O movimento de boicote ao Carrefour no Brasil continua ganhando força. Edson Pinto, diretor-executivo da Federação de Hotéis, Bares e Restaurantes do Estado de São Paulo (Fhoresp), afirmou que seus associados começaram a aderir à paralisação de compras na rede.
— Estão começando a aderir. Somos 500 mil empresas apenas no estado de São Paulo. Outras entidades, como no Paraná, aderiram. Monitoramos todos os comentários nas redes sociais e nas mídias, e 98% dos comentários são favoráveis à nossa ação e afirmam que vão aderir também — disse Pinto.
Na sexta-feira, a associação convocou todos a deixarem de comprar nas redes Carrefour, Atacadão e Sam's Club, do Grupo Carrefour. "Solicitamos o engajamento e a adesão a esta campanha de boicote, mostrando a força e a união do nosso setor em defesa da economia nacional e do respeito aos nossos produtos”, diz a nota da Fhoresp.
Enquanto isso, frigoríficos como JBS, Marfrig e Masterboi também interromperam a venda de carne na última quinta-feira. Oficialmente, as empresas não comentaram o caso.
A Abrasel, que reúne bares e restaurantes, também está organizando uma articulação de grande abrangência, com impacto direto no setor, segundo fontes.
Em nota, o Grupo Carrefour Brasil afirmou lamentar "profundamente a atual situação" e reafirmou a estima e confiança no setor agropecuário brasileiro. "Infelizmente, a decisão pela suspensão do fornecimento de carne impacta nossos clientes, especialmente aqueles que confiam em nós para abastecer suas casas com produtos de qualidade e responsabilidade", declarou a rede.
O Carrefour informou estar em "diálogo constante na busca de soluções que viabilizem a retomada do abastecimento de carne em nossas lojas o mais rápido possível, respeitando os compromissos que temos com nossos mais de 130 mil colaboradores e com milhões de clientes em todo o Brasil". Afirmou ainda que seguirá "trabalhando para resolver essa situação da melhor forma possível, sempre com o objetivo de atender com qualidade e excelência aos nossos clientes".
Nesta terça-feira, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) vai se reunir com outras instituições, como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e a Sociedade Rural Brasileira (SRB), entre outras, para avaliar novas medidas em relação ao Carrefour.
No último sábado, as entidades publicaram uma carta aberta em protesto. "Se uma carne brasileira não serve para abastecer o Carrefour na França, é difícil entender como ela poderia ser considerada adequada para abastecer qualquer outro mercado. Afinal, se o Brasil, com suas práticas sustentáveis, sua legislação ambiental rigorosa e sua vasta área de preservação, não atenderia aos critérios do Carrefour para o mercado francês, então, provavelmente, não atenderia aos critérios de nenhum outro país", afirmaram.
Sem falta de produto
Na cidade do Rio de Janeiro, as lojas do Carrefour ainda não demonstraram o impacto do corte de fornecimento de carne bovina dos frigoríficos JBS, Marfrig e Masterboi. A Friboi — marca de carnes bovinas da JBS — é responsável por 80% do volume da carne fornecido ao grupo francês, enquanto no Atacadão, rede que pertence ao Carrefour, essa participação chega a 100%.
Segundo levantamento do GLOBO, as lojas nos bairros de Duque de Caxias, Campo Grande, Tijuca e Cachambi ainda tinham prateleiras ainda estavam cheias de carnes das marcas nesta segunda-feira. O abastecimento das carnes da JBS, por exemplo, que conta com as linhas Friboi, Maturatta e Bourbon, eram 100% das carnes que estavam nos freezers da rede Atacadão. Nessa rede, as carnes Marfrig e Masterboi quase não foram encontradas.
Em um Atacadão que fica no bairro de Guadalupe, Zona Norte do Rio, um funcionário da Friboi, que colocava as carnes em uma prateleira chegou a dizer que o abastecimento das carnes tanto no Carrefour como no Atacadão não sofreu alterações e nem foi reduzido.
— Eu acho que é apenas uma pressão que estão querendo colocar. Porque se eles pararem de vender para o Atacadão, por exemplo, não sobra nada. Aqui 100% das carnes são da JBS e o abastecimento continua igual ao do mês passado — disse o funcionário.
Entenda a crise:
O impasse é motivado por conta de um possível acordo entre União Europeia e Mercosul, previsto para acontecer até o fim deste ano, o que vem gerando manifestações na França por agricultores.
Durante o G20, no Rio, o presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que o país "não está isolado" em sua oposição ao estado atual do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, cuja negociação começou em 1999. Empresários europeus temem a concorrência com produtos agrícolas do Brasil e da Argentina, principalmente.
Macron é apontado como o principal obstáculo para o avanço do acordo. Durante o encontro no Rio, a Itália manifestou apoio à posição do presidente francês.
No entanto, a Comissão Europeia, com o apoio de vários países importantes do bloco, como Alemanha e Espanha, é favorável ao fechamento do acordo de livre-comércio com o Mercosul antes do fim deste ano.
Se a Comissão Europeia levar o tratado adiante sem o consenso francês, Macron precisará do apoio de outros países para bloquear a aprovação, formando a chamada "minoria de bloqueio", que exige ao menos quatro dos 27 países da UE, desde que a aprovação fique abaixo de 65% dos integrantes.
Por
Bruno Rosae
Anna Bustamente*
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