segunda-feira, 3 de julho de 2017

Na China, blogueiros e cineastas demonstram preocupação com novas regras de controle à internet



                                           Foto:Divulgação



Por Pei Li e Adam Jourdan

PEQUIM/XANGAI (Reuters) - O mais recente movimento do governo da China para suprimir conteúdo na internet tem preocupado uma diversa comunidade de cineastas, blogueiros, membros da mídia e educadores, que temem que seus websites possam ser fechados tendo em vista o controle mais rígido de Pequim.

No último mês, reguladores chineses fecharam sites de fofoca de celebridades, restringiram quais tipos de vídeos as pessoas podem publicar e suspenderam os serviços online de streaming -- tudo isso sob alegações de conteúdo impróprio.

Uma associação do setor circulou na sexta-feira uma nova regulamentação de efeito imediato determinando que pelo menos dois "auditores" terão que checar todo conteúdo audiovisual publicado online -- desde filmes até curtas, documentários, esportes, material educacional e animações -- para garantir que esses conteúdos sejam fiéis aos "principais valores socialistas".

Tópicos considerados inapropriados incluem vício em drogas e homossexualidade, disse a Associação de Serviços de Transmissão Online da China, afiliada ao governo e que representa mais de 600 membros.

Muitas pessoas no fim de semana criticaram online a nova regulamentação, com a maioria dizendo que é um retrocesso que pode prejudicar a criatividade. Algumas notaram que pode ser quase impossível aplicar essas regras.

"De acordo com estas regras de censura, nada vai passar, o que vai exaurir a criação audiovisual artística", escreveu Li Yinhe, uma acadêmica que estuda sexualidade na Academia Chinesa de Ciências Sociais, mantida pelo governo.

Sob as novas regras do governo, obras como a ópera "Cármen", de Georges Bizet, e "Otelo", de Shakespeare, tecnicamente teriam que ser banidas por mostrarem prostituição e exibirem cenas explícitas de afeto, disse ela em um blog.

A regras, que afetam gigantes das redes sociais como Weibo, assim como pequenas plataformas que têm florescido no movimentado espaço criativo online da China, representam as mais recentes medidas para endurecer a fiscalização na internet, antes do Congresso do Partido Comunista no segundo semestre, quando o presidente Xi Jinping deve consolidar seu poder.

A expectativa é que mercado de vídeo online da China, que inclui receita de anúncios e de compra de conteúdo, deve mais do que quadruplicar de 2015 a 2020, chegando a 96,2 bilhões de iuanes (17,6 bilhões de dólares), de acordo com dados de 2016 do IHS Markit.

"Costumávamos descrever a constante regulação conta-gotas como a fervura de um sapo em água morna. Agora está escaldante com água fervente", disse à Reuters Wang Xiaoxiao, um agente de talentos que representa diversos atores que conquistaram fama na internet.

Zhao Jing, fundadora do Yummy, um site especializado em educação sobre temas de gênero, disse que usaria eufemismos para genitais e evitaria tópicos proibidos, como casos extraconjugais, para contornar palavras-chave que desencadeariam a censura.

Caso contrário, ela teme que seu site possa ser excluído do aplicativo de mensagens instantâneas WeChat da Tencent.

(Por Pei Li em Pequim e Adam Jourdan em Xangai)

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