sábado, 30 de setembro de 2023

Representante de MS na Filarmônica de Israel volta à Capital para show com Eduardo Martinelli

 

                                            Foto: Divulgação


Brenner Rozales, hoje aos 28 anos, voltou a Mato Grosso do Sul após dois anos tocando junto da Orquestra Filarmônica de Israel e, após ser regido inclusive pelo lendário Zubin Mehta, tem encontro marcado com o primeiro maestro que ajudou a trilhar sua carreira, Eduardo Martinelli, com quem o violista toca em Campo Grande no próximo dia 14 de outubro. 


Há mais de uma década Brenner conhecia pessoalmente os trabalho iniciados por Martinelli, junto à Fundação Barbosa Rodrigues, instituição que - à época - apoiava um projeto embrionário que mudaria os rumos culturais da própria Capital com os talentos que sairiam dali.


Como esclarece o maestro Eduardo, a ideia consistia em arrumar instrumentos, ir até a periferia e ensinar uma "molecada" que, como ele bem frisa, não teria condições de comprar e pagar por uma aula para vivenciar isso. Era preciso primeiro vencer a barreira da dúvida para que o projeto rendesse seus frutos, o que não demorou para acontecer. 


"Em cinco anos de projeto já estávamos na iminência de gravar o DVD, os jovens já tinham ido para dois festivais fora do Estado para aperfeiçoamento; viagem internacional envolvendo o Chile, Argentina e Paraguai", cita Eduardo Martinelli. 



Passados 15 anos, período extremamente curto se comparado com a história da própria música clássica, Eduardo classifica a Capital sul-mato-grossense como "bem servida" de projetos com mesmo teor que a ação da Fundação Barbosa Rodrigues, que modificou o cenário da Capital e deu exemplo para demais instituições, de que esse tipo de iniciativa dá certo, cita o maestro. 


“Isso modifica não só a vida do camarada que está ali. Começa modificando a vida dele, mas depois passa a mudar a família; depois, de quem está mais próximo; depois a sociedade e aí os gostos das pessoas. Por quê a sinfônica de Campo Grande tem os concertos completamente lotados, porque é gente da gente tocando, o público vai assistir e se identifica, já acompanham a história dessas pessoas, é realmente uma orquestra que faz parte da realidade cultural da cidade", afirma Martinelli. 


Além de Brenner, outros dois casos tiveram renome internacional, com um migrando para Londres, e outro que termina seu doutorado em Regência de Orquestra com bolsa do governo do Canadá. Assim como nomes que estão pelo Brasil afora, ou mesmo na Capital, que seguem com seus projetos na área da música de concerto, orquestral e clássica. 


"Esse projeto que ele fez parte, foi o primeiro na nossa capital nesses moldes. Começou em 2005 e, até 2016, onde durou, a gente 'soltou uma porrada' de profissionais no mercado. Fora os outros que estão pelo Brasil afora, ou aqui, e continuam em projetos na área da música de concerto, orquestral e clássica, quase todos são oriundos desse primeiro projeto que desenvolvemos", diz Martinelli. 


Da Capital até Tel Aviv

Depois de sua iniciação no violino e migração para a viola sinfônica ainda na Fundação Barbosa Rodrigues, Brenner começou a deixar seu nome marcado nos mais diversos festivais a partir de 2015, performando em Brasília e Campos do Jordão (SP). Ainda naquele ano ele se mudaria para São Paulo e, por mais que não soubesse, o feito exclusivo do sul-mato-grossense estaria cada vez mais perto. 


"Lá já encontrou um lugar dentro dos melhores jovens do Estado, consequentemente entre os melhores do País. A partir dali já começou a estar na sinfônica jovem de SP e em todas as atividades desenvolvidas, que eram turnês; gravação de CD... além do trabalho como instrumentista na orquestra, teve um quarteto de cordas que ele tinha muito destaque", frisa Martinelli. 


Em entrevista ao Correio do Estado, Brenner revela que começou a tocar violino ainda na igreja e, antes de conhecer o projeto da Fundação, sequer sabia que era possível levar a música clássica como profissão.


Já na viola, que - apesar de tirar som através da fricção de cordas, como o violino -, possui som mais encorpado, grave e menos estridente que seu parente, Brenner realizou apresentações ao lado de nomes lendários, como Andrea Bocelli e até cantores nacionais, como Chitãozinho e Xororó, em incursões orquestrais. 


