Cientistas da Universidade de São Paulo, da Embrapa Meio Ambiente e da Universidade Federal de Minas Gerais analisaram a importância das bactérias, leveduras e fungos para as abelhas sem ferrão e concluíram que existe uma forte relação de dependência entre eles. Os microrganismos contribuem fornecendo suprimentos alimentares, ajudam na digestão e conservação dos seus alimentos, e ainda as protegem de doenças.
Conforme o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Cristiano Menezes, “as abelhas mantêm esses microrganismos para quatro funções. Uma delas, já bem conhecida, é a de digerir os alimentos que as abelhas trazem do campo, principalmente os grãos de pólen, que podem ser muito difíceis de digerir. Os microrganismos ajudam a quebrá-los em substâncias mais fáceis de absorção”.
A segunda, continua o pesquisador, é nutrição. "Os microrganismos produzem substâncias nutritivas que vão alimentar as abelhas também. A terceira é a proteção de doenças, pois produzem antibióticos que irão protegê-las de outros microrganismos patogênicos. E a quarta é o auxílio na conservação dos seus alimentos por meio da fermentação, principal motivo de realizarmos essa revisão”.
Cristiano explica que como elas estocam a sua comida por muito tempo, tanto o néctar em forma de mel quanto o pólen, esses microrganismos são essenciais para a sua vida. Por meio da fermentação, eles digerem os alimentos, produzem substâncias nutritivas, antibióticos e mudam a característica dos alimentos que vão ajudar na sua conservação. É um processo de reações bioquímicas, feitas pelos microrganismos de transformação do alimento e, nesse processo, ele próprio se nutre e, como consequência, disponibiliza todos esses benefícios para as abelhas.
Segundo o pesquisador, além dos microrganismos benéficos, há um outro elemento na colmeia das abelhas sem ferrão de suma importância nessa relação, as resinas vegetais. As plantas produzem resinas para se protegerem, por exemplo, quando quebra um galho, cai uma folha ou até mesmo quando um inseto morde e consome essa folha. A planta produz resinas para cicatrizar essa ferida. Nessas resinas é secretada uma série de substâncias antibióticas, produzidas pela própria planta para protegê-la. E as abelhas usam essas resinas para proteger seus ninhos de microrganismos não benéficos, os patogênicos.
“Então, elas misturam essas resinas com a cera que produzem em suas glândulas e fazem o que a gente chama de cerume, que é o material de construção de todo o ninho. O cerume é como se fossem os tijolos e cimento da nossa casa. A estrutura da casa delas é feita toda com esse material”, explica Cristiano.
E é esse material em conjunto com os microrganismos benéficos que impede que microrganismos patogênicos proliferem por ali, como mofo e outros que podem trazer doenças. Porém, é um campo do conhecimento ainda inexplorado que promete ser fonte de grandes descobertas.
Leveduras benéficas
Dois tipos de leveduras benéficas frequentemente encontradas nas colmeias das abelhas sem ferrão são Zygosaccharomyces e Starmerella. De acordo com o pesquisador, a Zygosaccharomyces, descoberta mais recente, produz uma gordura específica que as abelhas usam para nutrir as larvas. Já a Starmerella é a principal responsável por essa fermentação do pólen, da digestão, da secreção de substâncias benéficas.
Comportamento
As abelhas sem ferrão, da tribo Meliponini, representam os mais abundantes e diversificados grupo de abelhas corbiculadas – que inclui as abelhas melíferas (Apini), as mamangavas (Bombini) e abelhas das orquídeas (Euglossini). São encontrados em todas as regiões tropicais e subtropicais do mundo e englobam um grupo com aproximadamente 550 espécies e 61 gêneros, com uma série de características comuns à maioria das espécies, com destaque para a íntima relação com microrganismos benéficos.
Abandonar os ninhos e migrar para áreas de maior abundância de recursos é um comportamento raro em abelhas sem ferrão. Por isso, elas desenvolveram estratégias para sustentar suas colônias estocando grande quantidade de alimento durante os períodos de escassez de flores. As colônias maximizam o forrageamento durante o pico da época de floração e armazenam os recursos coletados para consumir mais tarde. Para que esse alimento não estrague com o passar do tempo, elas contam com a ajuda desses microrganismos benéficos que fazem a fermentação do pólen e do mel.
O trabalho de Gabriela de Paula da Universidade de São Paulo, Cristiano Menezes da Embrapa Meio Ambiente, Mônica Pupo da Universidade de São Paulo e Carlos Augusto Rosa da Universidade Federal de Minas Gerais, está disponível aqui.
* informações da Embrapa
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