quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Banco Central eleva Selic para 13,25% ao ano e reafirma previsão de nova alta em março

 



Na estreia de Gabriel Galípolo na liderança do Comitê de Política Monetária (Copom), o Banco Central decidiu elevar a taxa Selic em 1 ponto percentual, de 12,25% para 13,25% ao ano, nesta quarta-feira. O BC ainda repetiu a sinalização de que deve aumentar a taxa em mais 1 ponto percentual na próxima reunião, em março, quando a Selic chegaria a 14,25%, retomando o mesmo nível registrado durante o governo de Dilma Rousseff (2015-2016).


Com a decisão de hoje, a Selic retoma o mesmo patamar de agosto de 2023. Esse é o quarto aumento consecutivo dos juros básicos nesse ciclo de aperto, que foi iniciado em setembro do ano passado. No acumulado, a taxa já subiu 2,75 pontos percentuais.



Além da previsão de alta no próximo encontro, o comitê reforçou que a "magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta". Na prática, o comunicado deixa em aberto se haverá novos ajustes a partir da reunião de maio, embora a expectativa seja de que o ciclo continue em meio à desancoragem das expectativas de inflação.


"Diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de mesma magnitude na próxima reunião. Para além da próxima reunião, o Comitê reforça que a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta", diz trecho do comunicado do BC.


O aumento desta quarta-feira foi definido com unanimidade por todos os nove membros do comitê, que agora conta com sete indicados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um crítico frequente dos juros elevados.


O novo aperto de 1 ponto percentual, porém, já era amplamente esperado pelo mercado financeiro e pelo mundo político, já que seguiu o plano traçado em dezembro para debelar um cenário mais adverso para a inflação. A alta nos preços está no topo das preocupações do governo Lula, que viu sua aprovação cair cinco pontos na última pesquisa Genial/Quaest, divulgada na segunda-feira.


O economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria, avaliou que o tom do comunicado foi acertado diante das incertezas no cenário local e internacional nos próximos meses. Segundo o economista, o BC admitiu um quadro mais difícil para a convergência de inflação e indicou que suas decisões serão pautadas pelo compromisso de atingir a meta.


— O BC admite sim um quadro mais difícil. Não está tentando minimizar. Tem percepção da gravidade e vai continuar ajustando os juros para reverter esse quadro — diz Silvio Campos Neto, que deve revisar sua projeção para a Selic de 14,75% para algo um pouco acima de 15%.


Para ele, o comportamento da atividade econômica deve ser um fator decisivo para o tamanho do ciclo de aperto monetário após o novo aumento de 1 ponto percentual indicado para o encontro de março.


— As expectativas de inflação não devem cair tão cedo, nem a inflação corrente. O que pode trazer um alento é câmbio, que é muito incerto, e a atividade. É difícil se comprometer com uma sinalização mais firme para maio.


A avaliação do economista deriva de uma mudança realizada pelo Copom no balanço de riscos. O comitê continua avaliando que os riscos de alta para a inflação futura são maiores do que as ameaças de baixa, mas trocou os eventos que poderiam desencadear uma desaceleração inflacionária maior do que esperada.


Antes os riscos para uma redução da inflação, eram focados apenas no cenário internacional, relativos a uma desaceleração mais forte da atividade global e a uma desinflação mais forte pelo mundo.


Agora, o BC considera como risco de baixa os impactos sobre o cenário de inflação de uma eventual desaceleração da atividade econômica brasileira mais forte do que a esperada. Atualmente, o Copom avalia que a economia local apresenta dinamismo.


Recentemente, os dados setoriais mostraram sinais de desaceleração. Isso acende um alerta no mercado sobre uma possível reação do governo na forma de novas medidas expansionistas do lado fiscal para sustentar a economia até a eleição de 2026 ou de pressão sobre o BC para redizor os juros.


Além disso, o colegiado citou como risco de baixa "um cenário menos inflacionário para economias emergentes diante de choques sobre o comércio internacional e as condições financeiras globais" em meio ao retorno ao poder de Donald Trump nos EUA.


Já o economista Leonardo Costa, do ASA, avalia que a comunicação foi menos dura do que deveria ser necessário diante da forte piora das expectativas de inflação, especialmente para prazos mais longos, e da inflação corrente.


— Uma leitura possível é que houve piora grande das expectativas (especialmente mais longas) e da inflação corrente para deixar tão aberto as decisões depois de março, tornando o texto mais suave (em relação às indicações para o ciclo de juros).


Deterioração do cenário de inflação

O Copom atualizou as projeções oficiais de inflação, que seguem bem acima da meta, mesmo considerando que a taxa Selic vai subir até 15% este ano e terminar o ano que vem em 12,50%. Para 2025, passou de 4,5% para 5,2%. A partir desta reunião, o BC começou a mirar o prazo do terceiro trimestre de 2026 para entregar a inflação na meta, prazo no qual prevê IPCA de 4,0%. A meta é de 3,0%, com intervalo de tolerância de 1,5% a 4,5%.


Desde a última reunião do comitê, as expectativas inflacionárias do mercado financeiro se distanciaram ainda mais da meta para todos os horizontes monitorados pelo BC, mesmo com o aumento da Selic prevista para o fim deste ano no Boletim Focus, agora em 15%. Os juros básicos mais altos funcionam como um freio para o crescimento econômico e para a inflação, mas as expectativas não cedem devido ao impacto cambial e a temores políticos e fiscais.


Para 2025, a projeção para o IPCA na Focus é de 5,50%, enquanto, para 2026, é de 4,22%. Além da piora significativa nas expectativas de inflação, o Copom também se deparou com uma piora da cotação do dólar ante a última reunião, apesar do alívio no valor da moeda americana nos últimos dias.


Outra novidade negativa foi a paralisação do ciclo de queda de juros pelo Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos na primeira reunião após o retorno de Donald Trump à Casa Branca.


Internamente, afetam o cenário futuro para a inflação a preocupação dos agentes econômicos em relação à trajetória da dívida pública brasileira, especialmente após a frustração com o pacote de corte de gastos apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.


Por 

 — Brasília

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