quinta-feira, 31 de julho de 2025

Os riscos da dieta carnívora

 

                                              Foto: Reprodução


No próximo mês, completo quatro anos escrevendo quinzenalmente aqui. Ao longo dos quase 30 anos de profissão, sempre me posicionei contra dietas radicais ou restritivas, a menos que haja uma condição de saúde que justifique. Já acompanhei diversas modas alimentares — antigas e recentes — e, embora reconheça que muitas promovem perda de peso rápida, sei que são insustentáveis a longo prazo. Acredito em padrões alimentares mais equilibrados, como a dieta mediterrânea, a DASH e a flexitariana. No entanto, confesso que poucas dietas me preocuparam tanto quanto a carnívora, que vem ganhando espaço nas redes sociais e se baseia em uma alimentação extremamente restrita e monótona, com riscos que não podem ser ignorados.


A dieta carnívora, que elimina completamente alimentos de origem vegetal, promete perda de peso, redução de gordura corporal e até a cura de doenças como diabetes, depressão, doenças autoimunes e disbiose intestinal. Trata-se de uma versão ainda mais extrema da cetogênica, ao restringir quase totalmente os carboidratos e forçar o corpo a usar a gordura como principal fonte de energia. Com a falta de glicose, o organismo passa a produzir corpos cetônicos — derivados da quebra de gordura — que só são utilizados após o esgotamento do glicogênio, em um estado de estresse metabólico.


Os argumentos para a adoção dessa prática alimentar são, no mínimo, absurdos. Os defensores afirmam que as gorduras animais não fazem mal porque são "naturais"; que os carboidratos alimentam bactérias patogênicas do intestino; que o ser humano não precisa de fibras nem vegetais porque possui apenas um estômago, ao contrário dos ruminantes (como vacas e bois), que têm quatro. Com base nisso, alegam que as fibras não são digeridas e, pior, fazem mal ao intestino, podendo machucá-lo e causar inflamação intestinal. Sobre a ingestão de vitaminas, minerais e fibras, argumentam que a carne contém todos esses nutrientes, já que o animal — ruminante, que ingere e metaboliza vegetais — concentra-os na carne. Por fim, defendem que se deve comer “comida de verdade”: preparar o próprio alimento, priorizando o que é conservado em geladeira, mais fresco e livre de aditivos químicos.


Nenhuma dessas justificativas possui embasamento científico — muito pelo contrário. Há evidências suficientes de que o aumento do consumo de gordura saturada, seja de origem natural ou industrializada, contribui para a elevação dos níveis de colesterol e, consequentemente, para o risco de obstruções nos vasos sanguíneos. As fibras, por sua vez, têm benefícios amplamente comprovados: ajudam a eliminar resíduos alimentares e gorduras excedentes pelo intestino, reduzem a absorção de colesterol, promovem saciedade (auxiliando no emagrecimento), formam fezes volumosas e macias (prevenindo a constipação) e ainda servem de substrato para as bactérias intestinais, sendo fonte de energia para as células do cólon — o que pode inibir o desenvolvimento de células cancerígenas.


Além disso, há estudos que indicam que o consumo excessivo de carnes processadas pode aumentar o risco de câncer de intestino. E não há nenhuma tabela de composição de alimentos que mostre a presença significativa de vitamina C em carnes, leites ou ovos. A vitamina C é um antioxidante essencial para a manutenção do tecido conjuntivo e atua como cofator em diversas reações enzimáticas. Compostos fenólicos como o resveratrol, quercetina e catequinas — com ação antioxidante, anti-inflamatória e protetora cardiovascular e neurológica — também estão presentes exclusivamente em alimentos de origem vegetal. Sinceramente, não sei de onde tiram que a carne seria rica em vitamina C.


Ainda vale lembrar que o consumo excessivo de proteína animal pode sobrecarregar os rins, aumentando o risco de formação de pedras e desenvolvimento de gota.


E se você ainda não se convenceu, do ponto de vista nutricional, de que a dieta carnívora traz mais malefícios do que benefícios, faça uma visita ao supermercado e confira o preço da carne.


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