quinta-feira, 3 de julho de 2025

‘Acredito na inocência de Cristina’, diz Lula após visitar ex-presidente argentina

 

                                            Foto: Reprodução


ENVIADA ESPECIAL, BUENOS AIRES - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou por quase uma hora a casa da ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner, condenada por corrupção a seis anos de prisão, e beneficiada com a prisão domiciliar por ter mais de 70 anos.



O encontro, que ocorreu ao final da participação de Lula na cúpula do Mercosul em Buenos Aires. O presidente brasileiro estava acompanhado do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. A visita ocorreu após autorização da Justiça Argentina ao pedido feito pela própria ex-presidente.


Após a visita, Lula se encontrou com o Prêmio Nobel da Paz argentino Adolfo Pérez Esquivel, e segundo interlocutores presentes na residência do embaixador brasileiro, o presidente brasileiro disse que “acredita na inocência de Cristina”. Na embaixada, Lula tirou uma foto com um cartaz “Cristina Livre”.


Em sua conta no X (antigo Twitter), o presidente brasileiro escreveu “visitei hoje a companheira e ex-presidenta Cristina Kirchner em sua residência, em Buenos Aires. Fiquei muito feliz em revê-la e encontrá-la tão bem, com força e gana de luta. Tenho por Cristina uma amizade de muitos anos que vai muito além da relação institucional. Um carinho e afeto de amigos, companheiros de campo político e de ideais de justiça social e combate às desigualdades”.


O presidente também disse que “além de prestar minha solidariedade a ela por tudo que tem vivido, desejei toda a força para seguir lutando com a mesma firmeza que tem sido a marca de sua trajetória na vida e na política. Pude sentir nas ruas o apoio popular que tem recebido e sei bem o quanto é importante esse reconhecimento nos momentos mais difíceis. Que fique bem e siga firme na sua luta por justiça”.


O local estava tomado por apoiadores de Cristina e de Lula, que carregavam cartazes e entoavam coros de apoio. Durante a visita, o canto “Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula” foi repetido pela multidão.


Do lado de fora, militantes de kirchneristas cantavam músicas peronistas, com mensagens de apoio à ex-presidente. Em vários momentos, os militantes pediram que Lula aparecesse na varanda do apartamento, o que o presidente brasileiro não fez.


“Eles são os expoentes da justiça social, vim apoiá-los”, disse à AFP Martín Greaves, de 32 anos, que visitou o local. “É difícil e triste, mas me dá esperança ver que Lula não a abandonou, não se esqueceu dela”.


O presidente chegou acompanhado de poucos assessores. Seu último compromisso em Buenos Aires foi o encontro com o Prêmio Nobel da Paz argentino Adolfo Pérez Esquivel, na residência do embaixador brasileiro. Encerrada a agenda em Buenos Aires, Lula viajará para o Rio de Janeiro, onde será anfitrião, nos dias 6 e 7, da cúpula de presidentes e chefes de governo do Brics.


Condenação de Cristina

A ex-presidente foi condenada a seis anos de corrupção. Ela foi condenada por contratos superfaturados em obras públicas e fraudes em licitações na província de Santa Cruz durante sua presidência. Além da prisão, ela também teve os direitos políticos cassados. Cristina diz ser inocente e vítima de perseguição judicial.


A Justiça determinou que ela fique em prisão domiciliar — ao qual ela tem direito por ter mais de 70 anos. Cristina deverá passar os próximos seis anos detida, usando tornozeleira eletrônica e tendo de respeitar várias limitações.


O advogado de Cristina, Carlos Alberto Beraldi, teve de apresentar um pedido formal de autorização para a visita de Lula aos juízes da Segunda Vara Federal de Direito Oral - que foi concedida na quarta-feira, 2.


Cristina Kirchner, de 72 anos, é rival política do atual presidente da Argentina, Javier Milei. Ela lidera o Partido Justicialista e é o principal oponente do governo do ultraliberal.


Condenada, ela só poder receber familiares, médicos e seus advogados, de acordo com as condições de detenção impostas pela Justiça. Sua sentença, que também inclui proibição perpétua de exercer cargos públicos, foi mantida dias depois de ela anunciar sua candidatura a legisladora pela província de Buenos Aires.


Lula na reunião do Mercosul

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez na manhã desta quinta-feira, 3, durante a cúpula do Mercosul em Buenos Aires uma defesa da integração comercial do bloco, da expansão de acordos de livre-comércio e da atuação conjunta dos países-membros contra as mudanças climáticas.


Ele também colocou como meta que o Mercosul atue em conjunto contra o crime organizado a nível internacional. Segundo ele, só esse esforço pode ser capaz de enfrentar as facções criminosas que atuam em vários países. Após a reunião, o Brasil assume a presidência do bloco até o fim do ano.


Segundo Lula, uma vez no comando do bloco, o País pretende avançar com acordos sobre os setores automotivo e açucareiro no Mercosul. O presidente também defendeu reativar o fórum empresarial no bloco e oferecer apoio a pequenas empresa, além de finalizar as tratativas e assinar o acordo comercial com a União Europeia.


Já o presidente argentino, Javier Milei, que deixou o comando temporário do bloco, voltou a defender a flexibilização das regras do Mercosul para assinar tratados comerciais com outros países. “Embarcaremos no caminho da liberdade, e o faremos juntos ou sozinhos, porque a Argentina não pode esperar”, disse Milei.


Confiança no acordo UE-Mercosul e foco na Ásia

Lula, por sua vez, mostrou confiança na assinatura do acordo UE-Mercosul e disse também que há negociações de acordos comerciais com outros países. “Também avançaremos nas tratativas com Canadá e Emirados Árabes. Na região, é preciso trabalhar com Panamá e a República Dominicana e atualizar os acordos com Colômbia e Equador”, afirmou o presidente.


O petista defendeu ainda que o Mercosul olhe para a Ásia como “centro na economia mundial”. “Nossa participação nas cadeias globais de valores se beneficiará de maior aproximação com Japão, China, Coreia, Índia, Vietnã e Indonésia. A circulação de bens e serviços depende de infraestrutura adequada”, discursou.


Por Giordanna Neves (Broadcast)

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