O poeta Régis Bonvicino, em retrato de 1995, em São Paulo -
O poeta paulistano Régis Bonvicino morreu na manhã deste sábado, aos 70 anos. Ele estava de férias com a família em Roma, onde sofreu uma queda e havia ficado internado por uma semana. A informação foi confirmada por sua mulher, a psicanalista Darly Menconi.
Segundo ela, Bonvicino estava interessado em fazer pesquisas e conhecer locações sobre o cinema italiano. Ele deixa Menconi e três filhos.
Bonvicino teve uma trajetória sólida e fez parte de uma geração de autores brasileiros que surgiu com o declínio da poesia concreta. Seu trabalho reflete sobretudo a condição precária da vida urbana contemporânea e foi reconhecido internacionalmente.
Ele participou de diversos eventos literários pelo mundo, leu seus poemas em países como França, Dinamarca, Argentina e Estados Unidos, e teve livros traduzidos para línguas como inglês, espanhol, mandarim, francês e dinamarquês. Uma seleção foi publicada em inglês, em 2017: "Beyond the Wall: New Selected Poems".
Bonvicino formou-se em direito pela USP e trabalhou como magistrado no Tribunal de Justiça de São Paulo. Foi ainda conselheiro parlamentar em Brasília, durante a Assembleia Constituinte de 1987 a 1988.
Ele começou no mundo literário em 1975, com o livro de poemas "Bicho Papel", e foi colunista em jornais, incluindo a Folha. Venceu o Prêmio Jabuti de 1991 pelo livro "33 Poemas".
Foi amigo de Paulo Leminski e publicou duas edições que reuniam cartas que recebeu do escritor. Fundou a revista Poesia em G na década de 1970 e em 2000 o periódico Sibila, que codirigiu com o americano Charles Bernstein.
Atuou também como tradutor, traduzindo obras de nomes como Jules Laforgue, Oliverio Girondo e Douglas Messerli. Em 1981, lançou "Do Grapefruit", livro de Yoko Ono com traduções feitas por ele e com obras dos artistas Regina Silveira e Julio Plaza.
"O mundo literário hoje é distorcido, injusto. Vivemos um empobrecimento intelectual no qual os artistas se acham melhores do que os outros e a arte perdeu o confronto para se tornar decorativa", chegou a dizer em entrevista à Folha, em 2019.
Seu trabalho mais recente foi "A Nova Utopia", de 2022. O projeto inclui poesias em homenagem a sua filha, Bruna, que morreu aos 25 anos, em 2018. Em 2020, ele havia publicado "Deus Devolve o Revólver", álbum sonoro com 20 poesias inéditas declamadas por ele.
Entre as várias obras, estão ainda "Num Zoológico de Letras" (1994), livro infantil dedicado aos filhos, em parceria com Guto Llacaz, "Até Agora" (2010), reunião de suas obras, e "Estado Crítico" (2013), de textos inéditos, no qual abordava o cotidiano em colapso com o conhecido humor cáustico.

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