Durante a guerra civil em Moçambique (1976-1992), exércitos caçaram elefantes até quase a extinção para coletar presas de marfim. Estudo mostra que a proporção de animais sem presas nascidos durante e após a guerra aumentou dramaticamente
Por JORNAL DO BRASIL
Os elefantes africanos evoluíram para deixar de desenvolver presas em uma área onde eram intensamente caçados por marfim, descobriu um estudo sobre as características e a genética desses animais em Moçambique. Os resultados, publicados na revista científica Science na sexta-feira (21), podem ter implicações para a recuperação das populações de elefantes no país africano.
O comércio de marfim foi usado para financiar a guerra civil em Moçambique do final dos anos 1970 ao início dos anos 1990. A caça furtiva fez com que a população de elefantes no país caísse em mais de 90%, de mais de 2.500 animais para cerca de 200 no início dos anos 2000.
As fêmeas que sobreviveram simplesmente deixaram de criar presas, e essa característica genética foi passada de geração para geração. Antes dos conflitos, o cientista estima, apenas menos que um quinto dos elefantes não produziam a ferramenta, conta o biólogo Shane Campbell-Staton, principal autora do artigo, citada pela Nature.
"Os anos de incerteza armada mudaram a trajetória da evolução daquela população", disse o biólogo. Entre 1977 e 2004, a proporção de fêmeas sem presas saltou de 18,5% para 33%.
Característica letal para homens
Os pesquisadores ficaram intrigados: por qual razão a ausência de presas era uma característica limitada às fêmeas?
Mesmo em áreas com grandes populações de elefantes africanos, existem raros machos sem presas. Esse padrão sugere uma origem genética para a ausência de presas que está ligada ao sexo do elefante.
Depois de sequenciar os genomas de fêmeas com presas e sem presas, os pesquisadores identificaram um gene dominante que poderia ser responsável pela ausência de presas: Amelx.
O Amelx é transmitido de mães para filhos no cromossomo X. Os humanos também têm o gene. Se um homem herda um gene AMELX interrompido em seu cromossomo X, ele geralmente morre.
Os autores do estudo acham que poderia ser o mesmo com os elefantes africanos: se um elefante macho herda um gene Amelx interrompido, ele morre; mas o gene mutado resultaria apenas em ausência de presas em uma fêmea de elefante.
Embora a guerra civil de Moçambique tenha acabado há quase 30 anos, pode demorar um século para que a proporção de fêmeas sem presas volte aos níveis anteriores à guerra.
"Provavelmente levará cinco, seis ou sete gerações para voltar aos 2% que você esperaria sem qualquer pressão de caça", comenta Campbell-Staton. (com agência Sputnik Brasil)
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