A forte onda de frio que atingiu o país poderá refletir diretamente na produção de trigo em São Paulo. Essa foi a conclusão da reunião da Câmara Setorial do estado. Segundo os relatos dos representantes das cooperativas presentes no evento, os produtores de trigo paulistas esperavam resultados muito positivos quanto à produção do cereal neste ano, mas que podem ser prejudicados pelas intensas geadas que atingiram os campos, desde o início do mês de julho.
“Nossas previsões no começo do plantio eram de que a safra em São Paulo passaria da casa das 400 mil toneladas, indicando um recorde de produção nunca alcançado pelo estado. Mas as geadas que atingiram as regiões produtoras podem provocar uma redução considerável nesse volume”, afirmou o presidente da Câmara Setorial, Victor Oliveira.
Para o trader da Gavilon, Vitor Cabral, as geadas devem impactar não apenas a produção paulista, mas também a nacional. “Infelizmente vamos verificar uma perda relevante, que será constatada nos próximos 30 dias. Sem dúvida temos pela frente muitos desafios, pois começamos o ano com uma expectativa de safra muito grande, mas que pelas condições climáticas vai precisar sofrer alguns ajustes e nos obrigará a buscar um pouco mais de importação”.
“As reuniões da Câmara Setorial de trigo são sempre muito ricas em qualidade, das pessoas e das informações, e a de hoje não foi diferente. Infelizmente o momento não é de boas notícias para o setor do estado, devido ao frio intenso e as consequências que ele traz para as plantações”, destacou o coordenador das Câmaras Setoriais e assessor técnico de gabinete da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Alberto Amorim.
Ração animal e o trigo
Outra cultura afetada pelas geadas foi o milho, que também foi impactado, principalmente, no Paraná. Esse cenário vai acarretar na redução da oferta desse grão para a ração animal, em aproximadamente 20 mi toneladas.
Nesse cenário, o trigo passa a ser uma alternativa viável e interessante para substituir o milho na ração animal. “O milho está pressionado mundialmente, em termos de oferta e demanda e o trigo é um substituto natural. Temos assistido alguns países fazendo esse movimento de substituição, na ração animal e, no Brasil, esse processo não vai ser diferente”, explicou Cabral.
Com esse contexto, o presidente da Câmara ressalta que, para o moinhos brasileiros o mercado fica ainda mais difícil. “O efeito no trigo desses cenários, principalmente para moagem, é direto. Temos encontrado muita dificuldade em absorver o custo e repassar para o mercado. Com a redução da oferta do trigo nacional para moagem, teremos que buscar mais matéria-prima no exterior”.
“Falar do cenário futuro para o setor é sinalizar um panorama altista e de muitos desafios. Temos o trigo, que basicamente dobrou de preço e a farinha que subiu entre 20 e 30%. Todo esse custo foi absorvido pela indústria. O mundo está vivendo um momento de muita volatilidade e, para a indústria tem sido um desafio enorme absorver esse custo e tentar repassar ao mercado”, acrescenta Oliveira.
Pesquisas no campo
Os participantes do formato presencial da reunião foram convidados pela Câmara Setorial a acompanhar uma visita à Estação Experimental do Instituto Agronômico (IAC), que fica na cidade de Capão Bonito (SP), onde foi implantado um campo de pesquisa do trigo.
A iniciativa foi desenvolvida em parceria com a Cooperativa Agrícola de Capão Bonito e a empresa Genética, com o objetivo de desenvolver pesquisas em trigo, que antes eram feitas em propriedades dos produtores da região, mas que nem sempre apresentavam resultados concretos.
“Essa é uma área própria para pesquisa onde temos a oportunidade de acompanhar os dados e fazer análises junto aos pesquisadores do IAC, visando oferecer informações aos produtores de trigo e também à indústria moageira do estado”, explicou o gerente da Cooperativa Agrícola de Capão Bonito, Luiz Carlos Mariotto.
Segundo ele, essa iniciativa direcionará as pesquisas de variedades que ofereçam produtividade e lucratividade aos produtores. “Aqui eles podem acompanhar as informações e, na hora da escolha da semente, terem mais certeza dos resultados que terão no campo, bem como de que o produto atende às necessidades dos moinhos, o que indica uma boa comercialização”, acrescenta Mariotto.
“Cada vez mais precisamos investir em pesquisa para termos cultivares de alta produtividade e resistência, para melhorar o nosso rendimento por área, em tonelagem e lucratividade. Essa iniciativa da Cooperativa com o IAC é muito importante para o crescimento do trigo no estado”, reforçou Amorim.
* Câmara Setorial do Trigo
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