Há cerca de dois anos ele seria então premiado com a bolsa para bacharelado no exterior, pela The Buchmann Mehta School of Music, na Universidade de Tel Aviv, em Israel, considerada uma das mais estruturadas universidades de música do mundo. 


Sendo um dos instrumentos que compõem as primeiras filas em frente ao maestro, a viola permitiu que Brenner ficasse a poucos passos do lendário Zubin Mehta, uma conquista e tanto para amantes da música clássica. 


“Foi uma coisa que nunca senti em nenhum outro lugar. A presença dele, quando ele entra, não foi só eu, é uma coisa coletiva, todo mundo sente”, disse Brenner sobre a experiência, que aconteceu em 2021, em período pós-covid. 


Mudanças pela música

Sobre as rotinas em outro continente, ele destaca que não saber falar hebraico em um primeiro momento foi, sim, um obstáculo, já que não existem muitos brasileiros falando português em Tel Aviv, o que torna muito fácil ficar “perdido” caso o inglês não esteja em dia, mas que a música foi a linguagem universal que ajudou nessa conexão. 


"É bem intenso, eles fazem três programas desses por semana. Então é um dia de ensaio e no mesmo um concerto. A conexão que tenho com a orquestra que toco, é uma parte do curso da universidade em que toco para ganhar crédito no curso. E sempre tenho essa oportunidade, posso pedir para participar de determinado programa, tocar com tal pessoa, eles me encaixam na semana de rotina deles", diz o jovem músico. 


Ainda, Brenner comenta a importância da gravação do DVD pelo grupo em Campo Grande, ainda em 2011, sendo o ponto de início de como deveriam ser as dedicações e estudos do jovem pelo caminho que escolhia traçar, o que facilitou o costume com as preparações que tem de encarar para se apresentar em Israel.


"Eles ensaiam em um dia um programa inteiro, de até duas horas e meia. No outro dia é a passagem de som e o concerto. E é sempre lotado, por mais que os ingressos sejam caríssimos, as pessoas têm sede disso lá, e vai gente de todo o mundo também. Mas é maravilhoso, o som que a orquestra produz eu não tenho palavra para explicar", confirma o violista. 


Tocando com, talvez, um dos últimos maestros vivos lendários do século XX, simplesmente Zubin Mehta, nomeado como consultor da Filarmônica de Israel ainda em 1969, elevado para diretor artístico em 1977, cargo que se tornou vitalício em 1981, em Tel Aviv conseguiu um feito nunca alcançado por um morador de Mato Grosso do Sul. 



“Ele é o único sul-mato-grossense da história a tocar com a filarmônica de Israel, uma das maiores orquestras do mundo - como a de Berlim, Chicago e Londres, pilares da música clássica internacional -, e ainda tocou com o Zubin Mehta regendo… o programa internacional que ele participa, o Zubin que fundou. Isso é um ponto único, já para brasileiro não é muito fácil, imagino que para um sul-mato-grossense é inédito”, salientou Eduardo Martinelli. 


Para a dupla, a valorização da música clássica enriquece a produção artística local, descrita por Martinelli como, possivelmente, “a coisa mais que pode ter acontecido com Campo Grande”. Ainda assim, mesmo que esse gênero ainda esteja em constante popularização e ainda tomando seu espaço, o maestro cita que em 300 anos essa música ainda não morreu. 


"Quando as pessoas veem uma orquestra tocando ao vivo, acontece uma coisa muito mágica, você está reproduzindo exatamente aquilo que foi feito há 250 anos, com pessoas tocando na mesma organicidade, você está dando vida de novo ao pensamento e construção de alguém que não está mais aqui", expõe o maestro. 


Brenner complementa que, sendo a Fundação Barbosa Rodrigues seu primeiro contato com estudo diário de música, mesmo quando ainda estava em São Paulo, vinha constantemente para Campo Grande com a ideia de visitar o projeto, dizendo que um de seus objetivos é justamente agregar essa iniciativa com cada nova coisa que aprende.


“Por mim, já me sinto realizado... eu só não quero ser o único a ter ido para lá. E para isso acontecer, os projetos precisam continuar, com mais pessoas. Quero que venha mais gente, não só para Israel, mas para todo lugar do mundo”, conclui.


Com apresentação marcada para o próximo dia 14 de outubro, às 20h no Teatro do Mundo - que fica na rua Barão de Melgaço, n.º 177 -, a Brenner Rozales e Eduardo Martinelli : 



LEO RIBEIRO

Com o Portal Correio do Estado

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