quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

ESTREIA–Musical multipremiado, “La La Land – Cantando Estações” une fantasia e realismo

Desde sua estreia mundial, no Festival de Veneza 2016, “La La Land – Cantando Estações”, de Damien Chazelle, vem despertando paixões, conquistando prêmios e garantindo a ressurreição – ainda que momentânea – do gênero musical, no maior fenômeno recente nesta linha desde “Chicago” (2002).

Se “La La Land...” vai repetir ou não, como se espera, a façanha de “Chicago” no Oscar (levou 6 em 2003), ainda não se sabe. Mas é fato que vem acumulando musculatura para isso, saindo do Festival de Veneza com o prêmio de melhor atriz para Emma Stone, vencendo o principal prêmio em Toronto, o de melhor longa do festival para o público, e ainda arrebatando notáveis 7 Globos de Ouro neste início de 2017: melhor filme (comédia/musical), ator (Ryan Gosling), atriz (Emma), direção, roteiro, canção original e trilha sonora.

Nada mau para um diretor como Chazelle, completando 32 anos em 19 de janeiro e finalizando aqui seu terceiro longa e o terceiro também a relacionar-se com música. Seu filme anterior, “Whiplash – em busca da perfeição” (2014), retratou um jovem baterista (Miles Teler) atormentado pelas exigências de um professor sádico (J.K. Simmons, vencedor do Oscar de melhor coadjuvante).

Recorrendo, mais uma vez, à parceria com seu colega de faculdade Justin Hurwitz – autor dos números musicais do novo longa -, Chazelle arrebata o público desde a primeira sequência, mostrando diversos jovens saindo de carros presos num congestionamento para cantar e dançar por cima deles, num viaduto de Los Angeles. Neste cenário inusitado, cria-se o clima para contar a história de dois sonhadores que estão parados ali – Sebastian (Gosling), um pianista de jazz que planeja abrir seu próprio clube noturno, e Mia (Emma), garçonete e aspirante a atriz.

O primeiro encontro dos dois não é nada promissor – ele buzina, ela se enfurece. Nada demais numa narrativa marcada de um romantismo encharcado de realidade, retratando dois protagonistas bem comuns em Los Angeles, cenário de eterna construção e destruição de inúmeros projetos de gente vinda de todos os lugares.

Como se pode imaginar, os dois vão se reencontrar. Na segunda vez, num restaurante, onde Seb toca músicas cafonas para clientes completamente distraídos e, novamente, não dá atenção a Mia, que entrou para ouvir. Só na terceira vez, quando um novo acaso os reúne numa festa numa mansão, onde ele foi tocar com um grupo pop e ela acompanhou amigas em busca de contatos, é que finalmente têm uma chance de conversar. E se aproximar, dançando juntos pela primeira vez numa sequência de rua bela e divertida.

O que torna “La La Land...” atraente a plateias contemporâneas é justamente este pé no realismo que se mantém mesmo quando seus protagonistas embarcam na música, em situações que tocam a fantasia. E o fato de que os dois são competentes no canto e dança, embora nunca prodígios como Gene Kelly, Fred Astaire ou Cyd Charisse – que o filme também homenageia em algumas sequências – é prova do seu engajamento na direção certa, que não dispensa o humor.

As homenagens disparam em várias direções. Já amigos, Seb e Mia vão assistir “Juventude Transviada”, de Nicholas Ray, num velho cinema. E, passo seguinte, visitam o mítico Observatório Griffith, que aparece naquele filme, protagonizando uma dança mágica, que inclui voos num céu estrelado no planetário.

Nas filmagens, Chazelle praticou verdadeiros milagres para conseguir fazer algumas cenas nos locais onde pretendia. Foi o caso de uma sequência no funicular Angel Flight, que estava fechado há três anos, e que o diretor conseguiu fazer reabrir um único dia, para que filmasse um momento de entusiasmo romântico de Seb e Mia.

Se uma crise do casal está prevista, dentro de uma história que não despreza a necessidade de conciliação dos sonhos com a sobrevivência material, uma síntese da grandeza de que o cinema é capaz está reservada para a belíssima sequência final – cujos detalhes é melhor o espectador descobrir só durante a projeção.

Aí, Chazelle mostra ter-se preparado muito e anuncia sua disposição de pertencer a uma grande linhagem de diretores e associar-se ao que de melhor o cinema já colocou na tela.

(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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