terça-feira, 17 de abril de 2018

Dona Ivone Lara morre aos 97 anos, no Rio



Jornal do Brasil



A cantora Dona Ivone Lara morreu na noite desta segunda-feira (16) no Rio de Janeiro, por insuficiência cardiorrespiratória. Ela estava internada desde sexta-feira (13), quanto completou 97 anos, no Centro de Tratamento e Terapia Intensiva (CTI) da Coordenação de Emergência Regional (CER), no Leblon, Zona Sul da cidade, com um quadro de anemia.

O corpo é velado na manhã desta terça na quadra da Império Serrano, sua escola do coração, em Madureira, Zona Norte da cidade. O sepultamento está marcado para a tarde, no cemitério de Inhaúma.

Dona Ivone Lara, também conhecida como a Rainha do Samba, foi compositora, cantora, sambista e enfermeira. Teve uma carreira artística marcada pela busca do protagonismo em uma época em que o samba era dominado majoritariamente por homens e de difícil inserção para as mulheres. Suas composições, como Acreditar (1976), Alguém Me Avisou (1980) e Sonho Meu (1978), ficaram marcadas em sua voz e na de cantores como Maria Bethânia, Gal Costa e Zeca Pagodinho.

A cantora nasceu em 13 de abril de 1921, primeira filha da união entre Emerentina Bento da Silva e José da Silva Lara. Ele era violonista de sete cordas e desfilava no Bloco dos Africanos. Ela era cantora soprano e cantava em ranchos carnavalescos tradicionais do Rio, como o Flor do Abacate e o Ameno Resedá. O pai morreu quando ela tinha 3 anos, e a mãe, aos 12. Criada pelos tios, aprendeu a tocar cavaquinho e a ouvir samba. Teve aulas de canto com Lucília Villa-Lobos, mulher do maestro Villa-Lobos.

Formada em Enfermagem e Serviço Social, com especialização em Terapia Ocupacional, trabalhou como enfermeira e assistente social em hospitais psiquiátricos de 1947 a 1977, e atuou no Serviço Nacional de Doenças Mentais com a doutora Nise da Silveira, uma das principais referências da luta antimanicomial no Brasil.


A Portela, outra escola tradicional de Madureira, divulgou nota chamando dona Ivone Lara de "patrimônio do Império, da Portela e da cultura brasileira". Considerada um dos maiores nomes da música popular brasileira em todos os tempos, a cantora sempre foi ligada a compositores da Portela, era grande amiga de Candeia, Monarco e Paulinho da Viola.

O sambista Dudu Nobre usou o perfil no Facebook para homenagear a artista. "Obrigado por tudo dona Ivone Lara. As bênçãos, os ensinamentos, as conversas, os sambas, a poesia. Descanse em paz, Grande Dama do Samba".

Trajetória na música

Yvonne da Silva Lara, aos 12 anos, órfã de pai e mãe, compôs "Tiê, Tiê", música que repete a expressão que ouvia de sua avó, “Oialá-oxa”. Ela cresceu próxima a músicos e se casou aos 25 anos com Oscar Costa, filho de Afredo Costa, presidente da escola de samba Prazer da Serrinha. Foi lá onde conheceu compositores que viriam a ser seus parceiros em algumas composições, como Mano Décio da Viola e Silas de Oliveira.

A compositora chegou a abrir mão da autoria de suas primeiras obras para que fossem aceitas. O primo Mestre Fuleiro assinava as letras e Ivone Lara, de perto, acompanhava a reação do público.

Primeira mulher a fazer parte da ala de compositores de uma escola de samba e a criar um samba-enredo, em 1965 ela foi convidada para compor, ao lado de outros dois parceiros, o samba enredo com o qual a Império Serrano desfilaria no carnaval em homenagem aos 400 anos do Rio de Janeiro.

O samba "Os Cinco Bailes da História do Rio", composto por Silas De Oliveira, Dona Ivone Lara e Bacalhau, no Carnaval de 1965, é reconhecido até hoje como um dos mais importantes sambas-enredos.

Nos anos seguintes, continuou fazendo música, embora não tivesse deixado de trabalhar como enfermeira até se aposentar e, enfim, dedicar-se exclusivamente ao samba. Délcio Carvalho foi seu mais constante parceiro. Ao lado dele e de outros compositores, criou canções de sucesso que foram gravadas por diversos intérpretes, como Acreditar (1976), Alguém Me Avisou (1980), Tendência (1981), Nasci para sonhar e cantar (1982), além da clássica Sonho Meu (1978).

Também teve seu nome marcado no próprio samba. Arlindo Cruz e Sombrinha fizeram "Canto de Rainha" em homenagem a ela. Nei Lopes e Cláudio Jorge fizeram "Senhora da Canção", e Martinho da Vila compôs "Lara" e "Ivone Lara". No carnaval de 2012, ela foi tema do enredo de sua escola, a Império Serrano.

Maria Betânia, Clara Nunes, Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Diogo Nogueira, Elba Ramalho, Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Vanessa da Mara, Teresa Cristina, Leci Brandão, Paulinho da Viola e Alcione estão entre alguns dos músicos que gravaram canções compostas por Dona Ivone Lara.

A sambista também trabalhou como atriz em filmes e programas de TV.

Com Agência Brasil


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