quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Estado é analisado em pesquisa sobre resistência que dengue pode criar contra Covid-19

                                           Foto:Divulgação

Pesquisadores da Universidade Duke, nos Estados Unidos, encontraram uma possível correlação inversa entre infecções pelo novo coronavírus e casos confirmados de dengue em Mato Grosso do Sul.

Dados da contaminação da covid-19 foram analisados em todo país e foi possível observar que locais que tiveram mais casos de dengue no ano passado, e no início de 2020, tiveram menos infecções e óbitos por coronavírus.

Professor catedrático de neurobiologia, engenharia biomédica e principal autor do estudo, Miguel Nicolelis, disse que foi analisado o mapa da dengue do Ministério da Saúde.

Os locais que demoraram para o coronavírus se espalhar, como Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Paraná, eram os mesmos que também haviam muitos casos de dengue. “Era complementar. Encontramos correlação inversa", explicou Nicolelis ao jornal O Estado de S. Paulo.

O grupo fez o mesmo experimento com os casos de chikungunya, mas não houve relação. Foram analisadas então a situação da dengue em outros países. De acordo com o pesquisador, é possível que a população já infectada pela dengue tenha uma defesa parcial a covid-19.

"Os dois vírus estão competindo pela mesma população de suscetíveis, mas a dengue precisa de um mosquito e covid é transmitida de pessoa a pessoa, muito mais rápido”, aponta.



"Há um estudo de Israel com 99 amostras de dengue. No começo da pandemia, eles tiveram a ideia de testar as amostras de dengue para coronavírus e deu positivo em 22. Existem anticorpos para covid e isso apoia a nossa teoria, mas tem de fazer a validação imunológica”, complementou Nicolelis.

Agora, a pesquisa estuda dados amplos de 71 países da América Latina, Caribe, Ásia e África. O coordenador do projeto argumenta que é necessário criar um consórcio de pesquisa rapidamente para fazer estudos pelo Brasil afora.

“Temos amostras e vários especialistas na área de dengue e podemos criar um grande projeto nacional. Estamos aceitando colaborações do País inteiro, porque isso é um achado único”, finaliza.

Se comprovada essa relação, vacinas para a dengue em desenvolvimento poderiam ser usadas para o coronavírus, antes mesmo que a vacina específica para a covid seja validada.

Contudo, é necessário cautela. O infectologista e professor da Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Julio Croda reforçou a necessidade de uma análise individual e mais trabalhada para ser possível comprovar e estabelecer algum tipo de relação entre as duas doenças.

“Outras variáveis que podem confundir, podem não ter sido captadas. Não tem uma análise individual, com os casos de dengue e de covid por região. É preciso analisar os indivíduos que tiveram dengue. Em pesquisa, a gente começa a levantar hipóteses, mas precisa dos ensaios clínicos”, ressaltou o pesquisador ao portal UOL.

O estudo está disponível no repositório de pesquisas medRxiv.


Com informação do Portal Correio do Estado

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