quinta-feira, 22 de abril de 2021

Transgênicos, agroquímicos e negacionismo científico

 


"Estão endossando o mesmo pensamento conspiratório que alertam o público para evitar"
Por:  -Leonardo Gottems


Tornou-se comum ver na cobertura midiática da pandemia de COVID-19 uma posição de fiscalização e crítica sobre o que é qualificado como “negacionismo” da ciência. O que vem chamando a atenção de cientistas é que essa mesma posição de defesa da ciência não é adotada pelos críticos em relação à biotecnologia e química na produção agrícola.



“Quando os principais meios de comunicação alegam que a indústria e os reguladores encobrem os perigos da exposição a produtos químicos, ou da pecuária, eles estão endossando o mesmo pensamento conspiratório que alertam o público para evitar quando se trata do coronavírus. O resultado previsível é uma maior desconfiança da ciência e da mídia”, denuncia Cameron J. English, diretor de biociências do Conselho Americano de Ciência e Saúde.


A afirmação está em seu artigo “‘Ceticismo seletivo’ e hipocrisia da mídia: por que os sites de notícias liberais estão vigilantes em desafiar a desinformação sobre COVID-19, mas dão passe livre aos anti-biotecnologia e aos terroristas anti-agroquímicos?, publicado no site do Conselho. 


“Nos últimos meses, a grande imprensa tem feito uma ‘cruzada’ contra o ceticismo diante das vacinas contra a COVID-19, promovendo tenazmente a medicina baseada na ciência e expressando pouca tolerância por qualquer pessoa que tenha uma opinião contrária”, relembra 


No entanto, destaca ele, “esses mesmos meios de comunicação continuam a mostrar nenhum interesse em relatar todos os fatos quando se trata de outras questões científicas críticas. Isso é imperdoável por duas razões. Como a imprensa adquiriu o hábito de dar palestras agudas sobre ‘seguir a ciência’, eles precisam praticar consistentemente o que pregam”, questiona ele.


“As pessoas tendem a escolher a dedo a ciência que adotam, geralmente de acordo com linhas políticas. O duplo padrão da mídia legitima essa abordagem partidária da ciência, dando aos formuladores de políticas e ao público uma desculpa para ignorar as evidências que consideram inconvenientes”, alerta o cientista.


O especialista cita o site “Debunking Denialism”, ou “Desmascarando o Negacionismo”, segundo o qual a mídia muitas vezes adota o “ceticismo seletivo”. “Há uma tradição entre os jornalistas de enfrentar o governo, as empresas e outras autoridades que eles examinam criticamente. No entanto, isso às vezes pode levar ao ceticismo seletivo, pois as alegações que vão contra as crenças de alguns jornalistas científicos são recebidas com ceticismo extremo, enquanto as informações que apelam às crenças existentes são aceitas com muito menos ceticismo”, denuncia.


“Nós vemos isso o tempo todo. O Washington Post publicou apenas alguns dias atrás um artigo das proeminentes céticos sobre vacinas Stephanie Seneff e Jennifer Margulis, no qual alegavam que o herbicida glifosato estava matando os peixes-boi da Flórida. É o mesmo Seneff que culpou o glifosato pela pandemia de COVID-19. Seneff também previu que 50% das crianças americanas seriam autistas em 2025, graças à exposição ao glifosato”, lembra Cameron English.


“Ativistas anticientíficos geralmente não lutam por um único tema. Muitos dos mesmos defensores da ‘liberdade de saúde’ que negam os benefícios dos pesticidas e vacinas também promovem tratamentos médicos falsos. O profundo ceticismo de todo o ‘establishment’ científico está embutido em sua visão de mundo”, conclui.

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