quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

ESTREIA–Chegada da maturidade marca drama “A Cidade Onde Envelheço”


Vencedor de quatro prêmios no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro 2016 --melhor filme, direção, atrizes e ator coadjuvante--, o longa mineiro “A Cidade Onde Envelheço”, primeira ficção da documentarista Marília Rocha (“Aboio”, “A falta que me faz”), retrata a amizade entre duas jovens portuguesas, Francisca Manuel e Elizabeth Francisca, em Belo Horizonte. A primeira mora ali há alguns anos e recebe a amiga de infância, vindo agora de Portugal.

Marília nunca se desprende de sua raiz documental, contando com duas atrizes sem experiência anterior e alimentando seu roteiro (assinado também por Thais Fujinaga e João Dumans) de uma fluidez intencional, nutrindo-se da verdade das próprias personagens.

Francisca Manuel, aliás, morou mesmo alguns anos em Belo Horizonte. Ambas as atrizes tiveram acesso ao roteiro mas ele nunca pesou em suas mãos como uma diretriz rígida. A direção preferiu sempre que elas compreendessem as cenas e improvisassem, criando a linha de condução à medida que o filme ocorria.

Por conta disso, nasceram momentos de humor, como uma cena em que as duas, à procura de um novo apartamento, discutem defeitos no azulejamento. Igualmente percorrem o filme alguns homens com quem as duas se relacionam, caso de um namorado de Francisca, Leandro (Paulo Nazareth), e outra figura mais constante, Neguinho (Wederson Neguinho, premiado em Brasília), colega de trabalho da mesma moça num restaurante.

O centro da história é o contraste entre as duas vontades: Francisca cansou-se da cidade e quer voltar a Lisboa, enquanto Elizabete está chegando com entusiasmo e fome do novo país. Isto cria atritos, compartilhamento de sensações, melancolia, também pela iminência da chegada dos 30 anos e da maturidade na vida das duas. E disto o filme tira sua delicadeza, seu modo de existir.

(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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