terça-feira, 8 de julho de 2025

Acadêmica com deficiência visual se forma em Turismo e defende TCC sobre inclusão no Parque das Nações Indígenas

 




A Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), por meio do curso de Turismo da Unidade de Campo Grande, encerrou o semestre com um marco significativo: a formatura de Lilian Garcia, primeira acadêmica com deficiência visual a concluir o curso e receber o título de turismóloga na instituição.


O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), intitulado “Parque das Nações Indígenas: a inclusão da pessoa com deficiência visual no turismo de Campo Grande/MS”, foi orientado pela professora Dra. Marta Melo e nasceu da proposta de refletir criticamente sobre a forma como espaços turísticos, em Campo Grande e em outras regiões do país, ainda apresentam barreiras à participação plena de pessoas com deficiência visual.


“O objetivo da pesquisa foi evidenciar a ausência de inclusão efetiva nos espaços de lazer e turismo. Mais do que apontar desafios, a proposta busca contribuir com sugestões baseadas em vivências reais, considerando as necessidades de pessoas com deficiência visual”, afirma Lilian. “Acessibilidade não se resume a rampas ou placas em braile, mas significa garantir pertencimento, participação e respeito.”


Apoio institucional para inclusão educacional

Na UEMS, o Atendimento Educacional Especializado (AEE), vinculado à Pró-Reitoria de Ações Afirmativas, Equidade e Permanência Estudantil (PROAFE), por meio da Divisão de Inclusão Educacional (DINE), atua na proposição de estratégias pedagógicas inclusivas para estudantes da educação especial, tanto na graduação quanto na pós-graduação. O foco do atendimento é ampliar a autonomia dos acadêmicos e acadêmicas, respeitando seus modos de aprendizagem.


Em Campo Grande, o AEE é coordenado pelo professor Dr. Mauricio Macedo Vieira, que destaca o trabalho conjunto com os cursos de graduação e o acompanhamento próximo dos estudantes. Atualmente, o setor atende 24 estudantes, divididos entre os docentes da equipe. Entre as principais atividades estão: adaptação de materiais, apoio à organização das demandas acadêmicas e orientações pedagógicas específicas.


“Temos professores comprometidos, espaço adequado para atendimento, preparação de materiais e um trabalho coletivo que fortalece o processo formativo. Isso potencializa o acesso ao conhecimento e contribui para o sucesso acadêmico dos estudantes atendidos”, pontua Vieira.


Uma trajetória marcada pelo compromisso com a inclusão

A professora orientadora do TCC, Dra. Marta Melo, relata que a ideia do trabalho surgiu durante uma visita técnica ao Parque das Nações Indígenas, realizada como parte da disciplina. Foi ali que Lilian percebeu o potencial do local como espaço de pesquisa e como símbolo da necessidade de pensar em inclusão de forma mais ampla no setor turístico.


“A proposta de Lilian foi muito além de um requisito acadêmico. Representa um passo importante em direção a um turismo verdadeiramente inclusivo, que considera as diferentes formas de existir e ocupar os espaços”, afirma a professora. “Ela sempre trouxe, com firmeza e sensibilidade, a importância de superar as barreiras atitudinais e o capacitismo.”


Avanços e novos desafios

Para os profissionais envolvidos, o momento é de celebração, mas também de reflexão. Ainda há desafios relacionados ao fortalecimento das práticas pedagógicas inclusivas, à ampliação de recursos e ao engajamento contínuo do corpo docente na consolidação de uma universidade verdadeiramente acessível.


“O turismo precisa deixar de ser acessível só na teoria ou nos papéis. Precisa ser de fato inclusivo. Essa é a minha luta, e também a minha contribuição para a sociedade. Sinto que cumpri meu dever, mas espero, agora, que as portas do mercado se abram para que eu possa aplicar tudo o que aprendi”, conclui Lilian. E reafirma: “Nada sobre nós, sem nós!”


Inclusão em números

De acordo com o Censo 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem cerca de 14,4 milhões de pessoas com deficiência, o que representa 7,3% da população com dois anos ou mais. Essa parcela da população abrange diferentes tipos de deficiência, como visual, auditiva, física e intelectual, com diferentes graus de severidade.


Em Mato Grosso do Sul, o percentual também é de 7,3%. Dentre os tipos de deficiência, a visual é a mais comum no estado, afetando 16,72% das pessoas sul-mato-grossenses.


Por Lucineia Ramos 

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