a melhor solução para os problemas. Moro no Centro e cada madrugada é uma motosserra e cada dia é uma árvore a menos. No fundo, a gente merece esta temperatura desgraçadamente quente e seca. Nós produzimos nossa própria morte”, reforça a jornalista Lúcia Carolina Trimm, 40 anos, gaúcha de Santa Rosa, que mora desde 2014 nas proximidades da Praça do Rádio Clube. “Aqui não tem representação cidadã para discutir as árvores urbanas na Câmara?”, indaga Lúcia.
“Uma pena; isso mostra que não há um acompanhamento da saúde de nossas árvores, principalmente as mais velhas que compõem a paisagem da cidade. Se houvesse, já teriam detectado e tratado e em caso de retirada, uma outra já estaria plantada ao lado. A falta dela empobrecerá a imagem”, reforça o ator Espedito di Montebranco, de 52 anos. Ele conta ter sido engraxate na infância e que a praça, com a estampa destacada da Falsa-Seringueira, fazia parte do seu perímetro de circulação.
A espécie é muito comum em diversas regiões do planeta, especialmente em zonas de alta incidência solar. Uma de suas peculiaridades são as raízes aéreas, que, com o contato com o solo, tornam-se troncos auxiliares. “Infelizmente parece que atualmente muitos campo-grandenses se reúnem mais pra furar pandemia do que para cuidar da própria cidade”, lamenta o escritor mineiro Raimundo Silva, 53 anos, que mora na capital desde a infância. “A poda me pareceu exagerada, logo perderemos o título de cidade mais arborizada”.
O próprio secretário Luís Eduardo Costa lembra que Campo Grande faz parte do grupo seleto de 57 cidades que receberam o selo “Tree Cities of the World” (“Cidade Arborizadas do Mundo”), distinção da Organização das Nações Unidas (ONU) que reconhece municípios pela presença do verde na paisagem urbana. “As figueiras da Mato Grosso e da Afonso Pena deram uma resposta muito boa aos procedimentos realizados após a tomografia, como a endocirurgia e o uso do óleo de Neem (inseticida orgânico) contra a mosca branca, mas essa já estava bem prejudicada”, diz o titular da Semadur.
Resta agora à grande figueira da praça a chance de ter o seu toco preservado, eventualmente, segundo Luiz Eduardo Costa, para alguma manifestação artística. “Vou ver essa possibilidade com a Sectur, senão vamos retirá-la toda”.
Com informação do portal Correio do Estado
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