sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Tabu nas telas: conto de fadas com pais divorciados é tema de nova animação de diretora de 'Shrek'

 

                                            Cena de 'Enfeitiçados' — Foto: Divulgação


Poucos filmes infantis abordam a separação dos pais. Filmes de atuação como “Operação cupido” ou “Uma babá quase perfeita” usaram o tema para criar enredos engraçados, mas na animação, o divórcio tem sido um assunto vetado.


— Não é uma coisa engraçada (...) Você pode matar um pai em um filme, como em "O Rei Leão" ou "Bambi" — disse Vicky Jenson, codiretora de "Shrek". — As mães da Disney sempre morrem. E se alguém se casa novamente, é porque ficou viúvo. A questão da separação, de os pais não poderem mais viver juntos, é um tabu.


Mas seu novo filme, “Enfeitiçados”, mostra os pais de uma princesa que foram transformados em monstros reais por um feitiço maligno. É um recurso alegórico que leva a jovem Ellian a tentar “consertar” sua mãe e seu pai, sua família desestruturada.


— Encontramos certa resistência quando procuramos alguém para nos ajudar a apresentar o filme a um parceiro para distribuição — disse Jenson à AFP. — Todos reagiram da mesma forma: "Que filme legal, que mensagem maravilhosa". E depois não nos responderam mais!


“Enfeitiçados” passou por vários estúdios, incluindo Paramount e Apple TV+, até chegar à Netflix, em cuja plataforma estará finalmente disponível a partir desta sexta-feira.


— Eu dou crédito à Netflix por ser corajosa e fazer parceria conosco — disse Jenson, que acredita que os outros distribuidores simplesmente não imaginavam como poderiam promover o filme. — Nesse ambiente, parece que as histórias que desafiam os limites são mais acessíveis no streaming. Os cinemas estão cheios de super-heróis.... Eles estão jogando pelo seguro.


'Monstros'

No início do filme, a tenaz princesa adolescente Ellian (dublada por Rachel Zegler) busca desesperadamente uma cura para o misterioso feitiço que transformou seus pais, a rainha Ellsmere (Nicole Kidman) e o rei Solon (Javier Bardem).


Para dificultar ainda mais, ela precisa manter o segredo, sem o conhecimento de seus súditos no reino de Lumbria. Quando a verdade é descoberta, o pânico toma conta do reino, forçando Ellian a embarcar em uma perigosa busca pelo feitiço. Mas, mesmo que consiga, ela logo percebe que sua família nunca mais será a mesma.


Para dar veracidade à reação da princesa ao fato de seus pais se tornarem monstros, os cineastas trabalharam com a orientação de um psicólogo e terapeuta familiar especializado em divórcio.


— As crianças acham que é responsabilidade delas consertar a situação. Elas não entendem que algo aconteceu com seus pais e que eles estão agindo como monstros — explicou Jenson.


A diretora, o elenco e a equipe também deram seu toque pessoal ao filme “porque todos nós sabemos que nossos pais são monstros em algum momento, e nós, como pais, somos monstros em algum momento”, brincou ela.


'Um novo conto de fadas'

O resultado é uma parábola contemporânea ambientada em um reino mágico de contos de fadas. Enfeitiçados” tem algumas reminiscências de "Shrek", a bem-sucedida estreia de Jenson na direção, mas com causas e efeitos opostos.


— "Shrek" foi uma versão moderna dos contos de fadas. Esse é um conto de fadas sobre uma história moderna — disse ela.


Para ela e os cineastas, incluindo o lendário compositor Alan Menken (“A Pequena Sereia” e “A Bela e a Fera”, entre outros), era importante levar essa “verdade sobre a vida familiar” para a tela.


— É algo que acontece com muitos de nós, mas até agora não foi abordado como um mito ou como um novo conto de fadas — disse Jenson. — Agora, um novo conto de fadas está disponível para contar essa experiência que tantas crianças, pais e famílias precisam superar.


Por Andrew Marszal, AFP

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