Rodrigo Almeida
Com a possibilidade futura de escoar produtos tanto por ferrovias, como por rodovias e até pela hidrovia do Rio Paraguai-Paraná, a implantação do Corredor Bioceânico, conferiria intermodalidade de escoamento e colocaria Mato Grosso do Sul como uma região estratégica na política de exportação com o sudeste asiático.
De acordo com o professor Francisco Bayardo, pesquisador do projeto de pesquisa e extensão da UFMS sobre o Corredor, possibilitará a redução de até 8 mil km de distância no trajeto das exportações de produtos sul-mato-grossenses para o mercado asiático, e também de importações.
Com extensão de 2.396 km, a rota permite a conexão viária do Centro-Oeste brasileiro aos portos de Antofagasta e Iquique (Chile), passando pelo Paraguai e Argentina.
Além da aceleração nas rotas, o estado será ponto estratégico de entrada de produtos de valor agregado, um impulso que pode trazer desenvolvimento às regiões de Corumbá, Porto Murtinho, Campo Grande e Três Lagoas.
Melhorias necessárias
O projeto pretende criar uma rota que ligue os dois oceanos que banham a América do Sul. Seriam interligados o Atlântico a leste até o Pacífico a oeste por uma rede de rodovias e Ferrovias, gerando infraestrutura intrincada que traria redução nos custos de escoamento de mercadorias.
Para o professor a infraestrutura é o primeiro desafio logístico. Segundo ele “Considerando os principais pontos entre oceanos e a rota que vem do sudeste. Precisamos ter essas estradas e trabalhar com a intermodalidade. Ativar ramais ferroviários, que hoje não estão operando devidamente. Também podemos incluir um intermodal aéreo, se considerarmos a possibilidade de nosso aeroporto como agente alfandegado”.
Na última semana, a estado viu um avanço no processo de desestatização da Ferroeste, que liga a região de Maracaju até o porto de Paranaguá, no Paraná. Apesar de facilitar o escoamento de grãos, não afetaria tanto na implantação do corredor.
“A revitalização da Malha Oeste, essa sim vai ser importante, liga Três Lagoas a Corumbá, isso traria grandes benefícios para entrada de produtos do Paraguai”, pontua o professor.
Outro desfaio da mesma ordem é o papel que as aduanas dos países terão quando isso tudo estiver operando. “Precisamos criar um modelo de tributação que não penalize muitos esses produtos, porque eles vão passar por quarto países diferentes, Argentina, Paraguai, Chile até chegar ao estado”, explica o professor.
Ele ainda comenta sobre a importância para a entrada de produtos de grande valor agregado. A rota faria com que os produtos que anteriormente entravam pelos portos do sul e sudeste e que tinham que passar por processos demorados para chegar ao estado, agora entrarão por aqui.
“Se lembrarmos que a China compra muita carne, por onde sai a nossa carne hoje? Pelo Sudeste, pelo Porto de Santos (SP), um trajeto distante. Se a gente pensar que esse produto poderá sair pelo Pacífico, há de se considerar um encurtamento do trajeto que pode chegar até 8 mil quilômetros, dependendo do país, com redução de 12 a 17 dias do percurso total de uma viagem”, argumenta.
Infraestrutura local
O professor Francisco Bayardo ainda fala sobre a necessidade de investir na infraestrutura de serviços na região de Porto Murtinho. A cidade pantaneira seria a porta de entrada para os caminhoneiros que viriam do exterior.
Com apenas 17 mil habitantes, Murtinho requer investimentos em postos de gasolina, hotelaria, restaurantes, estrutura básica para que o viajante possa tomar banho, descansar e até mesmo fazer reparos mecânicos caso precise.
“Porto Murtinho é a última fronteira em direção ao Chile, ou a porta de entrada caso o sentido seja contrário. Ter essa infraestrutura necessária para movimentação de cargas, uma estação de triagem para receber quantidade considerável caminhões visando portos em andamento e os que serão criados é fundamental”, analisa o professor.
Conforme dados da assessoria logística da Semagro, a capacidade do porto de Corumbá e dos portos de Porto Murtinho está em torno de 3% da capacidade de exportação de Mato Grosso do Sul. Com a inauguração de outros 3 ou 4 portos, essa capacidade deve chegar a 10% do que é exportado pelo Estado.
Outra cidade que seria considerada fundamental é Campo Grande. Com a implantação do porto seco a Capital “torna um protagonista dentro do processo, trazendo para cá empresas que queiram trabalhar com movimentação de mercadorias, desembaraço de importações, então os produtos entram como pelo país a partir de Campo Grande”, explica o professor Bayardo.
A rota demora para entrar em funcionamento porque a ponte que liga Mato Grosso do Sul ao Paraguai, tem previsão de ser inaugura em 2023. Para ele, é difícil prever o impacto econômico em números. “Vamos experimentar o processo”, finaliza.
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